Alice Pontes: "Recordo-me de ter tido reuniões com o meu filho numa sala ao lado"
Alice Pontes é hoje diretora comercial para a região Norte na Caixa Geral de Depósitos, onde diz existir um ambiente cada vez mais paritário. Ao DN recorda o momento em que assumiu novas funções e descobriu que estava grávida.
A vida podia ter sido muito diferente para Alice Pontes, hoje diretora comercial da Caixa Geral de Depósitos (CGD) para a região Norte. Por influência dos colegas e amigos, a licenciada em Economia recorda que chegou a optar pela área de Humanidades no secundário, mas que rapidamente se arrependeu e percebeu que não era aquela a opção certa para si. "Acho que deixar essa área foi uma das primeiras melhores opções da minha vida, marcou o meu percurso profissional", assinala.
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Assim que entrou no mercado de trabalho ingressou no Banco Nacional Ultramarino, que operou até 2001, ano em que foi absorvido pela CGD, onde teve oportunidade de integrar a recém-criada direção de empresas. Mas seria anos mais tarde, em 2005, que viria a viver o seu primeiro grande desafio.
"Surgiu a oportunidade para assumir a coordenação desse gabinete numa altura em que estou grávida de três meses", começa por dizer. Na altura, refere, já tinha um filho e a chegada do segundo coincidia com a nova função, que teria de desempenhar a 45 quilómetros de casa. "Senti receio inicialmente, mas rapidamente percebi que não precisava", diz, complementando que sentiu apoio da estrutura para abraçar a nova fase profissional. "Recordo-me de ter tido reuniões com o meu filho numa sala ao lado", comenta. Conseguir o equilíbrio entre trabalho e família é o grande desafio identificado por Alice Pontes, que não tem dúvidas de que a divisão de tarefas pelo casal é um dos elementos mais importantes para o sucesso laboral de ambos. "Há uns anos seria impensável o marido fazer licença parental e hoje em dia já é algo banal e frequente", afirma.
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Porém, este medo de falhar que menciona é, acredita, algo que afeta muitas outras mulheres na altura de assumir cargos de liderança. "É preciso que as mulheres acreditem nas suas competências, mas também é preciso que sejam dadas oportunidades", realça, sublinhando a importância da meritocracia.
De acordo com um estudo recentemente publicado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE na sigla em inglês), as novas formas de trabalho remoto num mundo progressivamente mais digital podem contribuir para uma maior igualdade de género, já que permitem o desejado equilíbrio família-emprego. A diretora comercial da CGD defende que a verdadeira mudança de paradigma face à paridade nas empresas só acontecerá quando três dimensões foram prioritárias para a sociedade - a educação e a cultura, a divisão de tarefas com os parceiros e, reforça, a autoconfiança das mulheres. "Isto é essencial", assegura.
Apesar de assumir que nunca se sentiu discriminada pelo género, Alice Pontes reconhece que "essa não é a realidade de outras áreas e sectores", ainda que considere que a evolução tem sido, nas últimas décadas, positiva. Contudo, "ainda se nota bastante que as lideranças das áreas financeiras [em algumas empresas com que lida regularmente] têm uma maioria masculina". A gestora de contas empresariais diz, no entanto, que existe uma diferença na realidade vivida pelos trabalhadores de multinacionais e grandes empresas face a colaboradores de PME, a esmagadora maioria no tecido empresarial português. "Nas empresas familiares ainda é, muitas vezes, o homem que lidera", aponta. Já internamente, na Caixa Geral de Depósitos, a responsável comercial regista que o banco público tem feito "um grande caminho nesse sentido" e conta hoje com uma "presença feminina reforçada" no seu Conselho de Administração.
Paridade é decisiva na "criação de valor"
Poucos dias depois da divulgação do Índice de Diversidade de Género 2021, da plataforma European Women on Boards (EWON), que diz que apenas 7% das empresas na Europa são lideradas por mulheres, a Caixa Geral de Depósitos confirma ao DN a crescente paridade de género na sua estrutura de topo.
"Face ao ano anterior, há uma evolução positiva do grau de maturidade em matéria de igualdade de género, registando-se um aumento de 22% no cumprimento de objetivos e designadamente a presença de mais 35% de mulheres no Conselho de Administração", escreve o banco público em nota enviada ao DN. Este caminho, que a estrutura vê "com entusiasmo", tem vindo a ser percorrido nos últimos anos e permite que o Conselho de Administração seja hoje constituído, ao nível da administração executiva, por três mulheres e quatro homens.
dnot@dn.pt