Bastaram “cerca de três anos” desde que se filiou na Iniciativa Liberal (IL) para que José Miguel Cerdeira conseguisse ser eleito. No caso, será o próximo presidente da Junta de Freguesia de Campolide, em Lisboa, tomando posse esta terça-feira, 28 de outubro, às 19h00. Apesar de só se ter juntado ao partido “um bocadinho antes da disputa interna entre Rui Rocha e Carla Castro”, José sente-se “liberal desde há muito tempo”. Ser eleito para presidir a este órgão é, por isso, “uma responsabilidade adicional”. “É preciso mostrar às pessoas por que é diferente ter alguém com uma perspetiva liberal num sítio e num local de atividade política tão próxima” como uma junta de freguesia, explica ao DN.Na conversa, que decorre no coração da freguesia lisboeta e é por vezes interrompida pelo barulho dos aviões que sobrevoam o Jardim da Amnistia Internacional, José Miguel Cerdeira até já olha para o futuro. Pegando nessa “responsabilidade adicional”, o autarca eleito diz querer que, daqui a quatro anos, “quando a IL merecer mais confiança nas autárquicas”, as pessoas “olhem para o trabalho feito em Campolide” e que percebam “se valeu ou não a pena”.Apesar de só agora ter sido eleito, José Miguel Cerdeira já tinha experiência política, incluindo em candidaturas autárquicas. Em 2017, o agora liberal fez parte de uma candidatura como “membro do CDS”. Nesse ano, os centristas não foram coligados com o PSD (mas sim com o MPT e o PPM) e apostaram em Assunção Cristas, ex-ministra, para tentar vencer a autarquia, que acabaria por ser conquistada pelo PS de Fernando Medina. Com isto, ficaram com quatro vereadores - José Miguel Cerdeira ficou de fora. Este ano, o desfecho foi bastante diferente: o agora liberal foi o cabeça de lista da coligação “Por Ti, Lisboa” (PSD/CDS/IL) à Junta de Freguesia de Campolide. Agora, aos 33 anos, esse dado ditou um desfecho diferente e o economista conseguiu ser eleito pela primeira vez. Além de um percurso ligado à economia, José Miguel Cerdeira é fundador de uma empresa de produção de podcasts, a Bruá, mas deixou de ser sócio “no seguimento da eleição” de dia 12 de outubro.Apesar de não ter sido o primeiro presidente de um órgão autárquico eleito pela IL (esse título pertence ao “malfadado” Tiago Mayan Gonçalves, eleito pela IL na União de Freguesias de Aldoar, Nevogilde e Foz do Douro, no Porto, e expulso do partido depois de um caso de falsificação de assinaturas), José Miguel Cerdeira tornou-se no único liberal a presidir a uma destas estruturas do poder local, tendo até maioria de liberais no executivo da freguesia lisboeta (a assembleia é ainda composta por cinco eleitos da coligação “Viver Lisboa”, que juntou, PS/Livre/BE/PAN, com o Chega e a CDU a terem um eleito cada).A eleição de José Miguel Cerdeira como presidente da junta tem ainda um significado adicional: representou o fim de 16 anos de governações do PS naquela zona da capital. Demonstra isto uma mudança no perfil dos eleitores? “As pessoas com quem falei e com maior desejo de mudança são aquelas que vivem cá há anos e anos. Pode haver uma mudança demográfica, e será muito interessante se se verificar, mas subimos a votação em toda a freguesia. Incluindo nas zonas onde não é sabido que exista essa mudança, como o Bairro da Liberdade ou na Serafina. Subimos de igual modo em todas as assembleias de voto.”Estacionamento é “principal prioridade”Quando apresentou a sua candidatura à junta de freguesia, José Miguel Cerdeira fê-lo com uma promessa: “não largar o osso” em vários temas, como um licenciamento mais simples para comerciantes, combater os “abusos” na ação social e, também, criar mais estacionamento na freguesia. Esta é, aliás, “a principal prioridade” que define logo à partida. “É o tema que mais aflige as pessoas”, considera, explicando que o ponto mais crítico é “principalmente o centro de Campolide, a