O presidente da Câmara de Vila Real está preocupado com o retrocesso no acesso à informação, depois da Vasp anunciar ajustamentos na distribuição de jornais diários no Interior, e apelou à tomada de "medidas imediatas" pelo Governo.“O município manifesta a sua profunda preocupação e total oposição a uma medida que representa um claro retrocesso no acesso à informação, um direito fundamental consagrado na Constituição da República Portuguesa”, afirmou esta sexta-feira, 5 de dezembro, Alexandre Favaios.A administração da Vasp (propriedade do Grupo Bel, que é acionista do Global Media Group, ao qual pertence o DN) confirmou na quinta-feira que está a avaliar a necessidade de fazer ajustamentos na distribuição diária de jornais que poderão ter impacto, já a partir de janeiro, nos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança. .Há oito distritos em risco de ficar sem acesso a jornais a partir de janeiro. Bloco questiona Governo .O autarca de Vila Real considerou “inaceitável que os territórios do Interior, já sujeitos a desafios significativos em matéria de coesão social e territorial, voltem a ser penalizados com a redução de serviços essenciais, como é o caso da distribuição de imprensa”.“Vila Real não aceitará que os seus cidadãos fiquem privados do acesso regular a jornais e revistas. Esta decisão põe em causa o direito à informação e agrava desigualdades que há muito combatemos. Não podemos permitir que o Interior seja novamente colocado em situação de desvantagem estrutural”, salientou.Alexandre Favaios apelou, por isso, que o Governo “tome medidas imediatas para assegurar a continuidade do serviço”, e lembrou que o protocolo firmado em 2024 apontava para a correção das falhas existentes e que o concurso público internacional anunciado continua por concretizar.“Apelamos a que o Estado assuma as suas responsabilidades. Vila Real e todo o Interior não podem ser esquecidos. A distribuição de imprensa é um serviço básico numa sociedade democrática e não pode estar dependente de critérios meramente económicos”, reforçou.E concluiu que o município se manterá “vigilante e disponível para colaborar com as entidades envolvidas, defendendo sempre os interesses dos vila-realenses e garantindo que o direito à informação não seja posto em causa”. .Autarcas de Évora pedem "ação rápida" que assegure acesso universal à informação.O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC) também manifestou preocupação com o possível fim da distribuição diária de jornais em oito distritos e pediu uma “ação rápida” do Governo que assegure o acesso universal à informação.“É uma enorme preocupação, porque o acesso universal à informação deve ser um compromisso para manter e o contrato assinado pela Vasp com o Governo garante isso”, realçou à Lusa o presidente da CIMAC, Carlos Zorrinho.O também autarca de Évora, eleito pelo PS, defendeu que, se a Vasp, empresa que distribui os jornais pelo país, “não está em condições de o garantir, é preciso reforçar com essa empresa ou com outra, porque esta é uma prioridade absoluta”.“O Governo tinha colocado como prioridade, com a qual concordo totalmente, o apoio à chegada da informação, por meios físicos, digitais e outros, à população”, disse, esperando agora que “haja uma ação rápida que assegure o acesso universal à informação”.Nas declarações à Lusa, o presidente da CIMAC alertou que, a concretizar-se a cessação da distribuição diária de jornais em oito distritos, entre os quais o de Évora, “é muito grave para os territórios e para os cidadãos, em particular”.“O não acesso à informação é uma quebra da possibilidade de participação e até de conhecimento e cidadania e prejudica os leitores dos territórios que são menos povoados e que têm menos capacidade de chegar à imprensa de outra forma”, frisou.Por outro lado, sublinhou Carlos Zorrinho, o eventual fim de distribuição “prejudica muitas empresas de comunicação social, que já têm dificuldade, nomeadamente nas suas tiragens, nos seus modelos de distribuição e de negócio”.“Naturalmente, quanto menos robustez financeira tiverem, menos qualidade de informação estão em condições de poder proporcionar”, acrescentou..Municípios de Beja exigem medidas do Governo para haver distribuição de jornais.Já o presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo manifestou “total incredulidade” com a possibilidade de a Vasp alterar a distribuição diária de jornais em oito distritos, entre os quais o de Beja, e exigiu a intervenção do Governo.“O Governo tem a responsabilidade de resolver esta situação e é pouco compreensível que se escude nos ‘mecanismos concorrenciais’ para deixar surgir esta ameaça”, disse à agência Lusa António José Brito, que é também autarca em Castro Verde.A posição do presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), que abrange 13 dos 14 concelhos do distrito de Beja (a exceção é Odemira), surgiu depois de a administração da Vasp ter confirmado, na quinta-feira, que está a avaliar a necessidade de fazer ajustamentos na distribuição diária de jornais.A medida poderá ter impacto, já a partir de janeiro de 2026, nos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança.“Vemos esta situação com profunda preocupação e total incredulidade. Temos dificuldade em aceitar que metade de Portugal, que é permanentemente esquecida e deixada para trás em tantas áreas, agora também deixe de ter o direito a estar informada e a ler jornais em papel”, frisou o presidente da CIMBAL.António José Brito disse ainda que, a confirmar-se esta possibilidade, “para a imprensa regional do Baixo Alentejo – e de todo o interior – será uma quase ‘sentença de morte’, num país onde nunca houve nem há uma política séria de incentivo à publicação, leitura e sustentabilidade dos jornais”.. Em comunicado, a Vasp referiu que "atravessa, neste momento, uma situação financeira particularmente exigente, resultante da continuada quebra das vendas de imprensa e do aumento significativo dos custos operacionais, que colocam sob forte pressão a sustentabilidade da atual cobertura de distribuição de imprensa diária", no dia em que o Correio da Manhã noticiou que há "oito distritos em risco de ficarem sem jornais a partir de janeiro".Também na quinta-feira, o ministro da Presidência afirmou que qualquer solução pública que ajude a assegurar a distribuição de imprensa no território nacional implicará sempre “mecanismos concorrenciais” e não passar cheques a uma empresa em concreto.Para o Sindicato dos Jornalistas, “a medida anunciada, que entrará em vigor já no início de 2026, terá um impacto imediato no acesso à informação de várias regiões, especificamente no interior raiano”, salientando que esta decisão “não afeta apenas o acesso à informação por parte da população, mas também compromete gravemente a estabilidade e os direitos dos jornalistas que trabalham no setor”..Presidente da VASP critica lentidão do Governo nos apoios à distribuição no Interior