Em final de outubro, António José Seguro, já com o apoio formal do Partido Socialista, declarava não querer “rótulos” nem “caixas”, quando questionado, insistentemente, se representava a esquerda. Preferindo dizer que na sua candidatura cabiam “todos os democratas, progressistas e humanistas”, como referiu em diversas aparições públicas, o ex-secretário-geral do PS apontava a um eleitorado transversal, que procurasse uma alternativa à direita. No entanto, o discurso viu, nas últimas semanas, afinações e o início dos debates presidenciais ditou uma nova estratégia, até porque as sondagens mostram algum equilíbrio e, portanto, luta acérrima para chegar à segunda volta. Ao que o DN pôde apurar junto de figuras socialistas, essa alteração discursiva tem a meta clara de angariar indecisos dentro do próprio partido. Apesar de não ter havido crítica interna quando José Luís Carneiro demonstrou, após as eleições de 12 de outubro, a convicção de que Seguro seria solução agregadora, - até face aos resultados positivos do PS a solo nas autárquicas no Interior e em várias capitais de distrito - o aparecimento das candidaturas de Jorge Pinto, apoiado pelo Livre, e Catarina Martins, ex-coordenadora do Bloco de Esquerda, levaram a que Seguro faça alguns desvios comunicacionais, embora estes não sejam, verdadeiramente, inesperados.Como o DN noticiou na semana passada, o anúncio de Isabel Mayer Moreira de estar ao lado de Catarina Martins surpreendeu as altas instâncias do PS pelo timing, mas não é considerado improvável que outros socialistas, especialmente mais vinculados a Pedro Nuno Santos ou até a tempos anteriores com António Costa, manifestem intenção semelhante. Neste caso, ao que foi possível saber, a proximidade com a ex-líder do Bloco de Esquerda desde os tempos dos acordos parlamentares para garantir governabilidade a António Costa poderá ditar mais algumas manifestações de interesse em Catarina Martins. Porque Seguro, para vários militantes socialistas, não estava a abarcar a esquerda e a distanciar-se do centro-direita. “Há pessoas com quem trabalhei muito, embora com diferenças, e sei que temos um entendimento muito semelhante na defesa da decência e da democracia em Portugal. Elas tornarão o seu apoio público se assim o entenderem, porque respeito muito o tempo de cada pessoa e as decisões que tomem”, declarou Catarina Martins ao DN, na entrevista de dia 3 de dezembro, constatando que poderiam existir mais apoios socialistas. Por isso, disse ao nosso jornal “não fazer sentido” a possibilidade de abdicar por Seguro. Até aqui, apenas uma deputada do grupo parlamentar manifestou a sua convicção pessoal e o PS trata esta eleição presidencial como um espaço de candidatura individual. No entanto, não deixa de aconselhar e dar o apoio necessário a Seguro. “A larga, larguíssima maioria do PS está com Seguro”, esclareceu Luís Parreirão, do Secretariado Nacional, blindando a escolha que, como o DN sabe e noticiou também, foi unânime na maioria das federações do país. É nesse sentido que a leitura de um apelo ao voto útil surge. Mais do que querer convencer António Filipe, Catarina Martins ou Jorge Pinto a decidirem abdicar por Seguro, o plano é também cravar a importância de os principais nomes do PS continuarem com o ex-secretário-geral. No debate com Jorge Pinto, Seguro vincou pela primeira vez, com clareza, o que entende ser importante na associação à esquerda. “Estou a lutar para que a esquerda, o centro-esquerda e a esquerda democrática, tenha uma presença na segunda volta. E isso só ocorrerá se houver convergência na minha candidatura”, defendeu.As conversas com outros partidos não têm surgido. Ou seja, José Luís Carneiro ou outros nomes do PS não estão, abertamente, a negociar com PCP, Bloco ou Livre possíveis desistências em prol de Seguro, embora se saiba que uma possível dispersão de votantes possa prejudicar, até porque as sondagens têm colocado Seguro atrás de Gouveia e Melo, Marques Mendes e André Ventura. “Vou até ao fim, há muitos eleitores indecisos”, assim expressou Jorge Pinto, do Livre, refutando uma ideia, após uma semana de candidatura apresentada, em que, alegou, mediante certas condições, que a esquerda junta “pudesse abdicar”.“Se se quer que haja uma convergência a uma candidatura à esquerda, creio que essa convergência deveria ser feita em torno da minha candidatura”, respondeu, convicto, António Filipe há um mês, garantindo que seguirá em campanha até ao fim. .António Filipe defende que António José Seguro "não tem posicionamento de esquerda".Presidenciais 2026. Ana Gomes ao DN: "Mesmo sendo de esquerda, estou com Seguro”.Catarina Martins: "Eu e António José Seguro representamos campos políticos diferentes"