Hospital Amadora-Sintra.
Hospital Amadora-Sintra.Foto: DR

Gouveia e Melo pede que PM explique continuidade da ministra da Saúde. Seguro não quer “país de pés de barro”

Ex-líder socialista rejeita que se considerem normais as falhas na saúde, defendendo que sejam atacadas “as causas dos problemas”. António Filipe preocupado com cortes no SNS.
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O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo afirmou esta segunda-feira, 3 de novembro, no Porto, que a continuidade da ministra da Saúde Ana Paula Martins é responsabilidade do primeiro-ministro Luís Montenegro e que é preciso explicar isso aos portugueses.

Em declarações à margem da conferência integrada no ciclo Portugal com Rumo, sob o tema Acelerar Portugal - Inteligência Artificial, Inteligência Coletiva e Juventude, na Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), o almirante aposentado deixou críticas à forma como a questão da Saúde está a ser tratada.

“A questão da saúde é muito mais abrangente que o cargo da ministra. É uma questão que se arrasta, que tem que ser resolvida, os portugueses andam preocupados, os profissionais de saúde não estão contentes e o sistema cada vez exige mais recursos”, afirmou o candidato, para quem há um ”problema nítido de organização”.

E prosseguiu: “se a ministra da Saúde fica ou deixa de ficar [na sequência da morte de uma grávida na sexta-feira no Hospital Amadora-Sintra], isso é uma responsabilidade do primeiro-ministro e o primeiro-ministro é corresponsável, enquanto chefe de governo, pela forma como a saúde tem respondido ou não aos anseios dos portugueses”.

Questionado sobre a crise no setor, Gouveia e Melo insistiu que a “população não está contente” e que, por isso, é preciso “saber qual é o modelo” que se quer para a saúde portuguesa.

“Queremos um modelo mais privatizado, um modelo do Estado, um modelo misto... Eu acho que o Serviço Nacional de Saúde é essencial. É essencial para garantir que todos os portugueses têm acesso à saúde, independentemente da sua capacidade financeira. E é um dos elementos mais importantes para a coesão nacional. De facto, a saúde não tem respondido neste momento e ultimamente aos problemas que lhe são colocados”, afirmou.

A consequência disso tem sido “algum alarme social, alguma insatisfação e não são só os utentes, são os próprios profissionais de saúde, a organização” quando se continua a “injetar recursos no sistema”.

“Há qualquer coisa que está a falhar”, assinalou, frisando que o “poder executivo tem como obrigação governar o país e apresentar resultados. Não é fazer demagogia, é apresentar resultados”.

Questionado se os cerca de 200 milhões a menos de investimento na saúde em 2026 são um corte ou uma otimização de recursos, como defendeu o primeiro-ministro, Gouveia e Melo respondeu; quando uma coisa não funciona ou não está a funcionar como se esperaria, não sei como é que se vai otimizar muito”.

“O problema neste momento é que tem que se pôr aquela máquina a funcionar. É uma máquina muito horizontalizada. Este Governo veio com promessas que resolviam o problema muito rapidamente e, pelos vistos, não está a conseguir fazer e responder essas promessas”, lembrou o candidato presidencial.

Neste contexto, o antigo militar defendeu que “por uma questão de transparência, há a obrigação de explicar aos portugueses o que é que se passa, de forma muito clara”.

“Nós o que vemos é uma sucessão de demissões ou de exonerações no Sistema Nacional de Saúde. Isso não parece muito positivo, não parece um indicador positivo. E, por isso, eu julgo que o Governo, nas suas análises, tirará as conclusões que tem que tirar, porque senão sofrerá as consequências da própria avaliação pública”, acrescentou.

Gouveia e Melo considera, por isso, que a confiança no Governo “está abalada”.

Já António José Seguro considerou que Portugal não se pode transformar num “país de pés de barro” e rejeita que se considerem normais as falhas na saúde, defendendo que sejam atacadas “as causas dos problemas”.

Em declarações à agência Lusa a propósito do dia de campanha que dedicou hoje à comunidade portuguesa em Bruxelas, Seguro foi questionado sobre os desenvolvimentos quanto ao caso da morte da grávida no Hospital Amadora Sintra, recusando comentar a parte da polémica e o debate entre Governo e partidos.

