Forças Armadas "desmentem categoricamente" existência de relatório da secreta militar
O Estado-Maior General das Forças Armadas "desmente categoricamente" que o Centro de Informações e Segurança Mlitares (CISMIL) tenha feito qualquer relatório sobre o furto de material em Tancos.
A afirmação foi feita ao DN pelo porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), tenente-coronel Hélder Perdigão, na sequência da manchete deste sábado do jornal Expresso.
O EMGFA também "desconhece qualquer outro documento com o teor das afirmações publicadas no artigo em causa", declarou Hélder Perdigão.
O Expresso diz na sua edição deste sábado que há um "documento secreto elaborado pelos serviços de informações militares", sobre o furto de material de guerra nos paióis de Tancos, onde imputa responsabilidades "ao nível político e chefia militar" pelo estado em que estavam as infraestruturas.
O jornal adianta que, "segundo o documento, todo o incidente evidenciou 'fragilidade de liderança e capacidade de gestão da crise, quer ao nível militar, quer ao nível político'".
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Note-se que, oficialmente, não foi pedido qualquer relatório ao CISMIL sobre aquele assunto por parte do ministério, do EMGFA ou do próprio Exército.
Acresce que o CISMIL não tem competências para fazer análises daquele teor.
Segundo o Expresso, o alegado relatório analisa e comenta as posições tomadas pelo ministro da Defesa e pelo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), considerando que Azeredo Lopes agiu com "ligeira [e foi] quase imprudente", exibindo "arrogância cínica" e fazendo "declarações arriscadas e de intenções duvidosas".
Quanto ao CEME, o jornal diz que o general Rovisco Duarte "é acusado de ter assumido a responsabilidade 'mas não ter tirado consequências desse ato'".
O CISMIL, de acordo com a lei, "tem por missão assegurar a produção de informações necessárias ao cumprimento das missões das Forças Armadas e à garantia da segurança militar", cabendo-lhe "promover, de forma sistemática, a pesquisa, a análise e o processamento de notícias e a difusão e arquivo das informações produzidas".
Em particular, cabe ao CISMIL "comunicar às entidades competentes para a investigação criminal e para o exercício da ação penal os factos configuráveis como ilícitos criminais, salvaguardado o que nos termos da lei se dispõe sobre segredo de Estado", assim como "as notícias e as informações de que tenha conhecimento e respeitantes à segurança do Estado e à prevenção e repressão da criminalidade".
Costa e Marcelo desconhecem
O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje desconhecer "em absoluto" um relatório das secretas sobre o furto de armas em Tancos, não querendo comentar no detalhe o assunto "no meio de uma campanha eleitoral".
"Obviamente que não vou tratar assuntos desta relevância no meio de uma campanha eleitoral. A única coisa que queria dizer é que desconheço em absoluto esse relatório", vincou Costa, falando em Lagos numa ação de campanha para as autárquicas de outubro.
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Também Marcelo Rebelo de Sousa não conhece esse relatório. "Não li sequer a notícia sobre o relatório. Mas ninquém esperaria que o Presidente da Republica comentasse uma notícia sobre um relatório secreto, que naturalmente tem a sua confidencialidade, se é que existe naqueles termos, tem a sua confidencialidade e portanto deve chegar por outros meios", afirmou o presidente, salientando" contudo o que já afirmou anteriormente: Os portugueses esperam e o Presidente da República espera que haja o apuramento de uma realidade que é muito importante e que é: houve ou não atuação criminal, se houve em que é que se traduziu e quem são os responsáveis".
Oposição lança mais críticas e pede esclarecimentos
A propósito do relatório, o líder do PSD acusou o Governo de "tiques de autoritarismo" por ocultar ao parlamento informações sobre o furto de material de guerra em Tancos e questionou se o Presidente da República está a par do relatório.
"Não sei se o senhor Presidente da República está a par do que se passa, mas o parlamento não sabe de nada, temos de comprar o Expresso ao sábado para saber o que se passa com o Orçamento, para saber o que passa com os paióis militares, para termos as notícias que o Governo tem a obrigação de prestar ao parlamento?", questionou Pedro Passos Coelho.
A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, por seu lado, disse que o ministro da Defesa "não esteve à altura das suas responsabilidades" e "do cargo que desempenha" no caso do desaparecimento de armas de guerra em Tancos.
"Este relatório vem confirmar aquilo que foi sempre a preocupação e a linha do CDS, quando afirmou que o ministro da Defesa não esteve à altura do seu lugar e das suas responsabilidades", afirmou aos jornalistas Assunção Cristas, adiantando que o partido "não mudou de opinião" quanto à demissão de Azeredo Lopes, que "naturalmente tem de ser responsabilizado por esta situação".
A coordenadora do BE, Catarina Martins, afirmou que continua "a aguardar esclarecimentos cabais do Governo" sobre o furto de armas em Tancos, mas escusou-se a comentar o relatório.
"Como compreende eu não posso comentar um relatório que não conheço. O relatório é secreto, é dos serviços de informações, há notícias sobre o relatório, mas nós não conhecemos o relatório. Sobre essa matéria não posso dizer absolutamente nada", respondeu Catarina Martins aos jornalistas durante uma ação de campanha autárquica em Amarante, distrito do Porto.