Ensino à distância: primeira semana com balanço positivo mas há muitas dificuldades

O DN voltou a falar com os professores que, na semana passada, tinham revelado os receios para a primeira semana de ensino à distância devido a um novo período de confinamento. O balanço é positivo, mas ainda enfrentam muitas dificuldades.
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Elisabete Ferro, educadora de infância, tem um trabalho mais dificultado por lidar com crianças do pré-escolar. Ao DN, faz um balanço positivo à primeira semana de ensino à distância (e@d), mas reitera que, com crianças tão pequenas, o ensino remoto tem dificuldades acrescidas. "O balanço desta primeira semana de ensino à distância foi positivo. No entanto, muito redutor do trabalho que realizamos no dia-a-dia, presencialmente", explica. A educadora de infância salienta o papel dos pais, que "tentaram estar presentes em todas as sessões". "Nesta semana os pais aderiram muito bem ao ensino à distância. As crianças surpreenderam-me, positivamente, na forma como se comportaram em frente ao ecrã. Muito concentrados e participativos, demonstraram maturidade nas suas atitudes", conta.

Contudo, foram sentidas algumas dificuldades na utilização de plataformas digitais, como o Teams. "No confinamento anterior não utilizamos nenhuma plataforma digital, o contacto com os pais era através do e-mail. Não estávamos preparados para a situação com que nos deparamos e não investimos nessa forma de ensino", confessa.

No que se refere ao horário, as duas horas diárias foram divididas em dois turnos, permitindo trabalhar com menos crianças em simultâneo. "Esta foi uma semana experimental como tal, podemos aferir qual o melhor horário para os pais e para mim, pois também tenho um filho no primeiro ciclo em ensino online", refere. Crítica em relação ao número de horas em que crianças do pré-escolar conseguem manter a concentração, Elisabete Ferro sublinha que "as duas horas são incomportáveis para crianças dos 3 aos 6 anos". "Só quem não tem noção do que é o ensino pré-escolar pode ter a ilusão de estabelecer este tipo de carga horária! Enquanto profissional de educação de infância jamais submeteria crianças desta faixa etária a um horário desta dimensão", conclui.

Cátia Valente, professora de espanhol do 3.º ciclo e secundário, no Agrupamento de Escolas do Castêlo da Maia, encontra clara diferenças neste período de e@d, em comparação a março do ano passado. "O balanço é francamente positivo. Os alunos usam mais facilmente as plataformas adotadas pela escola, estão mais participativos e mais autónomos na realização das tarefas propostas", explica. A docente adianta ter, agora, mais alunos com computadores. "O nosso agrupamento conseguiu entregar computadores a alguns alunos que não tinham como acompanhar as aulas. Contudo, continuamos a ter muitos meninos que assistem às aulas com o seu telemóvel, o que torna o seu trabalho muito mais difícil", refere.

Para a professora, o maior problema é o ensino a alunos de Educação Inclusiva, pois "precisam de um acompanhamento constante do professor, presencial". "Para estes casos, os professores de Educação Especial procuram ser a ponte com a família, indo muitas vezes a casa das famílias", conta. Cátia Valente diz ter em mãos "um desafio" para o qual se sente mais motivada. "Agora domino melhor as ferramentas digitais e sobretudo porque as câmaras estão sempre ligadas. Já não me sinto sozinha a "falar" com um ecrã e consigo perceber mais facilmente se os meus alunos estão a perceber os conteúdos e se estão a gostar das tarefas propostas", conclui.

Daniel Ribeiro, professor de Física e Química, no Colégio Júlio Dinis, Porto, tece duras críticas à pausa letiva feita antes do arranque do e@d. "A primeira semana de e@d veio demonstrar o quão prejudicial para a aprendizagem é uma pausa não programada. O arranque de um modelo de ensino diferenciado já é, por si só, bastante difícil. Quando acrescentamos a isso uma pausa imprevisível, deitamos por terra boa parte da aprendizagem do início do segundo período. Os momentos de consolidação que estavam previstos na planificação para aquele que veio a ser o período de pausa, foram totalmente inviabilizados", explica.

O docente acredita que a pausa letiva foi "um puxar do travão de mão na aprendizagem, que só prejudicou os alunos". "Eles voltaram em registo de retorno de férias e não em registo de continuidade, algo que poderia perfeitamente ser colmatado se se tivesse iniciado o e@d há 3 semanas", sublinha. A "medíocre velocidade de funcionamento das plataformas digitais" complicou o trabalho do professor e dos alunos. "Desde as ferramentas de videoconferência aos websites das editoras, tudo conseguiu falhar, mesmo tendo havido mais do que tempo de preparação desde o primeiro confinamento", relembra.

Segundo Daniel Ribeiro, as editoras que "têm uma grande quota-parte de responsabilidade neste respeito, pois publicitam uma liberalização do acesso às suas plataformas digitais, porém, não possuem infraestrutura para o conseguirem suportar".

Recorde-se que, na semana passada, o site "Escola Virtual", da Porto Editora, registou vários problemas, deixando alunos e professores sem acesso aos materiais necessários.

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