Qual é a mensagem da Igreja Evangélica para 2021? Neste ano queremos continuar a afirmar que o mais importante é termos como referência uma pessoa, que é a pessoa de Jesus Cristo. Queremos ser reconhecidos tal como os crentes, os cristãos. É isto que nós queremos, que o nosso viver seja mais reconhecido, não tanto pelos ritos, e por hábitos, mas por pessoas que seguem o exemplo de Cristo. Ou seja, que olham para Cristo como seu modelo de vida. Não temos de fazer o mesmo que ele, mas nas nossas diferentes profissões sermos exemplos de amor, de integridade e, por vezes, de denúncia daquilo que está mal na nossa sociedade, seja a corrupção, seja a mentira, seja o favorecimento ilícito, seja muita outra coisa que anda por aí... o tratar mal os pobres, o tratar mal os imigrantes que procuram solução para as suas vidas na nossa terra. Ter braços de acolhimento é uma mensagem cristã muito importante, que tantas vezes é esquecida. E nós entendemos que não nos pode distinguir a cor da pele, ou a nossa cultura, ou outra coisa qualquer, mas realmente recebermos porque somos criaturas que temos o espírito de Deus em nós, somos humanos, somos pessoas, e temos de olhar para um outro, aquele que está à nossa volta, ao nosso redor, como um irmão, e para o ajudar nas suas dificuldades..Como têm chegado às pessoas nestes tempos de confinamento? Acreditamos que a Igreja, acima de tudo, são relacionamentos. E nós temos percebido que através desta mudança que houve com os meios telemáticos - através da internet, do YouTube, do Zoom e de outras maneiras de comunicar - tem havido pessoas que entram em contacto connosco porque viram algo, porque chegaram até nós através desses meios e assistiram a algum culto que foi transmitido. Por outro lado, temos tido também a oportunidade de publicitar aquilo que fazemos, seja através das várias redes sociais, convidando amigos e conhecidos, porque fica tudo gravado no YouTube ou noutros meios. As pessoas podem ver a horas mais convenientes e não naquela hora fixa em que normalmente fazemos os cultos. Isso tem acontecido, pessoas que têm chegado até nós e ficado connosco. Ainda agora tivemos o exemplo de um casal jovem que chegou até nós através da internet..Amazonamazonhttps://d3vwjd61t0la3.cloudfront.net/2021/02/2_antoniocalaim_presidentealiancaevangelicaportuguesa_manter_fieis__20210219171028/hls/video.m3u8.Como é que se consegue manter os fiéis nestes tempos de pandemia? Não poderei ser arrogante e dizer que não perdemos ninguém, porque há pessoas, desde negacionistas e àquelas que estão muito revoltadas, que acabam por se enclausurar e desiludir. Há estes casos, sem dúvida alguma. Por isso há alguns que nós perdemos. Também há alguns que perdemos porque partiram, já morreram. Mas já houve nascimentos dentro da comunidade, dentro das famílias houve nascimentos. E temos tido pessoas que se agregaram connosco. Não estarei com a vã glória de que estamos a crescer nesta altura. Temos tido pessoas novas, mas também temos tido pessoas que acabam por ficar um pouco desesperadas com a situação e, mesmo com os apoios, se fecham em si próprias. Não são tantas, mas existem algumas..Que desafios a pandemia vos colocou enquanto igreja? O desafio tem de ser sempre o expressar o amor que nós recebemos da parte de Deus e que queremos para os outros. E este amor expressa-se através do serviço. Neste caso, temos os que vivem mais isolados, os que têm mais dificuldades com a sua locomoção e, devido às suas patologias, às suas situações particulares, temos de os servir. Ou seja, acompanhando-os, servindo-os, no sentido de se precisam de alguma coisa, e terem também alguém que os vá visitar através destes meios telemáticos, ou mesmo uma visita presencial, com os devidos distanciamentos, e que possam estar juntos a orar com eles. Isto continua a ser exercido, que é o que se chama o Ministério Pastoral de Visitação. Não é tão acentuado como antes, mas continua a ser exercido. Também na nossa rua e comunidade nós podemos fazê-lo. A nossa igreja aqui, a Igreja Evangélica de Sintra, acaba por ter uma outra maneira de expressar o seu serviço, porque temos uma associação que se chama Ser Alternativa, que é uma IPSS, e através desta associação temos os programas do rendimento social de inserção, temos o serviço de apoio domiciliário, temos o banco alimentar, e através desta expressão, desta associação, nós podemos servir a comunidade envolvente..Como é que se transmite