A moção de censura do Chega ao executivo de Carlos Moedas, por falhas no dever de “garantir a segurança da cidade e proteger a vida de quem nela habita, trabalha e visita”, na sequência do acidente que fez 16 mortes no Elevador da Glória, foi chumbada nesta terça-feira pela Assembleia Municipal de Lisboa (AML), com votos contra do PSD, CDS, Aliança, MPT e Iniciativa Liberal, abstenções do PS (apesar das reservas do antigo líder dessa bancada, Manuel Portugal Lage, que defendia o voto contra), Livre, PCP, PEV, Bloco de Esquerda, PAN e Cidadãos por Lisboa, e o deputado do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, a ser o único convencido com os argumentos do partido de André Ventura, a um mês das eleições autárquicas.Para Carlos Moedas, que assistiu à sessão da AML ao lado do vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia e demais vereadores com pelouros, a tarde que passou no Fórum Lisboa, implicou ouvir críticas da oposição, com a socialista Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, a acusá-lo de “conjugar muito bem as palavras propaganda e vitimização”. Mas também ataques a Bruno Mascarenhas, deputado municipal do Chega e candidato à Câmara de Lisboa.Com a generalidade das bancadas, da esquerda à direita, a concordarem que é preciso esperar pelo resultado dos inquéritos em curso para apurar o que falhou no Elevador da Glória, a deputada municipal do PCP Natacha Amaro anunciou que os comunistas não iriam acompanhar uma moção “que não tem qualquer utilidade”, tal como mais tarde Isabel Mendes Lopes, do Livre, dividiu críticas entre a “falta de coerência” de Moedas - recordando o seu apelo à demissão de Fernando Medina em 2021, pela divulgação de dados de ativistas à Embaixada da Federação Russa, para dizer que “o que considerava responsabilidade política já não se aplica a si” - e à iniciativa do Chega, que disse ser típica de “quem já nos habituou a fazer tudo para aparecer nas notícias”..Troca de insultos.Depois de Bruno Mascarenhas ter apontado “uma falha política e institucional” ao presidente da Câmara de Lisboa, responsabilizando-o por o concurso público para a manutenção da Carris ter sido cancelado, e garantindo que “era sabido” que os pontos de amarração eram “um dos pontos mais vulneráveis” do Elevador da Glória, o deputado municipal do Chega defendeu que a moção de censura não era “um ato simbólico ou vazio de significado”.Teve imediata resposta do social-democrata Luís Newton, que se referiu à moção como um “documento construído sobre uma ausência de factos, de provas e, sobretudo, de seriedade”, desafiando o seu autor a apresentar um relatório que estabeleça um nexo causal entre a cessação do contrato de manutenção e o acidente da passada quarta-feira. Dizendo que “manter um circo às custas de 16 vítimas mortais” é “indigno, ofensivo à cidade e um insulto à democracia local”, acusou Mascarenhas de “não estar preparado para liderar um condomínio, quanto mais uma câmara municipal”. E rematou com a célebre citação do treinador Manuel Machado, dirigida a Jorge Jesus: “Um vintém é um vintém; e um cretino é um cretino.”Pedindo a palavra à presidente da AML, Rosário Farmhouse, em defesa da honra, o deputado do Chega respondeu que “indigno é que a pessoa que está a defender a Câmara seja um acusado por corrupção passiva”, numa referência aos problemas jurídicos do presidente da Junta de Freguesia da Estrela, no âmbito da Operação Tutti Frutti.Os ataques a Mascarenhas não ficaram por aí, pois o deputado municipal da Iniciativa Liberal Rodrigo Mello Gonçalves - que integrará o executivo municipal se Moedas for reeleito, pois está em lugar elegível nas listas da coligação Por Ti, Lisboa, que inclui os liberais - repudiou “totalmente o aproveitamento político que alguns têm feito desta tragédia”, perguntando ao autor da moção se o Chega tinha conhecimento de falhas no Elevador da Glória e, “se sim, o que fez para que esta tragédia não acontecesse”.Por seu lado, Martim Borges de Freitas criticou quem encara “de forma leviana e medíocre o cargo para o qual se candidata”, preparando uma moção de censura “ainda os cadáveres estavam na morgue para serem autopsiados”. Mas Bruno Mascarenhas, a quem apontou “total impreparação”, não foi o único alvo do centrista. “Os partidos da oposição não querem responsabilidade política, e sim a cabeça de Moedas”, disse quem defende que “a esquerda tem sido conivente com a estratégia do Chega”, e que “não é inocente” que Alexandra Leitão não peça a demissão do autarca, enquanto o ex-líder socialista Pedro Nuno Santos o faz, num registo de “polícia mau, polícia bom e polícia assim-assim”.Chumbada a moção de censura, Moedas deixou uma garantia aos eleitos da AML. “Continuar a governar a cidade é a minha responsabilidade política”, explicou quem se apresenta como um líder que “toma decisões difíceis nos momentos certos”.