Em 2018, previam-se três salas de consumo assistido em Lisboa, de modo a dar resposta ao flagelo da toxicodependência, garantindo que os cidadãos teriam acesso a cuidados médicos e controlo de dosagem que impedissem overdoses. Em 2021, no Vale de Alcântara, nasceu um espaço, que dizem as fontes que o DN contactou, continua improvisado e sem capacidade para ser o único a receber toxicodependentes. Com horário de funcionamento estabelecido, e profissionais de saúde especializados, não há, no entanto, modo de garantir o que em 2022 eram 1300 utentes regulares, mas que hoje, em Lisboa, serão mais de dois milhares, constatando a PSP que o tráfico tem vindo a aumentar desde a pandemia. A Ares do Pinhal, IPSS para a terapêutica para toxicodependentes, criou uma comunidade para o efeito na Rinchoa e uma casa de reinserção em Caxias e tutela o espaço no Vale de Alcântara que contou com a Câmara Municipal de Lisboa para encontrar um espaço e financiamento anual. A localização deixa a desejar, a capacidade também. Ameixoeira, Chelas, Picheleira e Mouraria são as quatro zonas mais ligadas ao consumo de droga que se situam mais longe da sala de consumo assistido. Mas centenas de pessoas irão até ao Vale de Alcântara para aí serem atendidas. Só que por falta de meios para tal, gera-se um flagelo de consumo a céu aberto, que origina a que, sob o efeito de estupefacientes, se perturbem as freguesias de Campo de Ourique e Alcântara, com o aumento de sem-abrigo e a proliferação de seringas em jardins e parques infantis. O bairro da Quinta do Loureiro, na freguesia de Campo de Ourique, surgiu após o desmantelamento do Casal Ventoso, o local de tráfico primordial em Lisboa, até ao final da década de 1990. Longe de ser um bairro social, hoje com enorme franja de classe média, destaca-se o perigo à porta dos loteamentos e o consumo a céu aberto. A segunda zona mais cáustica, bem perto, é a da Avenida de Ceuta, com tendas improvisadas e carrinhas de assistência médica chamadas, diversas vezes, ao local, por perturbações até nas linhas férreas de Alcântara. O problema já levou as juntas de freguesia de Campo de Ourique e Alcântara a apelar a intervenção do Governo e da Câmara de Lisboa. No caso de Campo de Ourique o tema é debatido entre os candidatos de PS e PSD à liderança da freguesia. Relatório do Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências explana que em 2023 existiram 80 mortes por overdose, o que justifica o relevo das salas de consumo assistido, e refere que nos últimos três anos os números aproximaram-se dos de 2009 (91% destes óbitos apresentavam mistura de drogas no sangue). O ICAD refere que 1941 novos utentes entraram em tratamento ambulatório e mais de 24 mil estão em tratamentos regulares. A realidade assustadora omite milhares de pessoas em adição de drogas, sem cuidados ou reabilitação à vista e há correlação entre a doença mental e essa mesma adição. Fonte da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens relata ao DN que há uma “desresponsabilização” no consumo de drogas e que os jovens, pelo fácil acesso, incidem mais recorrentemente a comportamentos aditivos, sem a consciencialização dos perigos que acarretam as drogas, e a “normalização” do canábis..Guerra ao narcotráfico na Avenida de Ceuta/Quinta do Loureiro. Prisão preventiva para seis suspeitos