Marques Mendes e André Ventura vão debater na SIC, a partir das 21h00.
Marques Mendes e André Ventura vão debater na SIC, a partir das 21h00.Montagem DN

Presidenciais 2026: Ventura usa BES para apresentar Mendes como "candidato das elites que nos querem destruir"

Antigo líder do PSD e fundador do Chega protagonizaram um debate em que Ventura reverteu vantagem inicial de Mendes no fim, chamando-lhe "marioneta do Governo" e reivindicando apoio de Passos Coelho.
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Vantagem inicial de Mendes revertida por Ventura no final

O debate entre Marques Mendes e André Ventura, em tempos não muito distantes companheiros de partido, apesar das distâncias que um e outro gostam de sublinhar, tinha potencial para ser um daqueles em que havia maior potencial de disputa de eleitorado. E estava encaminhado para uma vitória do social-democrata, que foi eficaz a apresentar-se como alguém capaz de fazer propostas concretas, contra a retórica do adversário, até a um final em que o presidente do Chega aproveitou o passado de Mendes enquanto comentador da SIC para pôr em causa a sua independência, chamando-lhe "marioneta do Governo", e conotá-lo com a defesa de interesses económicos, referindo-se ao que disse sobre o Banco Espírito Santo antes do colapso do banco de Ricardo Salgado.

O efeito pretendido por Ventura foi alcançado em crescendo, iniciando-se ao reivindicar, sem ser contrariado pelo interlocutor, que Pedro Passos Coelho o escolheria a si, e não a Mendes, para a Presidência da República. Mas demorou a atingir o também conselheiro de Estado, que começara por apontar "falta de sentido de Estado" ao líder do Chega, aludindo sobretudo às suas palavras e protestos em relação a estadistas estrangeiros, como o angolano João Lourenço ou o brasileiro Lula da Silva.

Marques Mendes também apresentara a confiança de quem espera ser eleito Presidente da República, revelando que o primeiro Conselho de Estado do seu mandato seria dedicado à Reforma da Justiça e Combate à Corrupção. Ventura reduziu a iniciativa a "conversa da treta", mas o social-democrata defendeu-se com prioridades concretas para o encontro.

Leia o "filme" do debate:

Ventura encerra o debate a acusar Mendes de ser "o candidato das elites", com referências ao BES e a Passos Coelho

O debate entre André Ventura e Marques Mendes termina com o líder do Chega a pressionar o adversário, apresentando-o como "o candidato das elites que nos andam a destruir".

Aproveitando ter a última palavra, Ventura acusa Mendes de, enquanto comentador da SIC, ter sido "o homem que dizia que estava tudo bem no Banco Espírito Santo", dizendo que o mesmo pode ser atestado por quem foi lesado pelo colapso dessa instituição bancária.

Apesar de a moderadora Clara de Sousa insistir que se esgotara o tempo disponível para o debate, Mendes disse que se limitou a referir informação do Banco de Portugal, mas o efeito pretendido pelo autoproclamado "candidato das pessoas" fora atingido, sendo patente a satisfação de Ventura com a "agitação" do adversário.

Também a menção de Marques Mendes ao caso do ex-deputado do Chega Miguel Arruda, afastado do grupo parlamentar ao ser constituído arguido por furto de malas de viagem em aeroportos, levara Ventura a dizer que foi rápido a "afastar as pessoas que tinham de ser afastadas", enquanto o adversário mantém entre os apoiantes o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, investigado por suspeitas de corrupção.

Marques Mendes recordou que, enquanto presidente do PSD, vetou a recandidatura de presidentes de câmaras municipais envolvidos em investigações de corrupção, "a bem da ética" - sem mencionar o caso mais emblemático de Isaltino Morais, que é um dos principais apoiantes de Gouveia e Melo -, fazendo notar que isso lhe criou problemas no prório partido, apesar de "felizmente sempre poucos os que não o apoiam".

Tal referência foi aproveitada por André Ventura para questionar Mendes sobre a ausência de sinais de apoio à sua candidatura por parte do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. "Se Passos Coelho tivesse de escolher, escolhia-me a mim, com toda a probabilidade, porque sabe que não é independente".

Ventura disse ainda que Mendes é "uma marioneta do Governo", apontando-lhe dualidade de critérios no que toca a responsabilidades nos incêndios florestais de António Costa e Luís Montenegro. "O que acontece é que, como Luís Montenegro é amigo de Marques Mendes, isso já não lhe inteerssa tanto", disse, mencionando um "compromisso" em que o adversário se mantinha-se na SIC, a fazer comentários, e era o candidato presidencial enquanto apoiava o primeiro-ministro.

Antes disso, Mendes defendera a sua independência, patente na defesa junto do "amigo" Marcelo Rebelo de Sousa da recondução da procuradora-geral da República Joana Marques Vidal, que "teve uma coragem impressionante no combate à corrupção".

"O senhor não quer combater a corrupção mais do que eu. Quero intensificar o combate à corrupção com coisas palpáveis", disse Mendes, equiparando a "cassete habitual" do líder do Chega à antiga "cassete do PCP". E reiterou que, perante a "técnica de ataques pessoais, para disfarçar a ausência de propostas e de soluções", não perderia a compostura.

Ventura reduz a "conversa da treta" proposta de Mendes para Conselho de Estado sobre reforma da Justiça

Antevendo que virá a ser eleito Presidente da República, Marques Mendes revela que o seu primeiro Conselho de Estado será dedicado à reforma da Justiça e ao combate à corrupção.

