Ferros de engomar, máquinas de café, monitores, cadeiras, aquecedores, móveis - a lista poderia ser quase interminável -, são produtos que, habitualmente, logo que deixam de cumprir a sua função, são descartados. Despejados para o lixo, abandonados junto aos contentores de resíduos domésticos ou recolhidos pelos serviços camarários, quando o munícipe tem uma consciência ambiental mais apurada, é-lhes impedida uma segunda vida. Numa sociedade de consumo, a reparação caiu em desuso. Não funciona, compra-se novo..Com mais de mil toneladas recolhidas por ano, entre equipamentos elétricos e eletrónicos, objetos fora de uso e desperdícios de madeira, o Porto decidiu tentar inverter este movimento e estreou um serviço para potenciar novos comportamentos. No Ecocentro da Prelada, instalou dois contentores marítimos (recuperados para reutilização) e criou uma central de reparação e recuperação de eletrodomésticos, mobiliário e computadores. Chama-se Eco Porto - Centro para a Circularidade da Cidade do Porto e em pouco mais de três semanas já deu nova vida a quase 50 produtos..A resolução de avarias elétricas ou a reparação de artigos de mobiliário estão nas mãos de Bruno Carmo e Vítor Silva, dois funcionários da divisão municipal Porto Ambiente, que receberam formação para o efeito. Como fazem questão de sublinhar, muitas das reparações são bastante simples: é um cabo danificado que precisa de ser trocado, é um ferro a vapor que carece de descalcificação, é um móvel com humidade, que uma lixa e um verniz põem como novo. Reparados, estes produtos ficam prontos para doação a instituições sociais (primeira opção) ou a munícipes interessados. Já o recondicionamento de computadores enquadra-se no projeto ReBOOT, lançado pela autarquia no ano passado na mesma filosofia de poupança de recursos. .Como explica Filipe Araújo, vice-presidente da câmara, o Eco Porto insere-se na estratégia da cidade para o ambiente e clima, e chama os portuenses a colaborar nesta política e na promoção de uma economia circular. O objetivo é conseguir desviar para o projeto 10% das mais de mil toneladas recolhidas por ano. O também vereador do Ambiente e da Transição Climática lembra que a autarquia tem, desde 2017, um serviço de recolha gratuito ao domicilio de sofás, cadeiras, eletrodomésticos, televisões, aquecedores, microondas, entre outros artigos, e também de resíduos verdes (pequenos ramos e podas, flores e plantas não envasadas, restos de jardinagem)..O autarca garante que os serviços municipais respondem aos pedidos de recolha em menos de cinco dias úteis. Ou seja, não há justificação para que sejam depositados no lixo ou encostados aos contentores. “Não podemos continuar a viver numa sociedade de desperdício”, diz. Os funcionários vão preparados para sugerir a doação dos produtos que se apresentem em melhor estado, para que no Eco Porto sejam intervencionados e regressem à vida ativa. A formalização da doação é uma obrigação legal. Os portuenses podem também levar diretamente os seus artigos aos ecocentros da Prelada (aberto de segunda a domingo) e ao das Antas (encerra ao domingo)..E para que o Eco Porto seja mais do que um centro de reparação e armazenamento, promove regularmente formação em recuperação de mobiliário e capacitação em reparação de computadores, oficinas sustentáveis temáticas (por estes dias há uma dedicada ao Halloween), entre outras ações. Como sublinha Filipe Araújo, as formações permitem que “as pessoas possam reparar os seus eletrodomésticos em casa, capacitando-as em pequenas técnicas de reparação para prolongar a vida útil dos bens”..O Eco Porto conta ainda com um site (ecoporto.portoambiente.pt) onde está disponível toda a informação que rege o projeto e onde é possível visualizar os objetos disponíveis no mercado circular para doação. E também reservar o produto.