A criação da Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo (AMLA, sigla em inglês), é “um divisor de águas” no combate ao branqueamento de capital e, por consequência, à criminalidade organizada na Europa. A avaliação é da advogada Ana Ponte Lopes, especialista em Compliance. “Esta autoridade tem como objetivo, no fundo, harmonizar as regras todas na Europa de prevenção do branqueamento de capitais, fazer uma supervisão mais direta junto das entidades financeiras, dos bancos, das fintechs, destas entidades através das quais, tipicamente, ocorre o branqueamento de capitais. Portanto, vai haver uma supervisão direta muito maior”, destaca a advogada em declarações ao DN. A previsão é que esta agência esteja em pleno funcionamento no ano de 2027. A sede é em Frankfurt, o centro financeiro da Europa. “As próprias autoridades nacionais, que têm competência agora, seja o Banco de Portugal, seja a Polícia Judiciária, vão ser chamadas a colaborar de uma forma muito mais ativa com a AMLA, que tem um mandato também muito ambicioso”, destaca. Na visão da advogada, uma das principais vantagens é a uniformização das regras. “É importante uniformizar estas regras todas, criar standards internos, porque, na verdade, cada país acaba por ter uma regulamentação que não é exatamente igual, apesar de vir das diretivas, depois sabemos que em cada país as coisas são implementadas de forma diferente, e muitas vezes há dificuldades de comunicação entre os diversos países. E isso faz com que o combate ao branqueamento de capitais seja mais difícil”, reflete Ana Ponte Lopes.Além desta entidade europeia, a advogada defende que Portugal também invista no combate a estes crimes. “É preciso que as autoridades e quem lhes disponibiliza o dinheiro, que são os governos, decidam se querem efetivamente combater isto e significa dotar estas autoridades, não só de meios humanos, que também é preciso dinheiro para isso, e de sistemas informáticos que sejam eficazes, porque, do outro lado, temos pessoas que sabem mexer nisto tudo muito bem”, pontua.A advogada sublinha que o investimento em tecnologia é “essencial”, principalmente porque a criminalidade é cada vez mais sofisticada do ponto de vista tecnológico. “É decisivo e essencial ter os sistemas tecnológicos que sejam eficazes”, afirma. Ao mesmo tempo, se não houver dinheiro para tudo, sublinha que o foco devem ser os negócios de maior risco. “Se os recursos são finitos e não são ilimitados, têm que ser concentrados para aqueles setores onde existe o maior risco, por exemplo, bancos, toda a área financeira, as fintechs e criptoativos, além do setor imobiliário”, elenca.Sobre as moedas digitais, entende que é um “desafio acrescido”, pelo “modelo de investimento muito complexo, muito volátil e relativamente novo”. Por fim, assume que “não é um combate fácil” e reforça a necessidade “meios financeiros e vontade política, porque senão é muito mais difícil”.amanda.lima@dn.pt.Polícia e fisco têm de cooperar mais no combate ao crime organizado