Isabel Soares: "Não faz sentido que as mulheres não estejam nos conselhos de administração"

Especialista em comunicação, Isabel Soares não compreende por que continua "metade da população mundial" afastada das posições de poder nas empresas. Paridade de género deve ser "ativo estratégico" nas organizações, defende.

"É verdade que já muito se fez em Portugal nos últimos anos, sobretudo com a introdução da Lei da Representação Equilibrada", aponta Isabel Soares ao DN a propósito do equilíbrio de géneros nas empresas. No entanto, a responsável de comunicação da Tabaqueira lamenta que, mesmo com a introdução de quotas, os dados apontem que serão necessárias várias décadas até que a paridade se verifique. "O Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) estima que a União Europeia está a 60 anos de atingir a igualdade de género. Ou seja, toda a vida ativa da minha filha será feita num contexto de desigualdade", concretiza.

Apesar dos obstáculos adicionais que, por vezes, diz ter sentido ao longo da carreira, especificamente por ser mulher, Isabel Soares tem um percurso profissional de sucesso. Passou brevemente pela área televisiva enquanto jornalista estagiária, antes mesmo de decidir dedicar-se à comunicação corporativa no BBVA, onde esteve pouco mais de um ano, e, mais tarde, na Apifarma - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica. Foi essa a sua casa durante mais de 17 anos até ingressar na Tabaqueira, onde ocupa a posição de Manager External Affairs desde 2021. "As organizações são ainda maioritariamente masculinas e na hora de escolherem entre um homem e uma mulher, escolhem maioritariamente o homem", observa. Além da discriminação que representam decisões como as que refere, não baseadas na meritocracia, significa "uma realidade dura" para as profissionais que sentem, diz, "que por mais e melhor que façamos", é mais difícil evoluir na carreira.

A verdade é que os números confirmam a perceção de Isabel Soares. O Índice de Igualdade de Género de 2021 mostra que Portugal ocupa o 13.º lugar no ranking europeu de representatividade de género nos conselhos de administração, dado que é, em parte, influenciado pela caracterização do tecido empresarial português - segundo a PORDATA, 99,9% das organizações são micro, pequenas e médias empresas. A diversidade - de género, étnica ou religiosa - deve ser vista pelos gestores como um "ativo estratégico" que "acrescenta valor", mas também que "impulsiona o compromisso dos colaboradores, aumenta a produtividade, estimula a criatividade e a inovação". Por isso, a responsável de comunicação da Tabaqueira diz que "não faz qualquer sentido que as mulheres não estejam devidamente representadas nos conselhos de administração". A resolução desta situação deve ser uma prioridade política, defende.

Porém, Isabel Soares acredita que todos os cidadãos têm um papel na mudança de paradigma e foi também por isso que decidiu participar na iniciativa Promova, da CIP e da Nova SBE. "A participação neste programa permitiu-me aprofundar o meu autoconhecimento, trabalhar as minhas competências pessoais, alargar a minha rede de contactos e desenvolver um plano de carreira individual", conta. A reflexão sobre o futuro e a definição de um propósito foram, partilha, "cruciais para ganhar mais consciência sobre o papel que ainda quero desempenhar na sociedade".

Às empresas atribui a responsabilidade de incluírem, nos seus planos estratégicos, a diversidade e a paridade, mas também de desconstruírem preconceitos culturais que impedem a mudança. "O sucesso destes planos passa por serem apoiados ao mais alto nível e por incluírem métricas de gestão", afirma, acrescentando que é preciso analisar a forma como são concretizadas as promoções profissionais, definidas as remunerações e as avaliações de desempenho. "Entendo ainda que caberá a cada uma de nós a escolha de não integrar organizações que não correspondam aos parâmetros de representatividade que queremos ver instituídos na sociedade portuguesa. É esta determinação e capacitação femininas que precisamos de ver refletidas na sociedade portuguesa", conclui.

Cultura inclusiva que premeia a excelência

Mais do que palavras, são os atos que marcam a diferença e que evidenciam o compromisso de cada organização com a paridade de género. Na Tabaqueira, que integra o grupo Philip Morris International (PMI), o equilíbrio entre géneros está assegurado mesmo nas posições de liderança - atualmente, 40% dos lugares de gestão são ocupados por mulheres. "[A empresa] reconhece a diversidade como fator distintivo da organização, em que a qualidade e a excelência das pessoas dependem de uma cultura inclusiva, onde a seleção é independente do género, etnia, religião ou idade", confirma Isabel Soares ao DN.

Já em 2019, a multinacional foi a primeira empresa portuguesa a ser certificada com um selo de igualdade salarial pela Equal-Salary Foundation, uma entidade independente que assegura que as organizações garantem remuneração igualitária entre homens e mulheres.

Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad

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