A outra parte é de uma enorme gravidade. Nós temos tido nos últimos meses notícias trágicas e situações que são completamente anormais, mas que parece que estão a criar uma nova normalidade”, criticou.

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Caso da grávida que morreu. Amadora-Sintra é uma das quatro unidades do SNS sem sistema informático de partilha de dados

Na perspetiva do candidato presidencial, “é preciso parar de fingir e não esconder o sol com a peneira” porque “há falhas no Serviço Nacional de Saúde que precisam de ser corrigidas e depois há equipamentos que não funcionam”.

“Hoje vi uma notícia que, se a ser verdade, de um helicóptero que estava no Algarve e que mesmo que as condições meteorológicas fossem favoráveis, não podia levantar o voo. Ora, isto é uma coisa inaceitável, isto é o típico de um país de pés de barro e nós não podemos transformar-nos num país de pés de barro”, condenou.

Para Seguro é preciso “atacar as causas dos problemas e não os sintomas dos problemas”.

“Temos que passar para lá da espuma do dia-a-dia e encontrar soluções duradouras. É por isso que eu há mais de um ano ando a falar num pacto para a saúde, mas não é um pacto de conversa fiada”, reiterou.

Este pacto, de acordo com o candidato presidencial apoiado pelo PS, passaria por “medidas muito concretas, muito claras e muito objetivas com financiamento para poder ser concretizado”.

“E que se traduza, no final, num melhor acesso dos portugueses aos cuidados de saúde”, explicou, considerando que “chega de palavras” e que “é preciso ações”.

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Ministra aceita demissão do presidente do Conselho de Administração da ULS Amadora-Sintra

António Filipe considera grave a morte de grávida e do bebé, bem como a reação da ministra

O candidato presidencial António Filipe afirmou esta segunda-feira, 3 de novembro, que o caso da grávida e do bebé que morreram no Hospital Amadora-Sintra é grave, assim como a reação da ministra da Saúde, Ana Paula Martins.

Em declarações no Funchal, o candidato apoiado pelo PCP realçou que a mulher “era seguida no Serviço Nacional de Saúde, ao contrário do que a senhora ministra da Saúde afirmou no parlamento”.

“E, portanto, é particularmente grave também esse facto, não só o facto em si, o que aconteceu, mas também a forma como a ministra da Saúde reagiu a isso”, defendeu António Filipe, após uma audiência com o representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, no Palácio de São Lourenço.

O candidato presidencial considerou “inaceitável” o aumento de casos de bebés que nascem em ambulâncias, carros particulares ou até na receção de um hospital, acrescentando que a estas notícias acrescem as “perspetivas orçamentais para o próximo ano de cortes no Serviço Nacional de Saúde”.

“Numa situação destas, já tão degradada, haver a perspetiva de cortes no financiamento do Serviço Nacional de Saúde, isso é extremamente preocupante. Portanto, eu acho que os candidatos à Presidência da República não podem ficar indiferentes perante isto, devem pronunciar-se”, disse.

António Filipe insistiu que, independentemente de quem é o responsável pela tutela, “tem de haver uma política de investimento no Serviço Nacional de Saúde, a Constituição exige, e os portugueses também”, vincando que a população tem consciência da importância do SNS “para resolução dos seus problemas”.

O candidato, que está na Madeira numa visita de dois dias, iniciada hoje com a apresentação de cumprimentos à presidente da Assembleia Legislativa Regional, Rubina Leal, referiu que a audiência com Ireneu Barreto foi “de cortesia” e “não houve propriamente temas substanciais em discussão” durante o encontro.

Sobre o cargo de representante da República, cuja extinção é defendida por vários partidos políticos, o comunista considera a função adequada, apontando que não defende “uma revisão constitucional para alterar as características desta figura constitucional”.

Na terça-feira, António Filipe reúne-se com a União dos Sindicatos da Madeira, de manhã, e à tarde tem prevista uma ação de contacto com os trabalhadores da estação dos Viveiros da Câmara do Funchal.

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