O Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) anunciou, em dezembro, novas medidas do plano Aprender Mais Agora (A+A), a maioria com implementação a partir de janeiro de 2025, substituindo os anteriores planos de recuperação da aprendizagem. Destas medidas constam três grandes apostas: o Estudo Autónomo (já em vigor numa plataforma digital); o apoio à aprendizagem por parte de professores aposentados; e as tutorias psicopedagógicas. Contudo, no que se refere a estas últimas duas, os diretores escolares duvidam da sua eficácia, até porque, segundo esclarecimento do MECI enviado ao DN, não contarão com reforço de recursos. “As tutorias psicopedagógicas não implicam um reforço do número de recursos nas escolas. Os tutores psicopedagógicos são técnicos especializados que as escolas têm ou podem recrutar ao abrigo dos meios já à sua disposição”, esclarece a tutela.Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), garante que, sem novos recursos, “na maior parte das escolas vai ser muito difícil fazer reforço de tutorias”.“Os recursos já estão destinados às tarefas desde o 1º período. Admito que em algumas escolas seja possível, mas na maior parte vai ser muito difícil. Essa medida devia ter entrado em vigor no início do ano letivo para que cada diretor pudesse gerir os recursos de acordo com a sua situação”, explica. Para o responsável, “a medida seria mais proveitosa com reforço de recursos”.Opinião idêntica tem Arlindo Ferreira, diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, Póvoa de Varzim e autor do blogue ArLindo (dedicado à Educação): “Os meus recursos estão esgotados desde setembro. O apoio psicopedagógico para prevenção do insucesso escolar só poderá ser feito por psicólogos, porque, com professores, não é possível, apenas se o MECI alocar mais recursos.”Alberto Veronesi, diretor do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais, Lisboa, admite que o seu agrupamento está “com dificuldade em tudo”, no que se refere a recursos humanos ,e tem, por isso, parcerias externas para suprir a necessidade de psicólogos. Logo, assegura, será difícil reforçar as tutorias. O responsável vê com bons olhos as medidas de apoio à aprendizagem, mas alerta para a falta de pessoal para as implementar.Aposentados em voluntariado? “Ninguém quer vir”Ainda segundo o esclarecimento do MECI ao DN, “a participação de professores aposentados em atividades de apoio à aprendizagem será desenvolvida em regime de voluntariado, por período (até final do ano letivo) e para atividades a acordar entre a escola e o professor (5 horas semanais)”.Explica ainda a tutela que “os diretores escolares podem convidar diretamente os professores aposentados ou lançar aviso público, conforme a sua preferência, não havendo necessidade de intervenção da parte dos Serviços Centrais do MECI”. “Por seu lado, o MECI assegurará os custos financeiros e os procedimentos administrativos associados ao voluntariado”, refere. Filinto Lima diz não conhecer ninguém que o “queira fazer” e admite que o convite para “trabalhar pro bono” poderá deixar muitos diretores escolares desconfortáveis. “Esta medida em concreto não vai ter sucesso. Pergunto se alguém está disposto a trabalhar para aquecer e voltar para um sítio onde foi maltratado. É uma medida condenada ao fracasso”, sublinha.Para o presidente da ANDAEP, não havendo compensação monetária, o Ministério da Finanças deveria “atribuir benefícios fiscais aos aposentados em regime de voluntariado”. E, mesmo assim, os efeitos poderiam não ser significativos, pois “o concurso para o regresso de reformados às escolas ficou muito aquém do objetivo do MECI (200 professores), mesmo com acréscimo de 750 euros mensais”.Também para Alberto Veronesi, “esta medida não faz muito sentido”. “Os aposentados que quiseram voltar foi para ganhar mais dinheiro. Duvido que, em regime de voluntariado, tenha algum impacto. Não estou a ver, sequer, quem possa contactar para estas condições”, afirma.O diretor do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais defende medidas estruturais para reforço da aprendizagem e para colmatar a falta de docentes. “Isto só vai lá com aumentos salariais, valorização social da carreira, combate à indisciplina e aumento de exigência. É verdade que é melhor tentar do que não fazer nada, mas já se percebeu que estas medidas do MECI não estão a resultar e que é preciso apostar na valorização da carreira. É preciso captar jovens”, defende.É também com descrédito que Arlindo Ferreira analisa esta nova medida. O diretor escolar admite que não vai conseguir convencer nenhum aposentado a regressar em regime de voluntariado e sublinha: “Ninguém quer vir, nem a pagar.”