Foram divulgados esta quarta-feira os resultados do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS). Trata-se de um estudo internacional de avaliação do desempenho de alunos – este ano aplicado aos 4.º e 8.º anos de escolaridade – a Matemática e a Ciências, que tem permitido comparar e analisar a evolução do desempenho dos estudantes desde o ano de 1995. Participam no TIMSS 58 países de todos os continentes..Segundo o relatório a que o DN teve acesso, os alunos do 8.º ano de escolaridade alcançaram uma pontuação média a Matemática de 475 pontos (numa escala de 0 a 1000), um valor próximo da média internacional (478 pontos). Contudo, o resultado de 2023 representa uma descida, “estatisticamente significativa, de 25 pontos, face à avaliação de 2019”. É também o mais baixo, quando comparado com os restantes países da Europa que também participaram no estudo, como França, Itália, Hungria, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, entre outros..Para Cristina Mota, professora de Matemática e porta-voz do movimento apartidário Missão Escola Pública, a explicação para os fracos resultados prende-se com currículos pouco exigentes. “Os resultados do TIMSS 2023 para os alunos portugueses do 4.º e 8.º anos em Matemática confirmam as perceções já observadas pelos professores nas suas salas de aula: o desempenho e os conhecimentos dos alunos têm vindo a diminuir. Este fenómeno reflete a falta de professores, o desinvestimento na educação e, no caso do 8.º ano, a substituição de currículos mais exigentes pelas Aprendizagens Essenciais, o que tem condicionado negativamente o desempenho dos alunos e contribuído para o decréscimo das suas competências”, frisa..A docente considera o panorama “preocupante” e pede mudanças. “No 8.º ano, apenas 49% dos alunos atingiram, pelo menos, o nível intermédio, muito abaixo da média internacional (55%), refletindo uma quebra no desempenho global. É fundamental a revisão dos programas das várias disciplinas, promovendo currículos mais exigentes e adequados às necessidades dos alunos, em substituição das Aprendizagens Essenciais”, justifica..A porta-voz da Missão Escola Pública pede uma “intervenção urgente do ministro da Educação, Ciência e Inovação e da sua equipa para implementar as propostas previstas no programa do governo”. “É essencial avançar com a valorização da carreira docente, nomeadamente através da revisão do Estatuto da Carreira, garantindo maior estabilidade e atratividade para a profissão. Estes resultados sublinham a necessidade de uma resposta estruturada e robusta que valorize os professores, promova a igualdade de oportunidades e reforce a qualidade da escola pública em Portugal”, conclui..Menos preocupantes são os resultados dos alunos do 4.º ano de Matemática, que conseguiram uma pontuação média de 517 pontos. Trata-se de um resultado médio acima dos valores internacionais (503 pontos), embora represente, segundo o relatório, “uma descida significativa de oito pontos, face ao ciclo do TIMSS de 2019”. Em Ciências, estes alunos de 1.º ciclo também obtiveram resultados acima da média e houve uma ligeira melhoria face aos últimos testes de 2019..Alunos do Centro e Norte de Portugal com melhores resultados.Os resultados do estudo evidenciam uma diferença no desempenho dos alunos portugueses da zona Norte e Centro, face à zona Sul. Cristina Mota aponta “desigualdades” entre os estudantes das várias zonas do país. “Os dados evidenciam desigualdades regionais: os melhores resultados concentram-se no Norte e no Centro, com a região Norte beneficiada, certamente, por ainda não sentir significativamente a falta de professores. Nas regiões do Interior e do Sul, onde esta carência é mais notória, os desempenhos são inferiores, agravados por desigualdades no acesso a recursos e à estabilidade do corpo docente”, explica..A situação, em 2019, foi a mesma. Os alunos do Centro e do Norte conseguiram melhores resultados do que os alunos da zona Sul..Há ainda uma diferença entre os estudantes do ensino privado e do público, com os do privado a conseguirem obter melhores resultados. Segundo Cristina Mota, “não é surpreendente”. “Os alunos destas escolas geralmente provêm de meios socioeconómicos mais favorecidos, o que influencia de forma positiva o desempenho. Além disso, as condições nos colégios privados são superiores, com turmas mais reduzidas, maior estabilidade do corpo docente e uma maior diversidade de recursos pedagógicos e tecnológicos”, sublinha. Para a porta-voz da Missão Escola Pública, estes fatores criam um ambiente mais propício à aprendizagem e ao sucesso académico.