Ano letivo em risco, PSD engasgado e contas certas que dão que pensar

O braço de ferro entre professores e ministério da Educação permanece sem resposta, tal como o PSD continua sem definir o que fazer em relação ao Chega. INE deu boas notícias a Medina, mas o que não faltam são razões para o governo estar preocupado com o que se vive no país.

Sábado, 28 de janeiro

Dragão quebra enguiço à 16.ª tentativa

Foram precisas cinco finais para o FC Porto, finalmente, quebrar o enguiço e conquistar pela primeira vez, à 16.ª edição da prova, a Taça da Liga, o troféu nacional que ainda faltava nas vitrinas do Museu do Dragão. A vitória por 2-0 sobre o Sporting não ficou isenta de polémica, com os leões a queixarem-se da arbitragem de João Pinheiro. Com este triunfo, o FC Porto passar a ser o atual detentor dos quatro troféus disputados em Portugal, já que é o campeão nacional em título e ganhou em maio a Taça de Portugal (onde ainda está em prova com vista à revalidação do troféu), em Julho a Supertaça e, agora, a Taça da Liga. Este foi o nono troféu de Sérgio Conceição à frente dos dragões, o que faz dele o treinador com mais títulos na história do clube, superando Artur Jorge, já depois de a 11 de janeiro se ter tornado o técnico com mais vitórias no FC Porto, batendo o registo histórico de José Maria Pedroto.

Domingo, 29 de janeiro

Chega reforça Ventura e deixa PSD engasgado

A V Convenção do Chega confirmou, sem surpresa, a reeleição de André Ventura como líder do partido, desta vez com 98,3% dos votos e sem qualquer rival a disputar o cargo. O encontro em Santarém, além de eleger uma nova direção (expurgada de críticos de Ventura), serviu também para dar palco às ideias radicais do partido. Houve delegados a gozar com a forma física de rivais políticos, mensagens xenófobas (Mamadou Ba e Joacine Katar Moreira foram alvos de eleição) e até um vice-presidente do partido (António Tânger Corrêa) que não se coibiu de gritar ao microfone a frase: "Porque somos os mais puros, venceremos!" Empoderado pelos seus, reforçado pelo júbilo das forças da extrema direita europeia que se fizeram representar em Portugal e ciente que a desconfiança crescente dos portugueses em relação aos políticos serve as suas mensagens mais populistas, André Ventura não hesitou em elevar a fasquia, apontando à integração de um futuro governo e afirmando o crescimento do partido nas urnas como "a única cura" contra "o vírus mortal que é o socialismo". No campo da direita parlamentar, enquanto a Iniciativa Liberal foi rápida e clara ao recusar entendimentos com o Chega, viu-se o PSD a sair do Ribatejo engasgado. "Não é este o tempo e o local" para se discutir acordos, disse o vice-presidente Miguel Pinto Luz. A indefinição social-democrata é um trunfo para Ventura. Mas, aparentemente, na direção do PSD isso não parece ser uma preocupação.

Segunda-feira, 30 de janeiro

Lei da eutanásia regressa ao parlamento

Pela 2.ª vez, o decreto que despenaliza a morte medicamente assistida foi considerado inconstitucional pelos juízes do Palácio Ratton (sete contra seis), sendo que a principal questão, que o TC diz criar uma "intolerável indefinição", será o legislador clarificar se a existência de sofrimento "físico, psicológico e espiritual" como condição para aceder à eutanásia é cumulativa ou se basta apenas preencher um destes requisitos - algo que muda, bastante, o universo de pessoas elegíveis. Com o chumbo, Marcelo Rebelo de Sousa devolveu a lei ao parlamento, onde já foi aprovada por três vezes e sempre por uma maioria confortável (a última há menos de dois meses). O PS não perdeu tempo em dizer que as normas inconstitucionais serão corrigidas, para se marcar uma 4.ª votação, remeter o decreto para Belém e passar a decisão para o Presidente, que manterá as suas três opções em aberto: ou promulga, ou veta ou remete para o TC pela 3.ª vez para novo acórdão... Pode parecer uma saga interminável, mas, sendo um tema tão sensível, é imprescindível que a lei seja robusta e evite ao máximo zonas cinzentas, protegendo tanto os doentes que tomem esta opção como os médicos que a terão de executar.

