Há dois anos, em 2023, não escondia o espanto por ver “agora” nas ruas os que durante “os Governos da geringonça” [a Fenprof, por exemplo] não estiveram na praça pública a contestar “os problemas da Educação”. Espanto maior porque, explicava, o “Estatuto da Carreira Docente, que tem 36 anos” não se muda com “uma negociação rápida e imediata”. A solução é “rever as carreiras a partir do zero”, porque assim, tal como está, prenunciava, “vão chegar a acordo sobre alguns pontos, mas, daqui a seis meses, terão outros sobre a mesa e o problema nunca mais acaba”. E não acabou.A experiência do antigo ministro da Educação, no segundo Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, perante problemas “que têm cerca de 20 anos” apontava um caminho: “Os partidos, em vez de irem para as manifestações, sentem-se na Assembleia da República” e acertem soluções, porque “a Educação não é para ganhar votos, é para resolver problemas dos professores e dos jovens.” E a solução está por encontrar.O ministro que enfrentou a revolta dos estudantes contra a Prova Geral de Acesso ao Ensino Superior [prova de Português e Cultura Geral que existia desde 1989 e que seria extinta em setembro de 1992], os protestos contra o aumento das propinas [em março de 1993, houve até estudantes que despiram as calças logo após o discurso de Couto dos Santos no último do Congresso Nacional do Ensino Superior - acontecimento que lhes valeu o epíteto de Geração Rasca] e semanas de escolas fechadas a cadeado, greves às aulas, estradas cortadas, protestos e manifestações por todo o país, recebeu esta segunda-feira de Cavaco Silva o elogio de ter sido “o ministro das questões particularmente difíceis" “Na pasta da Educação, num tempo de grandes transformações, ele teve de tomar decisões muito corajosas. Pedi-lhe, num momento difícil das questões de Educação, que assumisse a responsabilidade por essa pasta e ele aceitou. E não fugiu às suas responsabilidades”, sublinhou o antigo primeiro-ministro.Nesse último Governo de Cavaco Silva [de 1991 a 1995), Couto dos Santos começou como ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, passou um ano depois a ministro da Educação e pouco mais tempo lá ficou - acabaria substituído por Manuela Ferreira Leite.Cavaco Silva recorda o seu antigo secretário de Estado da Juventude, ministro dos Assuntos Parlamentares, ministro da Educação e ministro-Adjunto e da Juventude como “um homem com grande criatividade e muito empenhado em contribuir para a resolução dos problemas do nosso país”.Couto dos Santos foi ainda deputado pelos distritos de Setúbal (1987-1994) e de Aveiro (2009-2015), presidente do conselho de administração da Assembleia da República (2011-2015) e presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, (2009-2011) e vice-presidente da mesma comissão (2011-2015).A nível empresarial, esteve na Quimigal (1983-1985), foi presidente-executivo da Associação Empresarial de Portugal (1995-2007), integrou o CA do Hospital da Amadora (1995-2003), presidiu à Casa da Música no Porto (2004-2005) e foi membro de diversos órgãos sociais na área dos media, comunicações, construção, energia e ambiente), tendo sido ainda consultor nas áreas de Energia, Ambiente e Saúde.Couto dos Santos, que nasceu em 18 de maio de 1949, em Forjães, no concelho de Esposende (Braga), tendo feito o Ensino Secundário no Liceu Passos Manuel, em Lisboa, licenciando-se depois em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, morreu esta segunda-feira num campo de golfe em Matosinhos.