Rui Rocha demite-se da liderança da Iniciativa Liberal
Rui Rocha anuncidou na tarde deste sábado (31), sua saída da presidência da Iniciativa Liberal (IL). A decisão foi comunicada por email aos militantes do partido, duas semanas após as eleições legislativas de 2025. No texto, o líder cessante afirma que é tempo de “devolver a palavra aos membros” e iniciar uma nova fase na vida interna da IL.
Em conferência de imprensa, Rocha justificou a decisão: "Queríamos influenciar a política do país, não o podendo fazer, entendo que é altura de mudar de ciclo".
Isto apesar de fazer "um balanço positivo destes dois anos e meio [de liderança]", em que o partido alcançou "os melhores resultados de sempre da Iniciativa Liberal".
O líder demissionário afirmou que esta era "uma decisão que já tinha tomado há mais de uma semana", mas que adiou o anúncio à espera do fecho das contas dos resultados das legislativas.
Rui Rocha negou terminantemente ter sido pressionado para a saída: "É uma decisão minha e apenas minha". E reiterou fazê-lo por considerar que "este ciclo [político] é completamente diferente".
Quanto ao próximo líder da IL, recusou.se a pronunciar-se sobre que características deve ter. "Isso é com a Comissão Executiva e os militantes", disse.
Apesar da saída da presidência da Comissão Executiva, Rui Rocha continuará como deputado na Assembleia da República e garante que se manterá ativo como militante de base da IL.
Leia abaixo o comunicado na íntegra:
Liberais,
Durante os quase dois anos e meio em que tive a honra de exercer a função de Presidente da Comissão Executiva, a Iniciativa Liberal defendeu um Portugal mais livre em quatro eleições regionais (Açores e Madeira), umas eleições europeias e duas eleições legislativas a que se somaram ainda as eleições internas de 2023 e 2025.
Vivemos em dois anos e meio todos estes desafios que, noutras circunstâncias, partidos e lideranças provavelmente só teriam de enfrentar em períodos de tempo bem mais alargados, correspondentes a uma ou mesmo a duas legislaturas.
Nesse período, a Iniciativa Liberal passou a estar representada em todos os parlamentos, obteve o seu melhor resultado de sempre em eleições de âmbito nacional nas Europeias de 2024 e o melhor resultado de sempre em legislativas em número de votos, em percentagem e em número de mandatos nas eleições de 2025. Ao mesmo tempo, o partido deu passos claros no sentido de uma gestão mais profissional, com reforço das equipas e novas ferramentas, crescendo quer em número de núcleos, quer de membros.
Ao longo deste tempo como Presidente da Comissão Executiva a minha prioridade permanente foi a de garantir a autonomia estratégica, política e financeira da Iniciativa Liberal.
Foi por isso que recusámos sempre qualquer possibilidade de integrar coligações pré-eleitorais, apresentando-nos a todas essas eleições com a nossa visão, as nossas propostas e as nossas pessoas. Foi por isso que nos apresentámos a essas eleições com as nossas bandeiras, como único partido que confia nas pessoas e recusa uma visão dirigista, estatista e despesista do país. Foi por isso que recusámos integrar o governo em 2024, constatando que não estavam garantidas as condições para executar uma agenda reformista. Foi por isso que garantimos a atividade do partido com total equilíbrio financeiro e sem endividamento.
E, olhando para estes últimos meses, estou mesmo convencido que tomámos as decisões certas nos momentos mais críticos. Tomámos a decisão certa na discussão da moção de confiança, fizemos uma boa campanha eleitoral, apresentámos as nossas propostas com uma visão positiva para o país, representámos bem os nossos eleitores, estivemos à altura das circunstâncias.
Todavia, com as eleições legislativas de 2025 abre-se um novo ciclo político que se inicia com uma representação parlamentar significativamente diferente. Um ciclo político com enormes desafios e para o qual a Iniciativa Liberal não parte, reconhecendo a minha integral responsabilidade nisso, com a preponderância de um peso eleitoral pelo qual lutámos e todos desejávamos.
Desta vez foi Liberal para mais portugueses, mas ainda não os suficientes. Ainda não os suficientes para acelerarmos Portugal conforme queríamos e era tão necessário. A exigência que sempre apliquei na minha ação pessoal, profissional e política não me permite ignorar este facto e impõe que decida em conformidade.
A minha intenção sempre foi a de servir a Iniciativa Liberal. Foi assim quando, ainda recém-entrado no partido prescindia das minhas horas de almoço, das noites ou de fins de semana para colaborar com a equipa de comunicação. Foi assim quando assumi responsabilidades em diferentes órgãos locais e nacionais da Iniciativa Liberal. Foi assim como cabeça de lista pelo círculo de Braga em 2022. Foi assim enquanto Presidente da Comissão Executiva.
Tudo o que fiz foi pelo partido, fiz tudo pelo partido e fiz tudo com total desprendimento.
E com esse mesmo desprendimento de quem nunca esteve “agarrado” a qualquer lugar, depois de uma profunda reflexão, decidi apresentar a minha demissão nesta data. Servir o partido, neste momento, significa abrir a oportunidade para uma discussão interna sobre os caminhos futuros da Iniciativa Liberal, a visão estratégica mais adequada para o novo cenário político e uma nova liderança.
Agradeço profundamente às Comissões Executivas que liderei, a todos os que me acompanharam, à Iniciativa Liberal e a todos os portugueses que confiaram em nós. Foi uma honra servir a Iniciativa Liberal e, com isso, Portugal.
Pela minha parte, continuarei “a andar por aqui”. Assumirei o mandato de deputado na Assembleia da República e contribuirei como membro de base da Iniciativa Liberal em todos os combates onde possa ser útil ao partido e ao país.
Em poucos anos, já marcámos profundamente a política portuguesa. Mas estou certo que para Portugal e para a Iniciativa Liberal o melhor ainda está para vir.
Viva a Iniciativa Liberal, viva Portugal!