Terça-feira, 31 de janeiro

As contas certas e o muito que há por fazer

O PIB português cresceu 6,7% em 2022, a maior subida em 35 anos e das maiores entre os países do euro, revelou o INE. É, claro, uma boa notícia, que joga a favor da imagem do país junto dos parceiros europeus e dos mercados, mantendo (e até reforçando) a hipótese de Portugal continuar a poder obter financiamento externo com juros baixos. Mas, para milhões de portugueses a preocupação não está nas contas a apresentar em Bruxelas. Está na carteira, onde pesa (e de que maneira) o aumento generalizado dos custos provocado pela inflação, agravado pelas subidas dos preços dos combustíveis, da energia, das telecomunicações e das prestações da casa. Tudo isto somado aos problemas crónicos de falta de profissionais nos hospitais, na justiça e nas escolas, onde uma greve de professores e funcionários se arrasta há mais de dois meses penalizando, principalmente, e de forma injusta, os alunos, em especial os mais novos. Tudo fica ainda pior ao assistir-se aos constantes tiros no pé do Governo, que, entre nomeações duvidosas e prémios milionários, vai esgotando a confiança que os portugueses nele depositaram quando deram há um ano uma maioria absoluta ao PS de António Costa. É importante ter contas certas? Sem dúvida. Mas será sempre curto se não se traduzir rapidamente em políticas que vão ao encontro das necessidades mais urgentes dos cidadãos. Esse também será o desafio de Medina. Para ontem.

Quarta-feira, 1 de fevereiro

Casuals. Tudo o que não faz falta ao futebol

Uma operação especial de segurança da PSP, em articulação com a unidade especial de combate ao crime violento do DIAP, resultou na detenção de 30 homens, com ligações a claques de Benfica e Sporting, suspeitos de participarem em "situações de agressões, entre grupos de adeptos e contra a polícia, crimes de roubo, dano qualificado e participação em rixa". Durante as buscas foi também apreendida droga, armas brancas e de fogo, munições e material pirotécnico. A ação policial incidiu, sobretudo, em subgrupos conhecidos como casuals, que por regra não usam roupa alusiva aos clubes para melhor escaparem ao radar das autoridades e, assim, poderem protagonizar episódios de elevada violência contra rivais, junto aos estádios ou em hora e local previamente combinado. Agem em grupo e às agressões juntam outros atos de vandalismo e roubos. O problema com os casuals em Portugal não é novo e é inspirado no hooliganismo inglês que tem sido fortemente reprimido no Reino Unido. Representam uma das piores faces do futebol, uma indústria milionária (como se viu de resto neste mercado de inverno) onde ainda grassam dirigentes desportivos que são, logo à partida, através das suas ações e palavras, os primeiros instigadores da animosidade entre clubes.

Quinta-feira, 2 de fevereiro

Ucrânia. Usar dinheiro russo para pagar reconstrução

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, voltou a deslocar-se até à Ucrânia, pela quarta vez desde que a Rússia iniciou a invasão a 24 de fevereiro de 2022, e desta feita fez-se acompanhar por mais 15 comissários europeus para uma série de reuniões com o governo de Volodymyr Zelensky, que incluiram a realização da 24.ª cimeira União Europeia/Ucrânia. Além de o Conselho da UE ter anunciado um novo pacote de assistência militar no valor de 500 milhões de euros, o dia ficou também marcado pela aprovação no Parlamento Europeu (489 votos a favor, 36 contra e 49 abstenções) de uma deliberação a exortar a UE avançar na adesão da Ucrânia (o estatuto de candidato foi atribuído em junho de 2022) e avançar com um 10.º pacote de sanções contra o regime de Putin. Von der Leyen, aliás, quer assinalar o primeiro aniversário da invasão com a introdução das novas sanções, frisando que está a ser estudada uma forma de usar os bens públicos da Rússia que foram congelados pela UE para pagar a reconstrução da Ucrânia. Zelensky insistiu na importância de uma derrota russa: "A Rússia está a concentrar as suas forças, todos sabemos disso. Quer vingar-se não só da Ucrânia, mas também da Europa livre".

Sexta-feira, 3 de fevereiro

Educação. Braço de ferro sem fim à vista

Depois de um encontro na véspera que motivou leituras, no mínimo, contraditórias - o Governo viu avanços nas negociações; os professores disseram que "não saiu coisa nenhuma da reunião" -, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, foi o porta-voz de nove estruturas sindicais para garantir, ontem, que "a luta dos professores vai continuar" enquanto não for alcançado "um acordo global" em vez de "acordozinhos a granel". Ou seja: as greves de professores, nas suas diferentes tipologias, vão perdurar. Certo é que há alunos, como o DN noticiou, que contam pelos dedos das mãos os dias completos de aulas que tiveram desde que o STOP anunciou greve 9 de dezembro, principalmente crianças do 1.º ciclo, com apenas um professor e numa fase crucial para assimilarem as aprendizagens, processo que já tinha sido perturbado com a pandemia. Tendo isso conta, coube ao Presidente da República - que esta semana alertou que "há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles" - fazer a melhor leitura do que representa a falta de entendimento entre docentes e Governo: "Não é um problema de o sistema de educação aguentar, é o problema de ser um ano letivo substancialmente perdido ou não".

pedro.sequeira@dn.pt

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