Administração do Hospital Amadora-Sintra demite-se. Ministra da Saúde aceitou
JULIO LOBO PIMENTEL

Administração do Hospital Amadora-Sintra demite-se. Ministra da Saúde aceitou

Os membros do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra anunciam, em comunciado enviado às redações, que fizeram saber à ministra da Saúde e ao novo diretor executivo do SNS que renunciam aos cargos. Ordem dos Médicos lembra que demissões "não resolvem problemas do hospital".
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 Passavam 20 minutos das 15.00 desta quinta-feira, precisamente na altura em que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, respondia no Parlamento à deputada Mariana Mortágua, sobre a situação do Hospital Amadora-Sintra, quando chegou às redações um email enviado pelos elementos do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde Amadora Sintra a anunciar que renunciavam aos mandatos.

"Os membros do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Amadora Sintra, E.P.E. apresentaram hoje a Sua Excelência, a Ministra da Saúde e ao Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde, a renúncia aos cargos", lê-se no comunicado.

Este comunicado chega às redações 24 horas depois de o presidente da ULS, Luís Gouveia, ter anunciado aos jornalistas, após reunião no ministério da João Crisóstomo, com Ana Paula Martins, que tinha "condições para se manter em funções". Na terça-feira, tinha sido a própria ministra a anunciar esta reunião, dizendo que esperava que dela "saíssem resultados e consequências". E estas estão à vista.

Segundo apurou o DN, o comunicado do CA do Amadora Sintra terá chegado ao ministério já com Ana Paula Martins no Parlamento e quase no momento de começar a falar. Daí que o anúncio de esta ter sido aceite, só chegar ao final da tarde. Os elementos do conselho de administração terão de assegurar funções até às novas nomeações.

Na nota enviada aos jornalistas é dito que "a Ministra da Saúde recebeu ao início da tarde o pedido de demissão do Conselho de Administração da ULS Amadora Sintra, que aceitou." A ministra irá agora "reunir-se com a Ordem dos Médicos e com o grupo dos médicos internos do serviço de cirurgia do Hospital Fernando da Fonseca que escreveram uma carta denunciando falhas de segurança para os doentes."

No hospital, a saída desta administração era esperada, sobretudo nos últimos 15 dias, e desde que o serviço de urgência atingiu as 30 horas de espera para doentes triados com pulseira amarela, urgentes, e seis a oito horas de espera, para os doentes triados com pulseira laranja, muito urgentes. Situação que, e como referiram na altura fontes hospitalares ao DN, “nunca antes vista”.

No comunicado divulgado, o conselho de administração da ULS, que integra o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), no cargo há pouco mais de um ano, refere que “sempre seguiu o caminho da legalidade, da ética e da justiça, nunca considerando qualquer outro”, reiterando que “a prioridade sempre foi garantir o interesse dos utentes, a confiança na instituição e a qualidade dos serviços prestados.”

No mesmo texto, pode ler-se que “esta decisão permitirá à tutela implementar as medidas e políticas que considere necessárias, não sendo este Conselho de Administração um obstáculo.” Os elementos do CA enaltecem ainda “toda a colaboração das Câmaras Municipais de Sintra e da Amadora e entidades parceiras”, deixando também “uma palavra especial de reconhecimento e agradecimento aos profissionais da ULS Amadora/Sintra, pelo extraordinário trabalho desenvolvido diariamente no cumprimento da Missão desta Unidade Local de Saúde.”

Administração do Hospital Amadora-Sintra demite-se. Ministra da Saúde aceitou
Presidente do Amadora-Sintra garante que se mantém em funções e pede reunião urgente com bastonário

A demissão do diretor do Serviço de Urgência na semana passada, e da qual a tutela só teve conhecimento, esta semana, e depois de a decisão ter sida anunciada aos chefes de equipa, também não ajudou.

Tal como o comunicado da Ordem dos Médicos, no mesmo dia, a dizer que o hospital está “a funcionar no limite técnico” na área da cirurgia. A ministra diz ter sido surpreendida com este comunicado e o presidente do CA, Luís Gouveia, anuncia que vai pedir uma reunião urgente ao bastonário, para discutirem a situação da unidade.

Além das dificuldades no funcionamento do serviço de urgência, o Amadora-Sintra tem também o serviço de cirurgia geral a funcionar a meio gás, desde que, em outubro, perdeu dez cirurgiões, que optaram por sair devido à reintegração de dois médicos que estavam afastados da unidade. A Ordemjá ameaçou retirar a idoneidade ao serviço de cirurgia geral para formar novos internos.


Ordem diz que é preciso intervenção da tutela no Amadora-Sintra

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) já reagiu a esta decisão lembrando que “os problemas do Hospital Amadora-Sintra não desaparecem" com a demissão do Conselho de Administração.

Carlos Cortes disse à Agência Lusa que "o foco que a OM tem, que teve nos últimos dias e que vai continuar a ter, é na defesa dos cuidados de saúde e dos doentes, no acesso aos cuidados nesta ULS”.

O bastonário, segundo a Lusa, não quis “abordar muito o caso”, considerando que a demissão da administração diz respeito ao Ministério da Saúde e à DE-SNS, mas, destacou, que é "preciso uma intervenção rigorosa" da tutela. "Eu não queria falar muito sobre esta matéria, tendo em conta que vamos ter uma reunião com a ministra da Saúde na segunda-feira, e depois dessa reunião, e percebendo qual é a ideia do ministério para o Amadora-Sintra, é que a OM falará", disse.

O bastonário disse também que "não tinha ideia" da demissão e reiterou que a situação na ULS de Amadora-Sintra "é de uma grande gravidade, nomeadamente na resposta à urgência".

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Espera de doentes urgentes no Hospital Amadora-Sintra ultrapassou as 30 horas este fim de semana

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