O impacto do acidente no Elevador da Glória nas autárquicas de 12 de outubro, nas quais Carlos Moedas procura ser reeleito presidente da Câmara de Lisboa, à frente da coligação Por Ti, Lisboa (PSD-CDS-Iniciativa Liberal), enfrentando adversários como Alexandra Leitão (da coligação Viver Lisboa, que junta PS, Livre, Bloco de Esquerda e PAN), João Ferreira (CDU) ou Bruno Mascarenhas (Chega), não deve ser imediato. No entanto, entre a maioria de centro-direita que governa o país e a capital antecipa-se que um acontecimento desta dimensão, e que envolve uma empresa municipal como a Carris, será um dos principais temas de campanha. No final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, que contou com a presença do autarca lisboeta, Luís Montenegro apelou a “um momento de união”, lançando um apelo à oposição. “Esta tragédia nem pode, nem deve, ser usada para alimentar divisões ou manobras de aproveitamento político”, disse o primeiro-ministro, enquanto Moedas se apresentou como “o primeiro interessado em que tudo seja apurado”.Certo é que, entre a coligação Viver Lisboa, a nota dominante é “dar tempo” para o rescaldo de uma tragédia em que nem todas as 16 vítimas mortais estão ainda sequer identificadas. Mas a seguir deverão entrar na campanha autárquica as críticas à externalização de serviços identificada no atual mandato de Moedas, em paralelo com as críticas do PS às mexidas na legislação laboral, no que toca ao outsourcing.Mas também há entre os socialistas quem eleve a pressão sobre o autarca lisboeta. Numa publicação nas redes sociais, o candidato a deputado municipal Nuno Saraiva comparou negativamente Moedas com o falecido ministro socialista Jorge Coelho, que se demitiu após a queda da ponte de Entre-os-Rios, que fez 59 mortes em 2001. “O que distingue um grande homem e um estadista, como era o Jorge Coelho, dos homens pequenos e banais, é a ética, a moral e a capacidade de assumir responsabilidades políticas, mesmo que, no plano formal e material, não tenha nenhumas”, escreveu o ex-jornalista.Por seu lado, o vereador João Ferreira, novamente candidato da CDU à Câmara de Lisboa, vincou nesta quinta-feira a importância da reunião extraordinária do executivo camarário, convocada para segunda-feira, na qual irá criticar a opção pela privatização e externalização da manutenção da Carris, o que “alterou uma realidade que se manteve durante mais de 100 anos”.Mesmo “respeitando o luto” na cidade, o candidato do Chega, Bruno Mascarenhas, garantiu ao DN que não dará tréguas a Moedas por “uma tragédia que prejudica muito a cidade, a vários níveis”. O atual deputado municipal recorda que em abril pediu um debate temático, nunca realizado, sobre a “incompetência e incúria” da Carris.Já Gonçalo da Câmara Pereira, cabeça de lista da coligação PPM-PTP à Assembleia Municipal de Lisboa, defendeu nesta quinta-feira que Carlos Moedas deve demitir-se, acusando-o de “governar para o espectáculo e não para as pessoas”, e de “retirar quatro milhões de euros à Carris para financiar a Web Summit”. E pediu desculpas “por a nossa cidade ter hoje um presidente que falhou com todos”, pois o PPM integrou a coligação vencedora em 2021..PCP destoa entre os cancelamentos.A intervenção do secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que encerrará a Festa do Avante, neste domingo, marcando a rentrée política comunista, será uma das exceções na sucessão de cancelamentos e adiamentos decididos pelos partidos devido ao acidente no Elevador da Glória, que será mencionado no discurso, ao que o DN apurou.Pelo contrário, o Chega decidiu que a sua manifestação contra o travão à Lei de Estrangeiros, marcada para a tarde de sábado, entre o Centro de Congressos de Lisboa e o Palácio de Belém, voltará a ser adiada. Inicialmente marcada para 24 de agosto, teve os incêndios florestais como motivo para a primeira mudança.Igualmente adiadas foram as convenções autárquicas do PSD, que seria no domingo, no Porto, e do PS (sábado, em Coimbra), tal como a rentrée do CDS-PP (sábado, em Vale de Cambra). E a apresentação dos candidatos Nuno Piteira Lopes (PSD-CDS, Cascais), Pedro Frazão (Chega, Oeiras) e Ossanda Liber (Nova Direita, Lisboa).