esperança em tempos como este? Eu creio que tem de haver esperança porque há uma esperança que nós temos e que tem a ver com o Divino, com Deus fonte de vida. Ele é Todo-Poderoso, e se ele permitiu que uma calamidade, uma pandemia como esta sobreviesse sobre o mundo, nós temos de aproveitar esta oportunidade para levar, tal como em grandes epidemias e pandemias que ocorreram no passado, a expressão do amor de Cristo através de cuidados. Há esperança, no sentido em que nós percebemos que Deus tem dado também capacidade e ciência aos homens, por exemplo, na criação, como nunca foi visto num espaço tão curto, de uma vacina que está a ser administrada. E isto nós acreditamos que também tem a ver com o Divino. Ou seja, nós acreditamos que o nosso Deus é autor, consumador e criador e ele é criativo. E deu-nos a nós, quando colocou o seu espírito no homem, esta possibilidade de sermos também criativos, criar coisas. E, neste caso, a vacina não deixa de ser, de alguma forma, resultado desta criatividade, deste espírito criativo, que Deus tem colocado em nós. E depois temos tudo o mais, porque acreditamos que com os meios tecnológicos e mecânicos que estão à nossa volta nós podemos, seja através do oxigénio, das máquinas concentradoras de oxigénio - que aqui em Portugal estamos a dar oxigénio em muitos litros, ou em quilos, como quisermos usar - para ajudar as pessoas, os seus processos imunológicos poderem recuperar, nesse caso, estamos a falar dos hospitais, estamos a falar das unidades de cuidados intensivos. Ou seja, capacidade que Deus dá ao Homem de com a criatividade, e com a ciência, com as técnicas, colocando isto tudo ao serviço para que vidas sejam preservadas e que possam ser recuperadas e que as pessoas possam voltar às suas casas, às suas famílias, ainda que nalguns casos com sequelas, porque esta doença deixa algumas sequelas muito dramáticas..O número de pedidos de ajuda tem aumentado desde março? E que tipos de pedidos têm recebido? Sim, há mais pedidos do que havia antes. Mas estes pedidos são cíclicos, têm a ver com as crises económico-financeiras, por isso houve um aumento de pedidos. A própria igreja vai drenando também alguns dos seus poucos recursos para isto. Mas acima de tudo são as pessoas que nós temos para servir, e isto é o que é mais importante, é termos as nossas pessoas a servir através desta associação, e seja na rua onde vivemos, no bairro onde vivemos..Amazonamazonhttps://d3vwjd61t0la3.cloudfront.net/2021/02/3_antoniocalaim_presidentealiancaevangelicaportuguesa_igreja_pos_covid__20210219171449/hls/video.m3u8.Como será a relação com os fiéis num mundo pós-covid? As coisas vão voltar a ser o que eram? Eu diria que com o uso sistemático destes meios telemáticos nós vamos usá-los muito mais do que usávamos antes, porque vamos continuar a usá-los. Descobrimos que alguns tinham alguma resistência com o uso destes meios e nós percebemos que podemos ir mais longe através destes meios, por isso há aqui um desenvolvimento, há aqui alguma mudança. Por outro lado, estamos todos ansiosos por voltarmos, acima de tudo, à interação física. Eu continuo a dizer que esta expressão "distanciamento social" é um horror, ela devia ser usada como "distanciamento físico" e não "distanciamento social". Aliás o que está a acontecer com tudo isto, há aqui um grande perigo, especialmente com a escola, com as escolas fechadas, é que realmente as crianças mais pobres, as famílias mais pobres, não tenham a possibilidade aqui do elevador social, da ascensão social, porque realmente que possibilidades é que têm? São diferentes as possibilidades de um médico, um engenheiro ou uma jornalista dar aos seus filhos uma educação do que alguém que não tem essas possibilidades em casa, e não havendo escola as coisas ficarão muito mais limitadas. Ou seja, estamos todos ansiando para que tudo possa voltar a uma outra forma para que possamos estar juntos e possamos nos relacionar uns com os outros. Mas estou absolutamente crente e esperando, talvez não nestes próximos meses, três meses, quatro meses, que possamos estar nos cultos a abraçar, com este modo de expressão muito latino de nos tocarmos uns aos outros, de nos abraçarmos uns aos outros, de vermos não só os nossos olhos, mas também os nossos lábios e assim podermos expressar os nossos sentimentos e as nossas emoções. E termos também os convívios entre as famílias que todos nós gostamos e ansiamos por ter.. dnot@dn.pt