Mariana Leitão (IL): Na defesa das ideias liberais contra os amanhãs que metem medo

Confirmada como candidata presidencial no final da Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão faz questão de dizer que a entrada na corrida a Belém resultou de uma reflexão individual, sem prejuízo de o seu partido querer defender o espaço político conquistado nos últimos anos, e que pretende aumentar. E, sobretudo, que existe uma razão substantiva para querer ir a votos, juntando-se a um rol de presidenciáveis que inclui o favorito de todas as sondagens Gouveia e Melo, o comentador televisivo Marques Mendes, o líder do Chega, André Ventura, e poderá ainda ter, entre outros, o antigo secretário-geral do PS, António José Seguro, enquanto se aguarda pela possibilidade de haver candidaturas apoiadas pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP, pelo Livre, pelo PAN e até pelo CDS, manifestamente nada entusiasmado com a disponibilidade do antigo líder social-democrata Marques Mendes. “O essencial é que esta é uma candidatura da liberdade contra o medo”, diz a líder do grupo parlamentar da Iniciativa Liberal, explicando em que consiste tal sentimento. “Hoje em dia, os portugueses vivem com medo do dia de amanhã, com medo de perder o emprego, com medo de saber se os filhos vão ou não ter de emigrar, com medo se vão ou não ter condições dignas de vida no dia em que cheguem à reforma, com medo de não conseguirem chegar ao fim do mês e pagar as contas, com medo de que os filhos não vão conseguir sair de casa. Estão amedrontados com as condições em que o país se encontra e em que eles vivem, e é importante darmos um sinal de que não precisa de ser assim”, reforça.Perante o que diz ser “um Estado castrador de sonhos e de ambições”, Mariana Leitão garante avançar para as eleições presidenciais, que se realizam em janeiro de 2026, com vontade de se apresentar aos eleitores como alguém que vê no Presidente da República “alguém que alerta os partidos políticos e o Governo para a urgência” dos temas que mais preocupam os portugueses. “Temos falhado. O país está estagnado há décadas. As pessoas sentem-no no seu dia-a-dia, pois trabalham e, mesmo assim, estão no limiar da pobreza”.Sendo essa realidade “algo que tem de ser combatido”, a candidata presidencial apoiada pela Iniciativa Liberal realça ser necessário “usar receitas diferentes” do que Portugal tem experimentado nas últimas décadas. Algo que resume como “um sentimento de ambição, de que podemos ser muito mais do que somos hoje em dia”, nomeadamente no que toca a crescimento económico e prosperidade dos portugueses..Jovem antes de mulher.No caminho que a conduziu à corrida a Belém, após defender dentro do partido a necessidade de uma candidatura própria, pois “face a tudo aquilo que já se conhecia dos eventuais candidatos, nenhum sequer estava perto de poder representar o espaço das ideias liberais”, um ponto fulcral foi a idade de quem terá apenas 43 anos quando os eleitores portugueses forem chamados a escolher o próximo Chefe de Estado. “Tenho um espírito muito enérgico, com a vontade de ambição e de mudança que é fundamental trazer para a campanha”, defende, salientando que também considera importante cortar com a ideia de que se trata de uma eleição reservada a pessoas mais velhas ou “já com larga experiência na política”.Na Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, antes de ser anunciado o seu nome, ouvira-se que seria simbolicamente importante escolher alguém que já tivesse nascido depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. E a atual líder parlamentar do partido encaixa perfeitamente nesse perfil, pois nasceu a 28 de setembro de 1982, dias após a promulgação da revisão constitucional que representou a consolidação do regime democrático em Portugal, com o fim da tutela militar sobre o poder político. “Assisti à construção e à consolidação da democracia que foi negada aos meus pais e aos meus avós, e em geral aos portugueses, durante o Estado Novo”, diz Mariana Leitão, salientando que tudo aquilo que pôde testemunhar lhe deu a “noção de que temos sempre de defender a democracia liberal, que é um dos bens mais preciosos que temos, a par dos direitos individuais, porque infelizmente não se tratam de um dado adquirido”. Em sua opinião, as pessoas que nasceram no pós-25 de Abril devem ter noção de que “foi um caminho longo para se conseguir chegar ao sistema que temos hoje em dia, e que não podemos baixar os braços, tendo sempre de estar alerta”.Assumindo a relevância de ser “alguém mais jovem” - embora alguns meses mais velha do que André