Gouveia e Melo rejeita antigo Serviço Militar Obrigatório e pede "nova resposta" consensual
ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Gouveia e Melo rejeita antigo Serviço Militar Obrigatório e pede "nova resposta" consensual

Chefe do Estado-Maior da Armada defende uma "nova resposta" consensual entre o poder político e a sociedade para mobilizar população em situações limite.
Publicado a
Atualizado a

O Chefe do Estado-Maior da Armada rejeitou esta quarta-feira modelos antigos do Serviço Militar Obrigatório, que vigorou até 2004, e defendeu uma "nova resposta" consensual entre o poder político e a sociedade para mobilizar população em situações limite.

"O modelo antigo [do Serviço Militar Obrigatório] é precisamente isso, o modelo antigo. Tem que se encontrar uma nova resposta. Isso não é algo que se encontre amanhã, tem que ser discutida, tem que ser uma resposta que o poder político aceite, que a população aceite, porque só todos nós em conjunto podemos dar uma resposta que seja uma resposta do próprio país", considerou o almirante Henrique Gouveia e Melo, em declarações aos jornalistas, na Base Naval de Lisboa, em Almada.

O almirante defendeu que, através do artigo de opinião que publicou no semanário Expresso no passado dia 28 de março, tentou "alertar para um perigo iminente".

"Todos nós sabemos, e julgo que é público, que há uma escassez de pessoal nas Forças Armadas e sobre isso nós temos que tentar resolver, não é com recrutamento obrigatório como se tem falado. Mas isso é um problema. Depois há outro problema que é a capacidade de mobilizarmos rapidamente a população para nos defendermos em caso de necessidade extrema", distinguiu.

Na opinião do chefe militar da Armada, "o poder político e os militares, no tempo certo, discutirão qual é a melhor forma de o fazer".

"Mas certamente haverá fórmulas, outros países já estão a testar novas fórmulas, portanto, é uma questão de tempo, inteligência e de vontade, essencialmente vontade, de resolver um problema que está às nossas portas", sublinhou.

Interrogado sobre se não se arrepende de ter levantado o tema do Serviço Militar Obrigatório (SMO), Gouveia e Melo respondeu: "Como militar não me arrependo de falar sobre os assuntos que implicam com a Defesa do país, da Europa, e com dois pilares essenciais que são a NATO, que é a nossa soberania, e a União Europeia, que é a nossa prosperidade. E isso hoje está tudo em jogo".

"No passado, se me perguntassem se eu concordava com o SMO quando as nossas ações eram mais expedicionárias e não havia uma guerra na Europa e uma guerra convencional, que é uma agressão violentíssima, eu diria que não. Por isso, temos que nos adaptar à realidade e a realidade é que há uma agressão na Europa que pode pôr em causa a nossa forma de estar como nós a concebemos hoje", acrescentou.

Na sexta-feira, num artigo no Expresso, o Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo, afirmou que pode vir a ser necessário "reequacionar o serviço militar obrigatório, ou outra variante mais adequada", de forma a "equilibrar o rácio despesa/resultados" e "gerar uma maior disponibilidade da população para a Defesa".

Esta posição foi também partilhada pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, Eduardo Ferrão, que, em declarações ao Expresso, defendeu que "uma reintrodução do serviço militar obrigatório justifica-se ser estudada e avaliada sob várias perspetivas".

O Serviço Militar Obrigatório terminou em 2004. O seu fim foi aprovado em 1999, por um executivo liderado pelo socialista António Guterres, ficando estabelecido um período de transição de quatro anos.


A passagem para a profissionalização ficou concluída em setembro de 2004, dois meses antes da data prevista, 19 de novembro, com o centrista Paulo Portas como ministro da Defesa.

CEMA alerta que Europa "não vive tempos normais" perante força de partida para a Lituânia

O chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) alertou esta quarta-feira que a Europa "não vive tempos normais"perante uma força de 146 fuzileiros que partem na quinta-feira para a Lituânia no âmbito de uma missão da NATO.

"Engane-se quem julga que vivemos tempos normais, nós não vivemos tempos normais. A Europa não vive tempos normais", avisou o almirante Henrique Gouveia e Melo na cerimónia de despedida da força de fuzileiros que vai participar numa missão de dissuasão da Aliança Atlântica na Lituânia, país que faz fronteira com o enclave da Federação Russa, Kaliningrado.

Segundo o CEMA, existe um "perigo iminente sob o nosso modo de vida, do Estado de Direito baseado em regras e liberdades individuais, do estado democrático e de um modo de vida ocidental".

"O que vocês vão fazer é reafirmar a vontade de Portugal e dos europeus de não se deixarem vencer, de não serem pura e simplesmente gente amorfa em que um agressor nos possa vir impor as suas ideias, a sua autocracia, a sua ditadura e a sua violência", defendeu.

Na sua intervenção, Gouveia e Melo citou ainda o antigo primeiro-ministro inglês Winston Churchill.

"Churchill, durante a II Guerra Mundial, disse uma vez que era preciso haver homens rudes capazes de visitar a violência durante a noite para que outras pessoas pudessem dormir descansadas. Vós sois esses homens rudes", afirmou o militar.

Em declarações aos jornalistas, o comandante da missão, capitão-tenente fuzileiro Nuno Correia Marques, afirmou que esta "representa o reafirmar não só da Marinha portuguesa, mas também de Portugal no seu espaço da Aliança Atlântica e no seu compromisso com a mesma".

No terreno, estes militares vão "trabalhar com as Forças Armadas lituanas em atividades de treino e exercícios combinados e também com os outros aliados que se encontrarem na zona".

A missão realiza-se de 04 de abril a 02 de julho.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt