Para este ano, o Orçamento de Estado (OE) alocou 406,8 milhões de euros para o Complemento Solidário para Idosos (CSI), escassos oito milhões mais do que a prestação custou aos cofres do Estado em 2024 (398,7 milhões). Porém 63,9% do total para 2025 já foi consumido em seis meses, levando a crer que - mantendo-se o número de beneficiários de junho (225.543) e a prestação média (199 euros) - o custo total ultrapassará os 528 milhões. Ou seja, mais 30% que o orçamentado.Se tal se confirmar, tratar-se-á de um aumento de 129,3 milhões face ao ano de 2024, num acréscimo de 32,43%, decuplicando os escassíssimos 3,1% que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental diz na sua análise ao OE2025 ter estranhado encontrar na documentação da Conta Previsional da Segurança Social para este ano.Note-se porém que desde o início de 2025 o número de beneficiários tem vindo a aumentar, pelo que, se esta tendência se mantiver, o custo final da prestação agravar-se-á. De janeiro, quando eram 207.783, até 30 de junho houve um acréscimo de 17.760 beneficiários, correspondendo a um aumento percentual de 8,5%. Ainda assim, em 2024, a “corrida” de beneficiários foi muito superior: de junho a dezembro aumentaram 47%, de 141.655 para 208.325.De referir também que, comparando com o período homólogo de 2024, a subida na despesa com o CSI é, como assinala o Relatório de Execução Orçamental de junho de 2025 do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), de 50,6%.Trata-se, aliás, no conjunto das despesas inscritas no referido relatório, daquela que mais sobe face ao mês de junho de 2024. Para comparação, a segunda prestação a mais crescer foi o Subsídio de Apoio ao Cuidador Informal, o qual registou um acréscimo de 36,5% (no valor de 4,5 milhões) face ao período homólogo.Quando Luís Montenegro fez, em novembro de 2023, o célebre anúncio de que queria “um rendimento mínimo garantido de 820 euros [igual ao valor do salário mínimo em 2024] para todos os idosos”, para a seguir reconhecer que se trataria afinal do aumento do valor de referência, até 2028, do Complemento Solidário para Idosos (CSI), foi insistentemente questionado sobre quanto custaria tal medida.Até hoje, apesar de a AD ter reforçado a promessa, perspetivando que em 2029 o valor de referência do CSI coincida com o ordenado mínimo de 2025 (870 euros), e que na legislatura seguinte se equipare ao salário mínimo de então, nem o primeiro-ministro, nem o responsável das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, ou a ministra da Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, se comprometeram com um custo total dessas mudanças no CSI. Uma coisa é já clara, porém: as contas que apresentaram para 2025 estão erradas.Medicamentos gratuitos foram contabilizados na despesa orçamentada?Explica o mencionado relatório do IGFSS de junho de 2025 que o aumento na despesa com o CSI se deve “à atualização realizada em junho de 2024, nos termos da Portaria n.º 154-A/2024/1, de 22 de maio [que aumentou o valor de referência da prestação dos 550 euros mensais fixados pelo OE2024 para 600 euros], à atualização do valor de referência concretizada em janeiro, de acordo com a Portaria n.º 311/2024/1, de 3 de dezembro [que aumentou o valor de referência para 630 euros] e ao Decreto-Lei n.º 37/2024, de 28 de maio, que procede à segunda alteração ao regime de benefícios adicionais de saúde para os beneficiários do Complemento Solidário para Idosos”.Não fica claro, desta explicação, se a despesa com a última alínea - os benefícios adicionais de saúde do CSI - está incluída nos valores apresentados no relatório. Como o DN já noticiou, a também gratuidade de medicamentos prescritos a beneficiários do CSI, medida do primeiro Governo Montenegro que entrou em vigor em junho de 2024, está a ter um custo bastante superior ao anunciado.Só são, até agora, conhecidos os números até março de 2025, mas de acordo com o comunicado pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) ao DN, o custo da medida aumentou 68%, de 1,9 milhões contabilizados no mês de junho de 2024 para 3,2 milhões em março de 2025, enquanto “o número de utentes distintos com dispensa de embalagens” cresceu 53,6% no mesmo período, de 91.500 em junho de 2024 para 141.500 em março de 2025.Valores que, mais uma vez, ultrapassam muito o estimado pelo Executivo - isto se tivermos em conta a informação prestada aquando do anúncio do aumento da comparticipação dos medicamentos prescritos a beneficiários do CSI, já que o DN não conseguiu encontrar provisão para esta despesa no OE2025, e não obteve esclarecimentos dos ministérios da tutela (Saúde e Segurança Social).Assim, quando em maio de 2024 foi anunciada a medida, foi adiantada uma estimativa de 10,4 milhões para a despesa. Não é claro se esses 10,4 milhões se referiam ao custo estimado para o acréscimo de 50% na comparticipação (correspondendo esse aumento ao resto da parcela do custo que cabia aos idosos, uma vez que já estava em vigor uma comparticipação de 50% decidida pelo último Governo Costa) nos seis meses de junho a dezembro de 2024 ou se, como relataram algumas notícias, estava em causa a dotação anual da medida.Tratando-se do primeiro caso - é o mais provável -, assistiu-se a uma derrapagem de 59,6% na despesa.Recorde-se que, face à ausência de resposta dos Executivos de Luís Montenegro, o DN efetuou um cálculo, baseando-se no número de beneficiários de abril (221 mil) do que custará em 2028 o aumento, para 820 euros, do valor de referência desta prestação não-contributiva (que não resulta de descontos efetuados pelos que a recebem): mais de mil milhões de euros. Quantia que, naturalmente, aumentará ano a ano, à medida que o valor de referência aumente.Aliás, como o jornal sublinhou, este cálculo pode revelar-se conservador, já que aumentar o valor de referência da prestação implica que mais idosos “caberão” nos critérios. Se atualmente, com um valor de referência de 630 euros (o fixado pelo Governo para 2025), pode requerê-la quem tenha “recursos” abaixo de 630 euros mensais - correspondendo a prestação à diferença entre a pensão que aufere e tal valor -, à medida que esse valor vai aumentando, o número de possíveis beneficiários crescerá.Dificilmente ao custo em 2028 com o CSI corresponderá, como prognosticava em novembro de 2023 António Leitão Amaro, atual ministro da Presidência, “uma massa de despesa com um valor contido” ou, como garantia o atual ministro das Finanças, “dezenas ou poucas centenas de milhões”..Despesa. Complemento Solidário para Idosos dispara para 1000 milhões em 2028 .Suplemento extra para pensionistas não conta para Complemento Solidário para Idosos