Sociedade
19 abril 2021 às 21h19

Desconfinar devagar, devagarinho. Lisboetas voltam à rua com precaução

Três meses passados desde o encerramento de lojas e restaurantes, a cidade volta a abrir portas no dia em que a terceira fase de desconfinamento arranca. O DN foi sentir a pulsação desta reabertura.

Mais de um ano após o início da pandemia em Portugal, os efeitos económicos da covid-19 estão hoje a descoberto. No dia em que todo o país - com exceção de dez municípios - volta a desconfinar mais um pouco, são muitas as lojas e os cafés que não abriram portas.

Na Avenida António Augusto de Aguiar, ponto de concentração para quem utiliza os transportes públicos lisboetas, a azáfama é visível com a circulação de centenas de pessoas. No interior do centro comercial El Corte Inglés, os corredores voltaram a receber clientes e, nas lojas, são muitos aqueles que procuram uma nova peça de roupa depois de meses com os estabelecimentos fechados. "As regras de segurança são as mesmas do último desconfinamento", diz ao DN fonte da superfície comercial, que acrescenta estar "à espera de muitas pessoas".

Neste centro, nenhum espaço ficou vago durante o encerramento e alguns aproveitaram a oportunidade para fazer obras de remodelação ou reparação. "Fizemos uma pequena intervenção na fachada, mas nada de especial", conta a mesma fonte. Agora é tempo de retomar o ritmo de trabalho, esperando que, tão cedo, não seja preciso voltar a encerrar.

Maria Magalhães toma o pequeno-almoço na zona de restauração, que, a meio da manhã, contava apenas com cerca de seis pessoas. "Precisava de comprar umas coisas e aproveitei para vir dar uma volta, já estava a fazer falta", conta ao DN. Apesar de já ter tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19, relembra que "temos de manter todos os cuidados", mas aponta que "as pessoas parecem estar a cumprir as regras".

Junto ao cinema, os funcionários terminam as últimas arrumações e preparam tudo para o regresso das salas. A primeira sessão só arranca às 13h00 e as bilheteiras mantêm-se vazias, cenário a que se habituaram ao longo do último ano. Em 2020, estes espaços de entretenimento registaram quebras no volume de negócios superiores a 75%, que resultaram em menos 11,7 milhões de espetadores e numa redução de 62,7 milhões de euros em receitas.

Alguns quilómetros mais a sul, no coração da Baixa lisboeta, são muitas as lojas, os cafés e os restaurantes que mantêm as grades fechadas. O movimento de pessoas na Rua Augusta é fraco e as poucas que param para beber um café optam por fazê-lo nas esplanadas. O receio de permanecer num espaço fechado ainda impede alguns de dar um passo em frente. "Esperamos que seja retomada alguma normalidade, as pessoas ainda estão receosas e a tentar habituar-se a esta nova fase", diz Pedro Dias, responsável d"A Brasileira. O icónico café reabriu a esplanada há duas semanas, mas os turistas estrangeiros, cuja presença em Lisboa ainda é reduzida, fazem falta para que o funcionamento seja o de sempre. "Como ao fim de semana temos de encerrar às 13h00, fomos obrigados a readaptar-nos um pouco em termos de serviço", afirma Pedro Dias.

Descendo até aos Armazéns do Chiado, o cenário não se altera. Lá fora, são poucas as pessoas na rua, que apenas ganha vida através da voz de João Paulo Ferreira, artista musical que viu dezenas de concertos cancelados e que trocou os palcos pela calçada portuguesa. "A pandemia deixou-me com concertos cancelados e deu-me um murro no estômago, mas para mim este é um palco maravilhoso porque posso expressar a minha arte depois de estar tanto tempo parado", partilha com o DN. "Esta zona costuma estar muito cheia, acho que as pessoas estão a ter consciência e isso para mim é bom sinal", diz João Paulo Ferreira. No centro comercial da Rua Garrett, as portas registam dezenas de entradas e saídas constantes de clientes que, lá dentro, procuram beber uma bica, comprar o jornal ou parar para almoçar. É o caso de Cecília Máximo e do marido, José, que aproveitaram a reabertura das lojas para almoçar fora. "Já estávamos fartos de estar em casa, tínhamos saudades deste movimento", adianta José. Conta que esta é uma forma de juntar "o útil ao agradável". "Vimos arejar e ajudamos a economia a recuperar."

Independentemente do motivo, a verdade é que a partir desta segunda-feira as lojas, a restauração e as salas de espetáculo voltam a abrir portas e a receber clientes, ainda que com limitações à lotação dos espaços e ao horário de funcionamento. Se tudo correr bem, e se a incidência de covid-19 não subir acima do limite estabelecido, a última fase de desconfinamento está agendada para 3 de maio, altura em que são levantadas todas as restrições à economia nacional.

dnot@dn.pt