Dois terços dos professores utilizam ferramentas da Inteligência Artificial e "têm uma grande apetência para a tecnologia". Esta é uma das conclusões de um estudo que a Fundação Pedro Queiroz Pereira vai divulgar esta sexta-feira na Nova Faculdade de Ciências e Tecnologia de Lisboa. Este é um projeto filantrópico dedicado às áreas da Educação e Proteção Social, do Grupo Semapa, pretende dar voz aos professores, aferir os temas críticos para os docentes e quais os caminhos a seguir para dignificar a carreira. Desta forma, em parceria com o Centro de Economia da Educação da Nova School of Business & Economics (SBE) e a Universidade do Minho (UM), a Fundação elaborou o estudo A Voz dos Professores, cujas conclusões preliminares são apresentadas na Grande Conferência Educação e Transformação.Ao DN, Margarida Rebocho, responsável pela Fundação Pedro Queiroz Pereira, comentou uma das grandes conclusões da investigação: a que dois terços dos professores utilizam ferramentas da Inteligência Artificial. “Os professores têm uma grande apetência para a tecnologia e utilizam ferramentas da Inteligência Artificial. Estas ferramentas podem vir a ajudar e a gerir melhor o tempo e libertar os docentes para outras tarefas. É um caminho que vale a pena percorrer”, defende.A responsável sublinha ainda que, apesar de o corpo docente do sistema educativo português ser o mais envelhecido da Europa — quase 60% dos professores têm 50 ou mais anos —, os educadores demonstram “um grande sentido de missão e procuram exercer a profissão da melhor forma”. E é essa disponibilidade para abraçar as novas tecnologias, conta, que motiva a fundação a envolver-se em projetos na área da Educação. Contudo, não é apenas esse o fator da aposta do organismo na Educação e na Proteção Social. “São os pilares centrais da fundação, e acreditamos que a verdadeira elevação social apenas se alcança com a construção de uma sociedade mais capacitada, mais justa, mais humana e mais solidária”, sublinha. A fundação acredita que os professores têm um papel fundamental na construção de um “sistema de ensino robusto e de qualidade, que permita a todas as crianças e jovens desenvolverem e explorar o seu máximo potencial”. Salienta ainda a importância da figura do professor para os alunos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos, assumindo-se, em muitos casos, como “o adulto de referência nas suas vidas”.Margarida Rebocho confessa que a “grave falta de professores” foi o catalisador da vontade em dar voz aos docentes e fazer um diagnóstico do sistema educativo. “A escassez de professores é um desafio grande e que se vai agravar. Quisemos perceber porquê”, explica. A Fundação Pedro Queiroz Pereira desafiou, por isso, a Nova SBE e a UM “para desenhar um estudo que viesse acrescentar valor a outros estudos já feitos sobre esta problemática”, com incidência na visão do professor.Nos primeiros anos, o trabalho da recém-criada fundação será essencialmente desenvolvido através de parcerias com outras entidades especialmente do setor social, com foco também nos eixos que elegeu como prioritários (Educação e Proteção Social) e com as quais possam ser desenvolvidos “programas que levem ao cumprimento do objetivo de impacto social que a Fundação ambiciona ter”.“Estamos empenhados em ajudar porque a Educação é um tema de todos, um desígnio nacional, e o setor privado deve ser um parceiro do Estado nesta frente”, conclui Margarida Rebocho.O estudo estará concluído em setembro, mas algumas das conclusões serão conhecidas hoje, no decorrer da Grande Conferência Educação e Transformação.Portugal enfrenta uma das situações mais preocupantes no contexto da União EuropeiaSegundo o último estudo Estado da Educação, do Conselho Nacional de Educação (CNE), na Educação Básica e Secundária, “continua a ser extremamente difícil repor os docentes que vão saindo do sistema”. “O número de estudantes em cursos de mestrado que conferem habilitação para a docência tem-se mantido reduzido. Portugal enfrenta, assim, uma das situações mais preocupantes no contexto da União Europeia (UE).O sistema de ensino português tem a classe docente mais envelhecida da UE e não está a formar professores suficientes. Só desde janeiro, já se aposentaram quase 1700 professores. Há 10 anos, em 2015, foram 1471 os docentes aposentados, um número total mais baixo do que nos primeiros 5 meses deste ano.