O ano letivo 2025-2026 arrancou há cerca de um mês e o balanço feito pelos professores e diretores não é positivo no que se refere à falta de docentes, Assistentes Operacionais (AO) e técnicos especializados. O mais grave é, para a porta-voz do movimento cívico Missão Escola Pública (MEP), Cristina Mota, a normalização destes problemas. “Se comparamos com o ano letivo passado, temos mais alunos sem professores, mas deixamos de ter manchetes sobre o assunto e grandes alertas na comunicação social. O mais grave é o facto de o discurso do ministro da Educação ser o de desvalorização do problema, algo que não fazia antes. O Governo e a sociedade normalizaram o facto de faltarem um ou dois professores numa turma”, lamenta. Segundo a docente, “são os professores que estão a manter a escola pública em sobrevivência e não as medidas implementadas pelo Governo”. “É a resiliência dos docentes que faz as escolas funcionarem em determinadas zonas do país, quer com horas extra, quer com ginástica dos recursos humanos que chegam às escolas sem profissionalização e são acompanhados pelos docentes mais experientes”, sublinha.Em comparação com o primeiro mês de aulas do ano letivo passado Cristina Mota garante estarmos a viver “um cenário de agravamento”, com 80% das escolas a precisar de professores. A porta-voz do MEP alerta para as consequências na aprendizagem dos alunos que as medidas implementadas para mitigar os problemas estão a causar, principalmente na zona Sul do país. Segundo conta, muitas escolas aboliram os turnos, por exemplo, na disciplina de Matemática, bem como os tempos de aula extra, uma forma de “camuflar a falta de docentes”. “Esta desigualdade entre Norte e Sul está a agravar-se e para mitigar esta falta de professores, grave e estrutural, estão a ser abolidas as medidas de promoção de aprendizagem. Se fosse na saúde a consequência era imediata, estas decisões só se vão notar a médio e longo prazo, quando os pais perceberem que o código postal está a determinar a qualidade de ensino”, explica. A professora traça assim, “um balanço negativo” deste primeiro mês de aulas, caracterizados “pelos mesmo problemas e com medidas que não dão resposta e surgem como remendos, como reação imediata e sem plano a longo prazo”. Exemplo disso é, diz, “o suplemento para a deslocação que surge numa altura em que muitos dos professores que se encontram a Norte já terem encontrado outra solução”. Cristina Mota lamenta ainda a falta de avanço da revisão do novo Estatuto da Carreira Docente, com “sucessivos adiamentos”. “O Governo anuncia a revisão dos índices salariais e outras medidas de valorização da carreira, mas continua a adiar as reuniões com os sindicatos. Contudo, mostra mais rapidez na revisão do Estatuto do Diretor, o que pode provocar mau ambiente nas escolas”, conclui. São necessários 20 mil professores até 2030Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), também alerta para a persistente falta de professores, sobretudo na Grande Lisboa e no Algarve. Até 2030, recorda, serão necessários mais 20 mil docentes, “mas todos os anos saem cerca de quatro mil e entram poucos jovens, o que resulta num saldo negativo”. Soma-se a escassez de assistentes operacionais e a desatualização da portaria dos rácios, sem revisão há mais de três anos”. “A escola mudou muito nesses três anos. Temos mais alunos estrangeiros e mais alunos com necessidades específicas”, afirma. O dirigente defende também a criação da figura do técnico informático nas escolas para resolver os problemas que vão surgindo com os computadores dos alunos. O presidente da ANDAEP quer também o reforço de psicólogos e o arranque das obras “nas mais de 500 escolas sinalizadas”.Filinto Lima elogia a proximidade do ministro do MECI, Fernando Alexandre, com os diretores e as escolas, mas pede a rápida conclusão das negociações do novo ECD. Destaca, ainda como ponto positivo, maior celeridade nas substituições de professores. Quatro centenas de professores aposentam-se no próximo mêsEste ano civil poderá ser o que registará, desde 2012, o número mais elevado de aposentações de professores. Desde janeiro, já se reformaram 3223 docentes e as previsões, segundo o blogue ArLindo (dedicado à Educação), apontam para 4700 saídas até ao final do ano. Em novembro, serão 400 os docentes a deixar o sistema de ensino, sendo este o número mensal mais elevado deste ano. Estes números refletem apenas a saída dos docentes subscritores da Caixa Geral de Aposentações. O registo da Segurança Social não é público e, por isso, o número de professores reformados pode ser mais elevado