zona mais densamente povoada”. Apesar disso, reconhece que “houve boa vontade” para tentar combater uma “situação tão grave”, nomeadamente ao ampliar “um parque de estacionamento, gerido pela junta, para se construir um silo, tendo bastante mais lugares”. No entanto, ainda há “algumas pessoas que trabalham por turnos, chegam a casa, e andam ali 40 ou 50 minutos à procura de lugar”. “Acabam por estacionar longe o suficiente para já não estar na zona que o seu dístico abrange e depois têm de acordar cedo para tirar o carro dali. O tema é mesmo grave”, lamenta, acrescentando ser necessária mais “fiscalização” nesta área.Esta questão está, no entender do autarca eleito, “a impedir resolver muitos outros problemas”. “Não é possível existir espaço público decente, mais árvores, vida de bairro, com comércio e possibilidade de andar a pé na rua, se há carros em cima do passeio porque essa forma de estacionamento é legal”.Segundo o liberal, esta “vida de bairro” é essencial para que as pessoas se sintam mais seguras. Durante a campanha, houve “relatos de falta de segurança na freguesia, desde assaltos aos próprios carros, até inclusive às vezes assaltos na rua ou a casas”. Sem especificar em que zonas aconteceram estes incidentes, o presidente eleito pede que haja “mais atividade na rua”: “Podemos fazer muitos testes com videovigilância e policiamento. São ambas coisas que podemos, e devemos, fazer. Mas o problema não se resolve apenas com isso e é preciso que exista essa vida de bairro de que falei.”“Não era uma eleição fácil, mas o José tornou-a possível”Falando ao DN sobre a eleição de José Miguel Cerdeira, a presidente da IL (que ligou ao jovem autarca na noite eleitoral) diz que foi uma “excelente notícia” saber que o partido vai presidir a uma junta de freguesia. “O José é um jovem cheio de energia liberal, que fez uma extraordinária campanha de proximidade na rua e uma comunicação esclarecedora nas redes”, afirma Mariana Leitão, mostrando-se convicta de que “o bom trabalho compensa” e que “as pessoas de Campolide confirmaram” esse facto. Ainda assim, tendo em conta o historial político da freguesia, Mariana Leitão considera que a “eleição não era fácil”. Mas todo o trabalho feito por José Miguel Cerdeira “tornou-a não só provável, como possível”.Analisando o resultado das eleições autárquicas do passado dia 12 de outubro (que foram também as primeiras que disputou enquanto líder partidária), onde a IL conseguiu garantir quatro vereadores nas autarquias de Lisboa e Porto, Mariana Leitão diz que o partido teve “um bom crescimento”, triplicando “o número de autarcas”, apostando numa “mensagem de descentralização, desburocratização, transparência e proximidade”. Além dos eleitos em coligações, houve ainda dois vereadores (Braga e Castelo Branco) que os liberais conseguiram eleger em listas próprias.Lisboa e Porto ‘valem’ quatro vereadores à ILTanto em Lisboa como no Porto, a Iniciativa Liberal concorreu coligada com o PSD e o CDS. Isso valeu ao partido a eleição de dois vereadores em cada um dos executivos. Na capital, os liberais elegeram Rodrigo Melo, que era até agora representante do grupo municipal da IL. Nas listas da coligação “Por Ti, Lisboa”, os liberais conseguiram ainda eleger o gestor Vasco Anjos. Sendo o oitavo nome na lista, foi, aliás, o último vereador da coligação a ser eleito. Mais a norte, na lista encabeçada pelo ex-ministro Pedro Duarte, os liberais elegeram Hugo Beirão Rodrigues (número cinco na lista) e Matilde Gouveia Rocha (número seis). Além dos vereadores incluídos nas coligações, a Iniciativa Liberal conseguiu ainda dois mandatos ‘a solo’, nas cidades de Braga e Castelo Branco..Moedas distribui por CDS-PP e Iniciativa Liberal nove cabeças de lista às freguesias.Iniciativa Liberal apoia candidatura de Pedro Duarte no Porto e deve garantir dois lugares na lista