"Sorrir é o mais importante de tudo". E seguem-se sorrisos de todos os que ouvem Ahsan Hayat responder o que é fundamental na hora de atender os hóspedes que chegam a um hotel. Este jovem paquistanês de 32 anos, que há um ano vive em Portugal, não esconde a boa disposição para mostrar o que aprendeu ao longo dos últimos três meses. "Temos de ter uma atitude positiva ao receber os hóspedes e ter atenção às regras do hotel. Mas quando o hóspede chega, deve também sentir que está em casa", completa.Ahsan é aluno numa das turmas do Programa de Formação e Integração de Migrantes no Turismo que teve aulas na Escola de Hotelaria de Lisboa. Casado, pai de uma filha, escolheu Portugal com a família "para ter um bom futuro". Nesta que é a sua primeira experiência na área do Turismo, aprendeu não apenas sobre bons modos e acolhimento, mas cumpriu todo o rigoroso programa, que vai desde as funções na hotelaria propriamente dita, ao serviço na restauração, padaria, pastelaria, noções para lidar com alojamentos locais e até animação turística. São mais de 200 horas de aulas práticas e mais de 100 teóricas, onde estão incluídas as de Língua Portuguesa..Assim como Ahsan, Asrafunnaher Sadhana, de 26 anos, encontrou na formação a hipótese de conseguir ter uma profissão em Portugal. Licenciada em Comunicação e Cinema no Bangladesh, o seu país de origem, está em Portugal há sete meses, mas não conseguiu entrar na área em que tem experiência. Aproveitou a formação em Turismo para aprender mais sobre o país que agora é a sua casa. "Como imigrante, e como estou cá agora, aprendemos especialmente que cada local e cada setor do Turismo tem uma ética diferente. E que Portugal tem uma ética de trabalho. Aprendemos sobre ter uma atitude positiva, como receber os hóspedes, é isso que destaco do nosso curso", conta."É um setor e uma indústria onde há muitas oportunidades de crescimento profissional, em áreas, funções e tarefas muito distintas. E por isso mesmo eu diria que é um setor apaixonante para pessoas que estejam em Portugal e que queiram integraá-lo, que possam fazer aqui uma carreira profissional. E este programa é um instrumento de formação que o Turismo de Portugal lançou precisamente para ajudar não só os migrantes a terem uma formação imersiva nas áreas do turismo e da hospitalidade, mas também para ajudar as empresas", explica ao DN Catarina Paiva, administradora do Turismo de Portugal..Lançado no início deste ano para responder à falta de mão de obra no setor, o programa vai formar, até o final do ano, 1299 imigrantes, que são, maioritariamente, oriundos do Brasil, Angola, Índia, Nepal, Paquistão e Bangladesh.Até agora, cerca de 600 já concluíram ou estão a concluir as aulas nas escolas de hotelaria da rede ou em instituições parceiras. Com o fim da formação, os alunos seguem para os estágios práticos numa das 329 empresas a disponibilizar vagas. "Se tudo correr bem, porque naturalmente isto é uma decisão que implicará uma avaliação, quer da empresa, quer do próprio migrante, depois poderá haver, ou não, integração nessa empresa em termos de contrato de trabalho", explica Catarina Paiva, reforçando que as expetativas são positivas."Neste momento estamos muito focados em conseguir concretizar a formação para todos os migrantes, tentar integrá-los nas empresas e depois fazermos uma avaliação global do programa. Para já, o saldo é bastante positivo, porque o que sentimos ao conversar com as 12 escolas, é que o programa está a ter um impacto muito positivo na vida destas pessoas", afirma a administradora..Um impacto que vai ajudando na superação de outras dificuldades que a vida de imigrante traz. Professor de biologia, Nuha Samateh, da Gâmbia, que vive em Portugal há um ano, não consegue exercer a profissão. "Ainda estou a tratar da parte burocrática", conta.Aos 36 anos, está a reinventar-se e faz questão de celebrar as suas conquistas. Ainda que a timidez esteja presente, em português, língua que só veio aprender agora na formação, fala sobre o que espera para o seu futuro. "Gosto de trabalhar na hotelaria, este é meu objetivo. Os professores são muito simpáticos e ajudam muito para que durante este curso nós possamos aprender muito".Toda a turma aplaude Nuha - as conversas que o DN teve com os seus colegas foram em inglês - e nota-se claramente o envolvimento entre alunos e professores. "Estão com um entusiamo enorme, com uma enorme expetativa, e estão prontos para o mercado de trabalho", diz a formadora Liliana Conde..Um mercado que está diretamente ligado ao fluxo migratório. Desde a pandemia, o preenchimento dos postos de trabalho vagos no Turismo em Portugal foi feito por trabalhadores de outros países. Não será por acaso que as atuais decisões que envolvem as políticas para imigração, como as alterações à Lei de Estrangeiros, ou a criação da chamada "via verde", são motivo de preocupação para o setor. De acordo com Catarina Paiva, a avaliação que será feita no final do ano vai "estar atenta àquilo que seja a nova realidade em Portugal relacionado com o tema das migrações".O Turismo de Portugal assume uma nova edição do programa em 2026 após o balanço desta edição. "Vamos fazer essa reflexão com os parceiros, que aqui têm um papel fundamental, quer à AIMA, quer à CTP [Confederação do Turismo de Portugal], faremos essa avaliação e essa reflexão sobre o futuro do programa e que ajustamentos ou não é que deverá ter em função não só da experiência desta primeira edição, mas também da realidade que se verifique no final do ano. Porque o Turismo de Portugal, nessa matéria, não tem competência. O que nos cabe a nós, por um lado, é estar atentos às necessidades do setor do Turismo e, por outro lado, estar atentos à realidade da nossa sociedade em termos demográficos, em termos de ciclos migratórios e vamos, em articulação com a AIMA, pensar que ajustamentos fazer em relação ao programa", conclui Catarina Paiva..Turismo de bem-estar vale quase 1,4 biliões e Portugal está no 'top' 20 .Brasileiros vivem incerteza com mudanças das regras na imigração