Um dos momentos de agressão.
Um dos momentos de agressão.Foto: Leonardo Negrão

Largo de São Domingos passou do clima de confronto para o de 25 de Abril após saída de manifestantes

Após as detenções de Mário Machado e Rui Fonseca e Castro, apoiantes foram até a esquadra de Moscavide prestar apoio aos detidos. Clima no largo pacificou-se.
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Às 18:00 em ponto, no Largo São Domingos, começou a tocar numa coluna de som a música É preciso dar um jeito meu amigo, uma dos temas do filme Ainda Estou Aqui, vencedor dos Óscares e que retratou a ditadura brasileira. Crianças, jovens, adultos e idosos abraçados entoavam a canção e erguiam cravos após descer a Avenida da Liberdade neste 25 de Abril. O local não parecia o mesmo de algumas poucas horas antes, quando o largo foi palco de vários confrontos por grupos de extrema-direita, que culminou com feridos e dois detidos: o neonazi Mário Machado e o ex-juiz negacionista Rui Fonseca e Castro, atual presidente do partido Ergue-te (antigo PNR).

A confusão começou logo após às 15:00, quando apoiantes do ex-juiz chegaram ao Largo de São Domingos. O sítio foi escolhido após a praça do Martim Moniz ser encerrada pela Polícia de Segurança Pública (PSP) - era o local em que, inicialmente, iriam realizar um ato nacionalista contra os moradores muçulmanos da zona, com um porco no espeto e bebidas.

A manifestação do partido recebeu parecer negativo da PSP e da Câmara Municipal de Lisboa, que seguiu a recomendação das autoridades policiais. A PSP considerou que havia risco de violência, após análise realizada “com uma forte recolha de informação”.

O grupo não obedeceu e manteve a manifestação, com pessoas vindas de várias zonas do país. No largo, recusaram a ordem da PSP no local para desmobilizar. Castro foi informado pelo comandante da polícia que poderia ser preso por desobediência, caso não acatasse a ordem da força policial. “Só sairei daqui algemado”, disse Rui Fonseca e Castro para as câmeras de televisão. Foi o aconteceu.

Momento da detenção.
Momento da detenção.Leonardo Negrão

Os ânimos seguiram acirrados, com apoiantes do líder partidário a insultar os polícias. Foram chamados de “traidores”, entre outros insultos raivosos - até uma cadeira foi atirada contra a intervenção rápida. Novamente, o comandante pediu ao “número 2” do grupo, Djalme Santos, para que desmobilizassem. A “trégua” durou pouco.

Com a chegada de Mário Machado e integrantes do grupo 1143, bem como de manifestantes antifascistas do outro lado da rua, as trocas de insultos ganharam força. Enquanto o 1143 gritava “Salazar, Salazar”, o outro grupo respondia com “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”. Um dos manifestantes atacou com socos pelas costas dois jovens antifascistas, o que originou agressões entre os grupos. Tudo foi filmado pelos vários jornalistas que ali estavam, com vários canais em direto. Os polícias intervieram e formaram cordões para separar os grupos.

Mário Machado a ser detido pelos polícias na sequência de desacatos e ameaças.
Mário Machado a ser detido pelos polícias na sequência de desacatos e ameaças.Amanda Lima

Mário Machado, que está por cumprir uma pena de prisão efetiva da qual já não cabe recurso, também insultou uma jornalista de um canal de TV que estava a trabalhar. Ao desobedecer a ordem policial, foi detido e levado pelos polícias. Um repórter de imagem de TV foi atingido por gás pimenta por um dos manifestantes do grupo do neo-nazi. Um cidadão que passava pelo local na hora da confusão foi atingido no olho e ficou ferido. Ambos foram socorridos por profissionais do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) em apoio à PSP. Dois polícias ainda ficaram feridos.

Aos poucos, os ânimos acalmaram-se. Os apoiantes de Machado e do ex-juiz rumaram para a esquadra de Moscavide para prestar apoio aos detidos. No canal oficial de Rui Fonseca e Castro foi deixada uma mensagem de ameaça e apelo ao voto. "Por vezes o povo precisa de ver exemplos de verdadeiro heroísmo e coragem. Acabaram de abrir a caixa de pandora. A revolução nacionalista começou hoje, 25 de abril de 2025, o dia da ignomínia. Os GFDP do ROS vão pagar pelo que fizeram hoje. Vota Ergue-te pela verdade".

Um dos momentos de agressão.
"Só sairei daqui algemado". Rui Fonseca e Castro, líder do Ergue-te, detido após manter manifestação ilegal

A PSP informou ao DN que emitirá um comunicado sobre as detenções.

O clima de confronto passou ao normal do 25 de Abril, com as pessoas a festejar a democracia, enquanto milhares continuaram a descer a avenida da Liberdade.

Atualização às 21:00:

Em comunicado, a PSP explicou que ambos os detidos foram "notificados para se apresentarem voluntariamente junto da Autoridade Judiciária competente, pelas 10h00 da próxima segunda-feira, no Campus da Justiça, em Lisboa". Além de Mário Machado e Rui da Fonseca e Castro, outro apoiante foi detido por resistência e coação.

Quatro homens "que integravam a manifestação promovida e não autorizada no Largo de São Domingos" foram identificados "por suspeita de envolvimento nos distúrbios". A força de segurança ainda lamentou que dois polícias ficaram feridos.

O Ministério da Administração Interna, em nota, também lamentou os confrontos no Rossio. "Infelizmente, regista-se que uma minoria terá ultrapassado os limites legais do exercício ordeiro da liberdade de manifestação e expressão, o que levou à intervenção da Polícia para repor a ordem pública e legalidade, como é seu dever, e como tem feito em outras ocasiões, independentemente das motivações, ideologias, ou organizações subjacentes aos comportamentos desordeiros", lê-se.

O Governo ainda exprimiu "agradecimento e apoio às forças de segurança e a sua solidariedade aos dois agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) que foram agredidos no cumprimento da sua missão de defesa da segurança dos portugueses e da ordem pública".

amanda.lima@dn.pt

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