"Acho que, enquanto mulher, é muito importante dar o exemplo a outras"

Mónica Sousa recusa a ideia de que não é possível conciliar a carreira profissional com a vida familiar e reconhece ser "privilegiada" por nunca ter sido discriminada no trabalho.

Algarvia de gema, Mónica Sousa fez o seu caminho até Lisboa com a intenção de, um dia, vir a ser jornalista. Foi na capital, durante o curso de Comunicação Empresarial no ISCEM, que percebeu que a área do marketing e da relação com os clientes era mesmo aquilo que gostava de fazer. Mais tarde, deixou o mundo das agências de comunicação e passou para as empresas, tendo trabalhado no grupo MTV, depois na FNAC e, por fim, na Sonae MC. "Apesar de adorar o ambiente criativo da agência, sempre tive o bichinho de ir para o lado do cliente", reconhece ao Diário de Notícias. Hoje é diretora de marketing na Ikea Portugal, um novo desafio que abraçou em agosto após mais de três anos como responsável de marketing e comunicação. "Partilho muito os valores da empresa, por isso é um bom match, e sempre foi o meu drive trabalhar em marcas com propósito", aponta.

Os valores que Mónica Sousa refere prendem-se, sobretudo, com o respeito pela individualidade e pelos direitos humanos de cada um, incluindo as questões ligadas à paridade de género. "Trabalhar com um propósito torna mais fácil aquela ideia de ser feliz a trabalhar e é por isso que estou lá há quase quatro anos", diz. Sobre se alguma vez se sentiu prejudicada, a nível profissional, pelo seu género, a especialista em comunicação diz ser "privilegiada por nunca ter sentido que fui prejudicada por ser mulher". Porém, admite já ter sentido pequenas demonstrações machistas que, no entanto, nunca a prejudicaram ou nunca levou a sério. "Eventualmente, dar a minha opinião e depois tornar-se numa ideia que é passada como se tivesse sido de um homem e não minha", concretiza.

Nas empresas por que passou, as políticas de recursos humanos orientadas para a não discriminação dos colaboradores existiam, mas Mónica Sousa sublinha que "a forma como são vividas no dia a dia é diferente". Na Ikea, a profissional diz sentir "um clima aberto" em todos os temas sociais e que "é isso que torna a cultura tão rica". Ainda assim, nas conversas que teve com colegas que participaram na primeira edição do programa Promova, organizado pela CIP com a NOVA SBE, recorda-se de "falarem sobre aqueles conselhos de administração altamente machistas e nunca me lembro de ter estado numa empresa que fosse assim". Acredita, contudo, que as mulheres acabam por se boicotar a si mesmas por falta de confiança nas suas capacidades enquanto trabalhadoras e, por vezes, enquanto mães. "Sinto que as mulheres têm demasiado medo de acharem que não são capazes de conciliar uma carreira com a família. Eu tenho dois filhos e está tudo a correr bem, sou uma mãe muito presente", assegura.

É, também, por isso que considera importante existirem projetos como o Promova, que pretendam dar às mulheres as ferramentas de que precisam para serem futuras líderes empresariais. "Acho que, enquanto mulher, é muito importante dar o exemplo a outras", observa a responsável de marketing. No caso de Mónica Sousa, a participação neste programa de formação "foi quase como um passaporte para entrar neste novo cargo", já que lhe permitiu reforçar as suas competências profissionais, aumentar os níveis de autoconfiança e alargar a sua rede de contactos. "Foi uma confirmação de que já estava preparada para assumir o lugar", afirma.

Política RH da Ikea

Trabalhar para a igualdade

Mais do que um tema de mulheres ou de homens, a paridade de género é, em todas as suas dimensões, um assunto que toca a todos. Porém, os dados nacionais e internacionais sobre as diferenças entre trabalhadores de sexos opostos indicam que ainda há caminho a percorrer: de acordo com a ONU, existe, em média e a nível global, uma disparidade de 23% entre o salário de homens e mulheres com a mesma função. Em Portugal, a diferença é reduzida para perto de 15% e denuncia espaço para melhoria nas empresas nacionais. A Ikea é uma das organizações que tem vindo a trabalhar para a igualdade entre os seus quadros, tendo anunciado que já não existe na sua operação em Portugal qualquer diferença salarial entre géneros.

O mesmo tipo de compromisso foi firmado pela empresa com os seus colaboradores em temas que incluem o equilíbrio entre sexos em todos os cargos, operacionais ou de gestão, e o respeito pela inclusão LGBT+. Mónica Sousa garante que "este clima de paridade e igualdade é, efetivamente, vivido, falado e cultivado", tanto na estrutura interna como nas relações com parceiros e fornecedores. "Fizemos um concurso de agências criativas e uma das coisas que pedimos era que nos dissessem qual era a quota de mulheres na liderança das agências, porque achamos que isto não é só para ser vivido internamente", aponta.

Recorde-se que a Ikea integra um conjunto de dezenas de empresas, portuguesas e multinacionais, que assinaram um acordo para a promoção da igualdade de género no trabalho. A monitorização do cumprimento deste objetivo é anual, de forma a garantir que todos remam na direção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

dnot@dn.pt

Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad

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