Mais de um mês passado desde as eleições autárquicas de 12 de outubro, com a delegação de poderes entre os elementos da vereação definida em quase todos os 308 concelhos, haverá mais de meia centena de executivos minoritários, o que representa uma em cada seis câmaras municipais. Os casos em que os vencedores integraram vereadores eleitos pela oposição, em busca dos quatro anos de estabilidade que os votos dos munícipes não lhes garantiram, continuam a ser exceção e não regra.O mais notório executivo minoritário será o de Lisboa, apesar de a coligação que reelegeu Carlos Moedas ter mais um vereador do que no seu primeiro mandato. O mesmo acontece em Vila Nova de Gaia, onde o regressado Luís Filipe Menezes liderará o concelho com menos um eleito do que a soma da oposição, o que também será a realidade de autarcas de centro-direita em capitais de distrito como Aveiro e Santarém, onde os vereadores do Chega têm o condão de desempatar. Aliás, os eleitos pelo partido de André Ventura foram decisivos para viabilizar as propostas de delegação de poderes na capital e em Setúbal, onde a ex-comunista Maria das Dores Meira regressou, à frente de um movimento de cidadãos apoiado pelo PSD.Maiores dificuldades para encontrar “aliados”, perante a falta de vereadores à sua esquerda, tiveram os presidentes socialistas que mitigaram a derrota do partido nas eleições de 12 de outubro, nas quais o PS perdeu o estatuto de maior partido no poder local e viu as coligações encabeçadas por sociais-democratas triunfarem nas cinco maiores autarquias nacionais. Tanto o reeleito Leopoldo Rodrigues (Castelo Branco) como os estreantes Ana Abrunhosa (Coimbra), Carlos Zorrinho (Évora) e António Pina (Faro) irão gerir capitais de distrito com executivos minoritários.Apesar de o número ímpar de eleitos contribuir para a formação de maiorias, a transformação do mapa autárquico, com a ascensão do Chega (passou de 19 para 137 eleitos), a manutenção da forte presença de movimentos de cidadãos (muitas vezes liderados por dissidentes dos maiores partidos) e a resiliência da CDU, apesar de ter descido de 148 para 93 vereadores, leva a que mesmo câmaras municipais de menor dimensão tenham ficado com executivos minoritários. Um dos casos mais flagrantes é Benavente, onde a coligação PSD/CDS elegeu Sónia Ferreira, após quatro décadas de governação comunista, tendo consigo apenas o vice-presidente, com quem dividirá todos os pelouros, enquanto na oposição ficam dois vereadores do Chega, outros tantos da CDU e um do PS. E há mais nove casos dessa concentração extrema de poderes, ainda que sobretudo em autarquias com executivos de cinco elementos, por vezes facilitada pela maioria na Assembleia Municipal, mas sobretudo ditada pela falta de alternativas.No mandato anterior houve até uma capital de distrito (Évora) onde só o presidente e o vice-presidente detinham pelouros, mas o comunista Carlos Pinto de Sá, que agora regressou a Montemor-o-Novo, reconquistando-o ao PS, tem uma estratégia diferente nos próximos quatro anos: anunciou a atribuição de pelouros a uma socialista..Acordos para todos os gostos.Nos 22 concelhos onde os vencedores integraram vereadores da oposição houve casos polémicos, como a atribuição do pelouro da Cultura da Câmara do Porto a Jorge Sobrado, um independente eleito pelo PS, que se juntou à coligação PSD/CDS/Iniciativa Liberal, do ex-ministro social-democrata Pedro Duarte, enquanto em Viseu o socialista João Azevedo convenceu o vereador social-democrata Pedro Ribeiro a juntar-se à sua equipa.Havendo casos em que o executivo continua a ser minoritário mesmo com a entrada de quem não foi eleito pelos vencedores, o que sucede em Braga e na Amadora, e de autarcas de movimentos de cidadãos apoiados por socialistas (Elvas e Mafra) e sociais-democratas (Montijo), há dois tipos de vodka laranja, alcunha dada a entendimentos entre PCP e PSD, pois um vereador comunista assumiu pelouros à revelia da concelhia em Sobral de Monte Agraço, enquanto outro o fez em Beja, alinhado com o partido.Quanto