Explosão pandémica força Governo a recuar. Fecho das escolas é certo

Sucessivos aumentos da mortalidade e dos infetados desencadeiam pressões de todos os lados para que se decrete fecho das escolas. Governo aprova o encerramento esta quinta-feira.

O que estava previsto para a próxima terça-feira foi afinal antecipado para esta quarta-feira à noite. A ministra da Saúde, Marta Temido, e a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, reuniram-se com epidemiologistas com quem discutiram a necessidade de fechar as escolas. Chegado de Bruxelas, onde passou o dia no âmbito da presidência portuguesa da UE, António Costa reuniu com as ministras, para preparar a reunião de hoje do Conselho de Ministros que irá decretar o fecho das escolas.

Fortemente pressionado pelos números - ontem 219 mortos e 14 647 novos infetados, novos máximos desde o início da pandemia -, o Governo parece encaminhar-se para a decisão que António Costa queria a todo o custo evitar.

Na quarta-feira à noite, numa mensagem que publicou nas redes sociais, o primeiro-ministro referiu que o Governo vai analisar na quinta-feira as informações sobre a "alarmante progressão" da epidemia em Portugal, designadamente o crescimento da variante britânica do novo coronavírus, e "decidirá em conformidade" para "salvar vidas".

À Lusa, fonte do executivo deu como certo o encerramentode todos os estabelecimentos de ensino, incluindo do Básico ao Superior, com efeitos a partir de sexta-feira.

"O Governo nunca hesitará em tomar a qualquer momento qualquer medida que seja necessária para travar a pandemia."

A antecipação do calendário governamental em quase uma semana foi revelada ontem pelo primeiro-ministro falando com jornalistas em Bruxelas - e logo a seguir confirmada pelo Presidente da República. "É uma questão que se vai colocar entre hoje e amanhã", dizia.

Em Bruxelas, Costa afirmava, pelo seu lado, que "há nesta circunstância concreta (...) um elemento muito importante", que se prende com "as análises que estão a ser realizadas neste momento no Instituto Ricardo Jorge com base nas amostras recolhidas nos últimos dias", que considerou "decisivas" para se ter a perceção do grau de prevalência da nova estirpe, que acelera o ritmo de transmissão. "Se a prevalência dessa estirpe for relevante", aí, porventura, terão de ser tomadas "medidas perante uma nova realidade", numa lógica que garante ser a mesma "desde o início": "O Governo nunca hesitará em tomar a qualquer momento qualquer medida que seja necessária para travar a pandemia."

Durante o dia, ouviram-se, vindos de todo o país, apelos para que o Governo encerre as escolas - começando pelo PSD, que o anda a dizer já desde quarta-feira da semana passada, quando se aprovou no Parlamento o novo decreto presidencial do estado de emergência.

Aos sociais-democratas juntaram-se sindicatos dos professores - um até ameaçou fazer greve -, várias direções distritais da Proteção Civil, câmaras municipais e juntas de freguesia.

A nível mundial, a própria OMS avisou que pode ser preciso reforçar nas escolas secundárias as medidas contra a pandemia pois os adolescentes de 16 a 18 anos transmitem o vírus mais rapidamente do que os mais novos.

Numa atualização informativa semanal, a OMS considerou que os adolescentes entre os 16 e os 18 anos transmitem o vírus "tão frequentemente quanto os adultos e mais prontamente do que crianças mais novas", acrescentando ainda que foram relatados mais surtos nas escolas secundárias do que nas primárias. "Em particular, os adolescentes mais velhos devem ser lembrados para limitarem o risco de exposição fora dos ambientes escolares, evitando situações de alto risco, incluindo espaços lotados, de contacto próximo e mal ventilados".

Ministro em silêncio

Entretanto, o ministro da Educação - que na semana passada se mostrou fortemente a favor da manutenção das aulas presenciais - mantém-se em silêncio.

Convidado na terça-feira para uma ação de campanha com Ana Gomes, o secretário de Estado adjunto do ministro, João Costa, recordou que quando uma escola fecha "há crianças que não comem".

O governante aconselhou a "não olhar para o que é uma escola fechada a partir de um lugar privilegiado", sublinhando que alguns alunos não têm as condições para estudar em casa: "Não é só não terem computador, ou Internet, é não terem um espaço sozinhos em casa, terem um contexto barulhento, violento por vezes, não terem quem os acompanhe, quem os tire da cama para ligarem o computador, não terem a quem recorrer para pôr dúvidas."

Ontem a secretária de Estado da Educação, Inês Ramires, já se afirmou compreensiva com o "medo" das famílias face à evolução dos números, garantindo que o Governo fará uma avaliação a cada momento e tomará as medidas necessárias.

Marcelo apoia fecho

Falando numa visita a uma escola de Tomar - visita que fez acompanhada do secretário de Estado adjunto e da Saúde António Lacerda Sales -, Inês Ramires justificou a decisão da semana passada: "Tivemos a decisão na semana passada de manter as escolas abertas, com base nas evidências científicas e em como decorreu o primeiro período, que mostrou que o sistema funcionava", assegurando "maioritariamente o ensino presencial" e mantendo-se o ensino à distância "apenas como recurso".

Uma eventual decisão de encerrar as escolas terá o apoio do Presidente da República. Mas Marcelo também apoiou a decisão de as manter abertas. "O equilíbrio a que se chegou [no novo confinamento] faz sentido", disse, numa entrevista RR/Público.

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