Essa proposta é reduzida a "conversa da treta" por André Ventura, mas o antigo líder social-democrata avança que, na preparação desse encontro, seriam ouvidos o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o procurador-geral da República e o diretor nacional da Polícia Judiciária, bem como estabelecidas quatro prioridades, "para que sejam coisas concretas": combate à morosidade da justiça na parte criminal, às manobras dilatórias, à "realidade de uma justiça para ricos e outra para pobres" e, naquilo que Mendes qualificou de "cancro", o excesso de corporativismo no Ministério Público.

Por seu lado, o líder do Chega recordou as "centenas de propostas" contra a corrupção, nomeadamente no que toca ao confisco de bens "a quem andou a roubar", apresentadas pelo seu grupo parlamentar, sublinhando que muitas foram recusadas pelos deputados do PSD.

Reagindo à alusão de Mendes a uma frase que disse numa entrevista, dizendo que "só três Salazares punham isto na linha", sendo acusado pelo adversário de "branquear o regime anterior, no qual havia tanta ou mais corrupção do que agora", só que silenciada pela censura, Ventura distanciou-se do Estado Novo, recorrendo à data em que veio ao mundo. "Nasci em 1983, e o que vi nesta democracia foi corrupção e corrupção", disse, acusando Mendes de ter ficado "em silêncio perante a maior parte dos casos de corrupção.

Mendes diz a Ventura que "políticos a mandar prender pessoas era no tempo da PIDE"

Depois de garantir que não tem interesses em Angola, ao contrário do que fora antes insinuado por André Ventura, Marques Mendes recorda que, quando o presidente de Angola, João Lourenço, fez referências depreciativas ao colonialismo português - o que levou Ventura a acusar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de traição por não ter reagido -, também estava presente o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, "que não só não abandonou a sessão como não fez nenhuma declaração".

De seguida, Mendes apontou "total falta de sentido de Estado" a Ventura, recordando o "comportamento inqualificável" dos deputados do seu partido aquando da visita a Portugal do presidente brasileiro Lula da Silva e do apelo a que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, fosse detido. "Políticos a mandar prender alguém era no tempo da PIDE", rematou.

Ventura retorquiu que o seu sentido de Estado "é defender Portugal até ao fim" e não "estar calado quando dizem que somos ladrões, corruptos e que escravizámos África". E, no que toca a Lula da Silva, reforçou que se trata de "um corrupto e ladrão", sublinhando que isso tanto faz a Marques Mendes, que foi fotografado junto ao entretanto falecido ditador cubano Fidel Castro. "Está habituado a estar com ditadores de esquerda, de direita e do centro", acusou.

"Estou farto que a esquerdalhada faça o que quer", diz Ventura

O líder do Chega responde aos reparos de Marques Mendes quanto ao simbolismo de ter retirado os cravos vermelhos que tinham sido deixado no púlpito do hemiciclo. "Estou farto que a esquerdalhada faça o quer no Parlamento", refere Ventura, dizendo que tinha ficado estipulado que só haveria rosas brancas na sessão solene.

A questão floral é aproveitada por Ventura para acusar o adversário de "lidar bem com todos" e de se importar de que "esteja a cumprir a lei ou não".

Respondendo a uma pergunta de Clara de Sousa, que pretendia saber o que o líder do Chega pensa do 25 de Abril de 1974, Ventura referiu-se ao legado do 25 de Novembro de 1975 como "o dia que salvou a liberdade". Além das expropriações, insurgiu-se contra a forma como se deram as independências das antigas províncias ultramarinas, acusando Mendes de "se calhar ter alguns interesses escondidos" em Angola.

Ventura também disse a Mendes para não "fingir que é independente", referindo que o adversário "já era político do PSD" quando o líder do Chega ainda não era nascido. Disse também que o "comentador do sistema, alinhado com o primeiro-ministro", estava a "jogar em casa", pois teve um espaço semanal na SIC - o que levou Clara de Sousa a dizer que ambos tinham "liberdade total" no debate -, e juntou uma alfinetada. "Somos os dois conselheiros de Estado. A diferença é que eu fui eleito e o Maruqes Mendes, como em tudo na vida, foi escolhido pelos amigos."

Marques Mendes acusa André Ventura de ser "um falso candidato"

O debate arranca com Marques Mendes a referir-se à sessão solena do 25 de Novembro, e ao facto de André Ventura ter ocupado o lugar de líder da oposição, entre os convidados da Assembleia da República, como um sinal de que é "um falso candidato" à Presidência da República. E acrescenta que o detalhe de, ao fazer a sua intervenção, o líder do Chega ter retirado os cravos vermelhos colocados por deputados de esquerda sobre o arranjo floral de rosas brancos, prova que "convive mal" com o 25 de Abril.

Candidatos bem posicionados nas sondagens

Marques Mendes e André Ventura encontram-se no estúdio da SIC com muitas divergências, mas com ambição partilhada de passar à segunda volta que não acontece desde as presidenciais de 1986, quando Mário Soares ultrapassou Freitas do Amaral, que fora o candidato mais votado na primeira volta.

O conselheiro de Estado, e antigo presidente do PSD, ficou à frente nas intenções de voto na sondagem mais recente, da Intercampus, com 16,4%, tendo o fundador e líder do Chega logo atrás, com 15,9%. Na sondagem da Pitagórica, Mendes também teve o melhor resultado (22,6%), seguindo-se Gouveia e Melo (21,1%), António José Seguro (17,4%) e só depois André Ventura (14,7%).

No mais recente barómetro DN/Aximage, com Gouveia e Melo à frente, com 24,4% de intenções de voto, os dois candidatos que irão debater na SIC ficaram empatados na segunda posição, com 19,2%.

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