Há mais de 200 escolas profissionais em Portugal, distribuídas por todo o país, e apenas 17 são públicas. A maioria dos estabelecimentos conta com apoios de fundos europeus. Num estudo recente publicado pelo Edulog (o think tank da Fundação Belmiro de Azevedo), verifica-se um aumento substancial do número de alunos no Ensino Profissional entre 1995 e 2016, período em que quadruplicou o número de estudantes inscritos no Ensino Profissional. Desde então, a tendência de aumento não continuou e, nos últimos anos, o número de inscritos estagnou. Portugal continua, assim, abaixo da média da União Europeia, onde 49% dos alunos frequentam esta opção formativa.Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), diz ser, por isso, necessário um alargamento da oferta “em alguns concelhos onde a procura é maior”. “Deve ser uma aposta continuada do futuro Governo. Os jovens que frequentam esta via têm habilitações em áreas onde, neste momento, não existem profissionais e é positivo para o desenvolvimento do nosso país. A procura destes cursos acompanha a necessidade do mercado em áreas onde são necessários profissionais”, sublinha.João Ferreira, diretor da Escola Profissional Profitecla, de Matosinhos, também quer ver o Ensino Profissional a crescer mais. O responsável assume haver ainda “algum caminho a percorrer”. “Se nós nos compararmos com outras geografias do centro da Europa percebemos o que ainda precisamos de fazer, apesar de estarmos em crescendo”, explica. Questionado sobre o que motiva os jovens a quererem especializar-se numa área, João Ferreira não tem dúvidas e diz prender-se com o facto de os alunos quererem ofertas mais práticas e pela necessidade de ganharem competências para o mercado de trabalho, caso decidam não prosseguir estudos superiores. “As nossas ofertas educativas são ajustadas às necessidades do mercado de cada um dos territórios. Há muitas empresas que procuram um perfil mais técnico e não apenas jovens licenciados. Os estudantes do Profissional têm uma vertente muito prática nos seus cursos e têm estágio logo no 11.º ano. É uma mais-valia, quando comparado com outras ofertas formativas. Os alunos do Ensino Superior, na sua maioria, só têm estágio já no final da licenciatura”, acrescenta.A título de exemplo do ajustamento da oferta à necessidade do mercado de trabalho, o diretor da Escola Profissional Profitecla adianta que a instituição aposta em cursos na área da Saúde, como Auxiliar de Saúde ou Auxiliar de Farmácia, “formações muito necessárias no momento atual”.Rótulos e estigmas “infundados”João Ferreira acredita que o crescimento do Ensino Profissional poderia ser mais expressivo se a sociedade não continuasse a rotular os alunos desta via de ensino, valorizando as suas competências à semelhança de outros países da Europa. Por isso, quando assumiu, há dois anos, o cargo na instituição de ensino, fê-lo com “sentimento de missão”, de forma a “contribuir para o futuro dos jovens e limpar o rótulo do Ensino Profissional”. “Há um preconceito completamente infundado, muito devido às políticas das escolas públicas. Os nossos jovens, além de estarem mais capazes no final do 12.º ano, estão mais aptos para entrar no mercado de trabalho e é preciso não esquecer que podem optar por ingressar no Ensino Superior, onde também mostram serem tão ou mais capazes que os alunos de outras vias”, defende.Filinto Lima também lamenta esse estigma, que leva os alunos a encararem o Ensino Profissional, muitas vezes, apenas como “um plano B”. Contudo, tem verificado que esse preconceito se tem tornado menos visível ao longo dos anos. “Isto acontece, acredito, porque os jovens percebem que quem opta pelo Profissional arranja rapidamente emprego e, muitos, até conciliam com estudos nas universidades”, refere.O representante dos diretores escolares lamenta ainda o facto de o Ensino Profissional não ter sido “uma temática dos candidatos a primeiro-ministro nas respetivas campanhas”. “O Ensino Profissional deveria ter feito parte dos debates políticos. E é preciso que se acredite cada vez mais nele, para bem do nosso país e dos nossos alunos”, conclui. .Privado detém a grande maioria das Escolas ProfissionaisHá 200 escolas profissionais privadas e 17 públicas, embora os estabelecimentos do setor privado sejam tutelados pelo Ministério da Educação. O estudo Estado da Educação 2023, publicado em dezembro de 2024 pelo Conselho Nacional de Educação, faz referência ao desequilíbrio entre as escolas profissionais públicas e privadas. “É pertinente refletir sobre o papel das escolas privadas no preenchimento das lacunas deixadas pelo serviço público de Educação, mormente no âmbito da Educação Pré-escolar e do Ensino Profissional”, pode ler-se no documento. Segundo os últimos dados publicados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, referentes ao ano letivo 2022/2023, apenas 32,3% dos alunos matriculados no Ensino Secundário frequentam cursos profissionais. .Há cada vez mais adultos a ingressar ou a voltar ao Ensino Superior