A segurança, a imigração e a saúde serviram de arma de arremesso entre Chega, PS e o primeiro-ministro, mas o primeiro debate quinzenal do ano, esta quarta-feira, não excluiu um balanço da execução do Plano da Recuperação e Resiliência (PRR), a defesa da lei dos solos e, no final, acusações de desonestidade intelectual e uma resposta torta a Luís Montenegro por parte de André Ventura: “Deixe-se de tretas.”Luís Montenegro atacou e foi atacado em todas as frentes, mas os eleitos para as maiores farpas do chefe do Governo foram o PS e o Chega: “Se os senhores querem para o futuro de Portugal”, “para alavanca da economia” e “para salvaguardar o Estado Social a demagogia e o populismo, então os senhores estão na rota da pobreza.”O primeiro-ministro, na sua intervenção final, completou esta crítica acusando o Chega de estar também “na rota da pobreza socialista, tendo em conta que se juntam muitas vezes”.Momentos antes, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, referiu o “não é não” de Montenegro ao Chega, lembrando que foi “graças a [estas] três palavras” que o Governo ganhou as eleições. O deputado do Livre referia-se à forma como durante o debate Montenegro defendeu a operação policial que ocorreu no Martim Moniz a 19 de dezembro e como o primeiro-ministro, logo no início, numa resposta a Pedro Nuno Santos sobre o acesso ao Serviço Nacional de Saúde por parte de pessoas em “situação irregular em Portugal”, respondeu que “o hospital deve atender essas pessoas”, mas com um alerta: “Promover, pactuar com redes criminosas que tiram a capacidade do Serviço Nacional de Saúde é intolerável.”."O senhor deputado não é sério", acusa Montenegro, dirigindo-se a Ventura. Líder do Chega fala em "intervenção vergonhosa" do primeiro-ministro .Com “toda a serenidade”, o “Governo não está a ir atrás de agenda nenhuma”, defendeu-se Luís Montenegro, acrescentando que “está a executar” o programa da AD, “vertido em forma de programa de Governo, que o Parlamento não rejeitou”.Montenegro aproveitou a resposta a Rui Tavares para deixar mais mensagens à esquerda e à direita, que continuou a classificar como “extremos”.Mantendo a atenção no tema da Segurança, o primeiro-ministro voltou a falar em equilíbrio. “Não é oito nem oitenta”, frisou, aludindo, sem explicações ulteriores, a ideias que são até defendidas “pela família política” do Livre, que “é preciso respeito para que as pessoas sejam bem integradas” em Portugal e “é preciso que as polícias exerçam a sua tarefa numa relação de proximidade com as pessoas”.“Não concordo com aqueles que acham que são todos bandidos”, assumiu numa referência ao Chega, mas também disse não concordar “com os outros”.“O pensamento político dos extremos desvirtua qualquer política equilibrada”, defendeu.Com esta ideia, o paroxismo do debate quinzenal foi atingido quando o primeiro-ministro respondeu às críticas que André Ventura lançara sobre o ordenado de seis mil euros do recente secretário-geral do Governo, que Montenegro descrevera, no dia da tomada de posse de Carlos Costa Neves, como “trabalhar de graça”.Montenegro explicou que Costa Neves iria receber menos com este cargo do que ganharia se não estivesse a “fazer nada”, e a sua “filosofia” é ter uma “Administração Pública que recruta os melhores”.Virando-se para Ventura, Montenegro disse: “O senhor gasta milhões de euros por ano na atividade pública”, antes de defender que “só vencemos o populismo e a demagogia se tivermos coragem”.O ataque tornou-se mais direto à medida que as reações da bancada do Chega subiam de tom, à margem dos microfones do hemiciclo.“O senhor deputado não é sério, não é honesto intelectualmente”, acabou por rematar o primeiro-ministro.Já sob a forma de interpelação à mesa, André Ventura pediu para que fosse distribuída às outras bancada uma transcrição das palavras do primeiro-ministro a explicar que Costa Neves iria receber 6236 euros mensais.Desta vez, enquanto Montenegro reclamava pela intervenção, André Ventura acabou por lançar, gesticulando: “Deixe-se de tretas.”A meio do debate, a coordenador do BE, Mariana Mortágua, questionou o primeiro-ministro sobre “quantas casas do PRR vão ser construídas com esta lei” dos solos e “onde”.“Em princípio, nenhuma”, respondeu o primeiro-ministro, referindo que os projetos que vão financiamento com recurso a fundo europeu já estão apresentados, candidatados e executados.A lei dos solos “está elaborada para garantir transparência e legalidade”. Não está criada para estimular especulação”, afirmou Luís Montenegro, respondendo à missiva lançada um dia antes, em conferência de imprensa, pela líder parlamentar do PCP, Paula Santos, que assegurara que este decreto do Governo iria acentuar a especulação imobiliária.