À semelhança dos anos anteriores, a falta de professores foi a situação mais complexa que as escolas tiveram de enfrentar ao longo do ano letivo, apesar da implementação do Plano “+ Aulas + Sucesso” por parte do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), com várias medidas para combater o problema. Para a Fenprof, o plano não foi eficaz e avança com números para justificar a sua posição: “Relativamente à estimativa elaborada para o terceiro período, tomando por indicador o somatório das ofertas de escola existentes nas primeiras três semanas completas do mês de maio, verifica-se que o número de alunos afetados no presente ano (85.250 alunos) é superior ao verificado no ano transato (80.550 alunos). Esta constatação é igualmente verificada nos dados finais do primeiro e segundo períodos.”Por isso, afirma a plataforma sindical no seu site oficial, “é notório, para a Fenprof, que as medidas tomadas ao longo do ano letivo foram incapazes de dar a resposta necessária para resolver a situação problemática resultante da falta de professores”. “A estimativa feita pela Fenprof aponta para uma média semanal de 30 mil alunos, a quem tem faltado, pelo menos, um professor.O DN contactou o MECI, pedindo um esclarecimento sobre o número de alunos sem professor e a data da divulgação da auditoria externa ao número de alunos sem aulas. Questionamos ainda se as medidas implementadas este ano letivo se iriam manter, mas até à hora do fecho desta edição, não obtivemos resposta.“Ano letivo decorreu ensombrado pelas consequências da escassez de docentes”Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) também destaca a falta de professores como o principal problema deste ano e afirma que “o ano letivo decorreu ensombrado pelas consequências da escassez de docentes, fenómeno localizado maioritariamente nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve”. Uma situação, diz, “com prejuízo para alguns alunos de determinadas escolas e em certas disciplinas, violando desde logo o princípio da equidade, muitas vezes partindo em pé de desigualdade para as provas finais e exames do Secundário”.Recorde-se que o ano letivo já terminou para todos os alunos, à exceção do 1.º Ciclo, estando a decorrer a avaliação externa do 9.º ano e do Ensino Secundário.O presidente da ANDAEP faz ainda um alerta, destacando a generalização da falta de docentes a todo o país, como o Norte e Centro. Uma realidade que esteve na origem das grandes dificuldades que as escolas tiveram “aquando das substituições que acontecem cada vez mais”.Filinto Lima prevê uma situação “mais gravosa no próximo ano”. O DN já deu conta, na semana passada, do número reduzido de professores ainda por colocar para suprir essas necessidades temporárias. Há 20.060 docentes con- tratados para colocar ao longo do próximo ano letivo. Trata-se do número mais baixo de sempre.Este ano letivo ficou ainda marcado por um novo modelo de avaliação externa, em substituição das provas de aferição. Segundo Filinto Lima, a aplicação das provas ModA no 4.º e 6.º anos de escolaridade, “globalmente, decorreu muito bem, pois as escolas tudo fizeram para ultrapassar os constrangimentos surgidos, proporcionando aos alunos as melhores condições de trabalho e de realização destas provas”. Contudo, o representante dos diretores escolares posiciona-se contra a sua aplicação no 1.º ciclo, entendendo ser “precoce, quer no 2.º ano (provas de aferição), quer no 4.º ano (provas ModA), pois perde-se uma oportunidade de ouro para os alunos reforçarem a aprendizagem das primeiras letras, aperfeiçoarem a sua caligrafia”. Nesse sentido, defende ser importante um entendimento entre os partidos de forma a “consensualizarem nos anos de escolaridade em que as provas são aplicadas, necessitando de um pacto na Educação”..617 mil alunos do 4.º e 6.º anos realizaram provas ModA. As provas finais de 9.º ano, de Matemática e Português não são uma novidade, mas este ano estão a ser aplicadas em formato totalmente digital. Questionado pelo DN sobre as condições de rede de internet nas escolas, algo anteriormente apontado como um problema, o presidente da ANDAEP afirma que “as escolas estão muito melhor apetrechadas que no ano anterior”, embora seja necessário “reforçar a rede Wi-Fi das escolas, aumentando a fiabilidade desejada para o bom desempenho dos alunos e colaborar com o trabalho dos professores”..Falhas na plataforma digital dificultaram prova final de Matemática do 9.º ano. Da lista das necessidades das escolas e do que ainda há a fazer, Filinto Lima recorda estarem sinalizados muitos estabelecimentos a precisarem de obras urgentes “sendo imperioso que as mesmas avancem, pois é inadmissível a bipolaridade de condições de trabalho de alunos e professores, que interferem, em certa medida, no desenrolar do processo ensino-aprendizagem, com prejuízo de uns em detrimento de outros”.Este ano letivo registaram-se dezenas de greves de pessoal não-docente, mas o presidente da ANDAEP garante não terem prejudicado os estudantes. “O impacto das greves, depende do grau de adesão dos profissionais, do uso de um direito previsto constitucionalmente. Parece-me que o impacto foi escasso, e não prejudicou as aprendizagens dos alunos. As greves devem ser entendidas a quem se dirige, o que não aconteceu”, justifica.Filinto Lima antevê os mesmos problemas no ano letivo 2025-2026, com muitos constrangimentos devido à falta de professores e reitera a necessidade da implementação de mais medidas, como um apoio à estadia para docentes deslocados e mais medidas de valorização da carreira. .Nunca houve um número tão baixo de professores para cumprir substituições