Enquanto cidadãos vão descer a Avenida da Liberdade para celebrar o fim da ditadura em Portugal, outros manifestantes vão contrariar o parecer negativo da da Polícia de Segurança Pública (PSP) e marcar posição perante a presença de imigrantes de religião muçulmana que vivem no Martim Moniz. Chamada de “Descer ao Califado”, a iniciativa é organizada pelo ex-juiz negacionista Rui da Fonseca e Castro, líder do Ergue-te (antigo PNR). Mesmo contra a determinação da força de segurança, que vê riscos na realização desta manifestação, bem como da Câmara Municipal de Lisboa, apoiantes de várias zonas do país estão confirmados no evento. A manifestação é apoiada pelo grupo 1143, do neo-nazi Mário Machado - que devia entregar-se à justiça para cumprir uma pena efetiva que já não é alvo de recurso . E que já confirmou presença no ato deste 25 de Abril.Em comunicado, a PSP justificou a decisão contrária “com o estrito objetivo de garantir a ordem e tranquilidade públicas”. É mencionado e sublinhado um decreto onde se lê que “a todos os cidadãos é garantido o livre exercício do direito de se reunirem pacificamente em lugares públicos, abertos ao público e particulares, independentemente de autorizações, para fins não contrários à lei, à moral, aos direitos das pessoas singulares ou coletivas e à ordem e à tranquilidade públicas”. Contactada pelo DN após a confirmação do grupo de que iriam avançar, a PSP remeteu a resposta ao parecer emitido anteriormente.O líder do Ergue-te alega que a iniciativa está dentro da campanha política destas legislativas. “Trata-se de um partido político a organizar um evento em causa, no âmbito da liberdade de ação e propaganda e no contexto de uma campanha eleitoral em curso. A celebração da Portugalidade não pode ser justificada como mensagem de ódio, na medida em que é justamente o inverso, pois celebra o amor pela Nação e pelo Povo Português”, lê-se em comunicado partilhado pelo ex-juiz, acompanhado de uma resposta atribuída à Comissão Nacional das Eleições (CNE).O programa do Ergue-te prevê “inverter os fluxos migratórios, dando início a deportações maciças”, “anular a “nacionalidade portuguesa que foi concedida a centenas de milhares de imigrantes ao abrigo da atual lei da nacionalidade e “considerar o Islão Persona non grata, proibir a construção de novas mesquitas e quaisquer manifestações públicas de islamismo, incluindo no trajar”. São várias as declarações públicas de Rui da Fonseca e Castro e seus apoiantes, como Mário Machado, contra a população muçulmana.O ato deste 25 de Abril está a ser organizado há vários meses. Autocarros gratuitos vão sair de várias zonas do país e garantem que a comida e bebida no local serão à vontade. A ementa escolhida, o porco no espeto, não é ao acaso: os cidadãos muçulmanos não comem carne suína.Este não é o primeiro protesto realizado por Rui da Fonseca e Castro no 25 de Abril, cuja data não reconhece. “Cumprir abril significa tornar o país mais pobre e os portugueses cada vez mais miseráveis”, alegou na manifestação realizada no mesmo dia em 2024. A bandeira anti-imigração já estava presente. “Se nada fizermos, Portugal e os portugueses afundar-se-ão e desaparecerão no pântano de gente extra-europeia que está a invadir Portugal. Temos que interromper imediatamente a favelização, a islamização e a indianização da Nação. Pela deportação e revogação da nacionalidade portuguesa”, lê-se num dos comunicados da manifestação do ano passado. Até então, o ato era organizado enquanto associação Habeas Corpus. Agora, é como partido político oficial. Assim como não se trata do primeiro ato do 25 de Abril com estas posições, não é a primeira vez que os imigrantes que residem no Martim Moniz são alvos. Em fevereiro de 2024, a PSP conseguiu travar um protesto do grupo 1143 no local, alterando o percurso para o Largo de Camões. Nos chats online em que trocam mensagens todos os dias no Telegram e Signal, os quais o DN teve acesso, os imigrantes são retratados de forma insultuosa e com recurso a jargão ofensivo.Outras ações contrárias a AbrilO 25 de Abril será ainda marcado por uma manifestação do grupo de extrema-direita Reconquista, outro que não reconhece a data. “A Reconquista exige uma verdadeira democracia que corresponda aos desejos de liberdade e segurança dos Portuguezes”, dizem. O grupo usa o “z” na palavra portugueses para diferenciar os que consideram portugueses de “verdade” e no “papel”. A ação será às 14:00, em Lisboa. Já a Ordem Identitária “não festeja o 25 de Abril, data da deteriorização de Portugal às mãos da elite parasitária”. O grupo planeia “entregar panfletos à população” e visitar o túmulo do ditador António Oliveira Salazar.amanda.lima@dn.pt.PSP dá parecer negativo à manifestação de extrema-direita no Martim Moniz. Líder do Ergue-te mantém intenção .PSP trava invasão de propriedade e discurso xenófobo de líder do grupo Reconquista no Martim Moniz