Rendas, imigração e alternativa ao Governo: as divergências entre PS e BE
O pedido de Pedro Nuno Santos está feito: "Só haverá alternativa à AD se o PS vencer as eleições e, por isso, os eleitores que votam à esquerda não dispersem votos." Foi assim "há um ano, quando a esquerda teve mais votos que a AD, mas foi a AD que governou".
Porém, "isso não determina nada", respondeu Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, acusando o secretário-geral socialista de ter uma "bala de prata" por "estar à espera de governar" com a viabilização de Luís Montenegro, "com um programa sem nenhuma medida diferente da que foi tentada até agora". Este foi, no entanto, apenas um dos pontos de discórdia no debate desta terça-feira, entre líderes de dois partidos que já tiveram um acordo de apoio parlamentar (em 2015, com a geringonça de António Costa).
No primeiro frente-a-frente para ambos os dirigentes, quer o líder do PS como a coordenadora do BE tentaram marcar diferenças entre ambos. Começando pela Defesa, a área que abriu a discussão.
Para Pedro Nuno Santos, que realçou que o Partido Socialista tem "responsabilidades" a cumprir por ser um partido de governo, não há dúvidas: o investimento em Defesa deve aumentar, indo ao encontro das exigências dos parceiros europeus e no âmbito da NATO. Isto, no entanto, se colocar em causa "o Estado Social".
Contudo, a líder bloquista recusou abrir a porta a um maior investimento em defesa, reconhecendo, no entanto, que a "discussão sobre soberania e segurança" é necessária. É irresponsável "dizer que temos de comprar e construir mais armas, e que pomos em causa o dinheiro para combater as alterações climáticas, e apresentar essa como uma posição responsável". Isso vai conduzir a uma "corrida para a guerra", argumentou, algo que o líder do PS recusou.
Passando para a habitação, Pedro Nuno Santos disse que "algumas das inaugurações que o Governo tem feito foram de um programa que o PS lançou". Recordou, no entanto, que "há medidas que no papel soam bem mas têm problemas de aplicabilidade prática", como o teto de rendas proposto pelo BE.
Mariana Mortágua, contudo, refutou o argumento do líder socialista. Segundo a porta-voz do BE, os investidores estão a "piorar o problema". Não havendo construção feita a tempo, com metas que foram "andando para a frente" e não sendo "compatível com as necessidades de hoje". É por isso uma necessidade baixar as rendas e não, apenas, subi-las a um grau menor. "Por alguma razão os preços na Zona Euro subiram muito menos porque há medidas para regular", disse a líder bloquista, atirando ao PS por ter dito que tal "não é possível".
Já na imigração, Mariana Mortágua foi questionada pelas críticas que fez ao PS sobre a posição do partido nesta matéria. E voltou a atirar contra os socialistas: o BE defende que "quem está em Portugal deve poder regularizar-se", não abdicando da manifestação de interesse. "O PS está a desistir desse princípio de esquerda. É o pior que podemos fazer do ponto de vista dos princípios", acusou. Argumentando ser "possível haver consenso" com a AD nesta matéria, Pedro Nuno Santos voltou a reiterar a posição do PS: defende a "imigração regulada e isso não respeita apenas os que já cá estão mas também quem vem".