ao Chega, sem o mediatismo de Sintra, onde o social-democrata Marco Almeida deu pelouros a dois dos seus três eleitos - mas não a Rita Matias, que continuará deputada -, também em Tomar o centro-direita deu os pelouros das Obras Municipais e da Proteção Civil a Samuel Fontes, cabeça de lista desse partido..Braga. Catarina Miranda eleita vereadora pelo PS integra executivo do social-democrata João Rodrigues.Trofa e Nelas têm choque frontal entre vencedores e oposição.Após levar a coligação Unidos pela Trofa, constituída pelo PSD e CDS, ser a mais votada nas autárquicas de 12 de outubro, Sérgio Araújo disse que não antevia dificuldades apesar de a soma de vereadores da oposição (quatro) suplantar os três elementos eleitos pela lista que encabeçou. Mas a realidade revelou-se mais desafiante para quem acreditava que a vontade de desenvolver o concelho seria o “motivo simples” para a total colaboração dos eleitos da coligação PS/PAN/Livre e do movimento de cidadãos TDT - A Trofa é de Todos .Logo na primeira reunião do executivo municipal, realizada a 29 de outubro, a oposição convergiu no voto contra a proposta de delegação de competências apresentada pelo novo presidente da Câmara da Trofa, acusado de tentar conferir poderes absolutos ao executivo minoritário. Desde então tem havido apaziguamento, mas ainda há muito para resolver nesse concelho do distrito do Porto.Já em Nelas, no distrito de Viseu, mantém-se o clima de guerra aberta entre o PSD, que venceu as eleições, e o PS, que também elegeu três vereadores, sendo o sétimo do CDS, partido que no mandato anterior esteve coligado com os sociais-democratas. A primeira reunião do mandato ficou marcada por aquilo a que os vencedores descreveram como “coligação negativa”, com toda a oposição a chumbar a proposta de delegação de poderes e a indicação de vereadores a tempo inteiro, recusando “passar cheques em branco” ao presidente reeleito, Joaquim Amaral. .Autarquias sem maioria do partido ou coligação que teve mais votos.EXECUTIVOS MINORITÁRIOS SEM ACORDOSLisboa PSD/CDS/IL 8 (17)Vila Nova de GaiaPSD/CDS/IL5 (11)AveiroPSD/CDS/PPM4 (9)SantarémPSD/CDS4 (9)AlenquerPSD/CDS/IL3 (7)LourinhãPSD/CDS3 (7)Celorico de BastoPSD/CDS3 (7)ÍlhavoPSD/CDS3 (7)Santa Comba DãoPSD/IL3 (7)BenaventePSD/CDS2 (7)Ponta DelgadaPSD3 (9)Póvoa de VarzimPSD4 (9)AmaresPSD3 (7)Vila Pouca de AguiarPSD3 (7)FundãoPSD3 (7)NazaréPSD3 (7)FronteiraPSD2 (5)Vila do BispoPSD2 (5)CoimbraPS/Livre/PAN5 (11)Castelo BrancoPS3 (7)ÉvoraPS3 (7)FaroPS4 (9)Vila Franca de XiraPS4 (11)ValongoPS4 (9)MirandelaPS3 (7)CoruchePS3 (7)Torres NovasPS3 (7)GrândolaPS3 (7)MoitaPS4 (9)MonfortePS2 (5)NisaPS2 (5)BorbaPS2 (5)Viana do AlentejoPS2 (5)MouraPS3 (7)LouléPS4 (9)PortimãoPS4 (9)Vila Real de Santo AntónioPS3 (7)SetúbalInd4 (11)Condeixa-a-NovaInd3 (7)SoureInd3 (7)Vila Nova de PoiaresInd2 (5)Caldas da RainhaInd3 (7)Figueiró dos VinhosInd2 (5)Salvaterra de MagosInd3 (7)Santiago do CacémInd3 (7)Santa Cruz das FloresInd2 (5)SinesCDU3 (7)SilvesCDU3 (7)Vale de CambraCDS3 (7)EntroncamentoChega3 (7)AlbufeiraChega 3 (7)ATRIBUIÇÃO DE PELOUROS NEGOCIADOS ENTRE PARTIDOSCascaisPSD/CDS+PS7 (11)SintraPSD/IL/PAN+Chega (pelouros para dois dos três vereadores)7 (11)BejaPSD/CDS/IL+um vereador eleito pela CDU (executivo minoritário)3 (7)TomarPSD/CDS+Chega4 (7)ÍlhavoPSD+um vereador independente4 (7)AlmadaPS+CDU7 (11)AmadoraPS+CDU (executivo minoritário)5 (11)OdivelasPS+PSD (pelouros para dois dos três vereadores)8 (11)AzambujaPS+CDU4 (7)Marinha GrandePS+CDU4 (7)Vila Nova da BarquinhaPS+PSD3 (5)MafraInd+PS5 (9)MontijoInd+PSD4 (7)ElvasInd+PS4 (7)PalmelaCDU+PS5 (9)SeixalCDU+PS7 (11)SesimbraCDU+PSD (executivo minoritário)3 (7)Montemor-o-NovoCDU+PS (uma de dois vereadores)4 (7)ATRIBUIÇÃO DE PELOUROS À REVELIA DOS PARTIDOSPortoPSD/CDS/IL+um vereador eleito pelo PS7 (13)BragaPSD/CDS/PPM+uma vereadora eleita pelo PS (executivo minoritário)4 (11)ViseuPS+um vereador eleito pelo PSD5 (9)Sobral de Monte AgraçoPSD/CDS/PPM/MPT+um vereador eleito pela CDU3 (5)CASOS INCERTOSNelasPSD3 (7)TrofaPSD/CDS3 (7)