Ventura, outro dos candidatos à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa que já estão confirmados - , Mariana Leitão admite que não gosta da ideia de a Presidência da República “ser uma espécie de pré-reforma de políticos”, consubstanciada na elevada média etária dos últimos Chefes de Estado. “É importante os portugueses sentirem que vêm no Presidente da República alguém que os representa aos vários níveis, independentemente da faixa etária, e para os jovens também é um sinal positivo verem alguém tão jovem a avançar”, comenta, acrescentando de seguida o reparo de que “já não sou assim tão jovem, mas bastante mais jovem do que a maioria deles”.Para a candidata, ter no boletim de voto alguém com a sua idade representa o sinal de que “não é preciso chegarmos a uma certa idade para sermos candidatos à Presidência da República”, esperando que os jovens portugueses também se inspirem nessa candidatura para se envolverem mais nas escolhas políticas.Menos relevante, no entender de Mariana Leitão, é o facto de se tratar de uma mulher que está a concorrer a um cargo até hoje só exercido por portugueses do sexo masculino. “Sinceramente, enquanto mulher, para mim é uma questão bastante secundária. O que interessa é que os candidatos tenham vontade, tenham mérito e sejam pessoas competentes”, diz, ressalvando que fica “satisfeita, de alguma forma, por ser uma mulher no meio de tantos homens” que se perfilam na corrida a Belém, não obstante também a psicóloga clínica Joana Amaral Dias e a professora universitária Manuela Magno terem revelado a intenção de se candidatarem. .Estratégia de campanha.Apesar de ainda faltar quase um ano para as eleições presidenciais, Mariana Leitão já está a formar uma equipa de campanha. “Tenho várias pessoas a trabalhar comigo e é óbvio que mais se vão juntar no futuro”, garante, deixando claro que pretende juntar elementos independentes aos membros do seu partido, que “comprovadamente têm feito campanhas eleitorais muito boas, com uma mensagem muito clara, de forma irreverente e com resultados comprovados”.Entre as prioridades da campanha eleitoral estará também o défice de notoriedade em relação a outros candidatos, nomeadamente Gouveia e Melo, André Ventura e Marques Mendes, que é reconhecido por Mariana Leitão. “É óbvio que as pessoas que estão mais atentas e acompanham o que se passa no dia-a-dia da política e da Assembleia da República devem conhecer-me enquanto líder parlamentar, mas a grande maioria dos portugueses não faz ideia de quem sou. Portanto, há um caminho que é preciso ser feito”, diz.Isso passará por levar a candidatura “a todos os recantos do país”, contrapondo ao que diz ser o cinzentismo sentido pelos portugueses “condicionados pelo medo” a alegria e esperança de quem sabe ter necessidade de “obviamente fazer o caminho da notoriedade”..Fasquia acima de Mayan.Depois de uma primeira candidatura presidencial apoiada pela Iniciativa Liberal, em 2021, ter obtido 134 484 votos (3,22% do total), uma das fasquias de Mariana Leitão consiste em superar o resultado de Tiago Mayan Gonçalves. “O partido era ainda relativamente pequeno, pelo que foi um bom resultado enquadrado na altura em que estávamos. Hoje em dia, o partido já sendo maior, já tendo um grupo parlamentar, tendo mais disposição mediática, e eu não sendo uma absoluta desconhecida, espero obviamente ter um resultado superior”, diz.Apesar disso, hesita em apontar metas, sendo certo que a vitória - ou mesmo a passagem a uma eventual segunda volta, que ocorreria pela primeira vez em 40 anos - aparenta ser uma miragem. “Ainda é cedo para falar em objetivos concretos, até porque nem sequer sabemos ao certo quantos candidatos vão ser, e quais vão ser”, ressalva, preferindo cingir-se ao objetivo de “chegar ao final e sentir que devolvi a alegria às pessoas e a esperança de que o futuro possa ser diferente”. E isso passará pela mensagem, que se adivinha vir a ser constante na sua campanha, de que todos os portugueses têm de lutar “para sermos cada vez mais livres e para termos cada vez menos medo”.Trata-se de uma conquista que associa à adoção por cada vez mais portugueses das políticas liberais que “resultam noutros países da Europa”, mas das quais não falta experiência de aplicação em Portugal. Também por esse motivo, quando se lhe pergunta qual é o Presidente da República que considera ser o melhor exemplo, realça que nenhum deles foi (ou é) liberal. E daí que a sua escolha possa parecer surpreendente. “Arriscaria dizer Jorge Sampaio, porque me parece que foi alguém moderado, preocupado com o futuro do país e bastante sensato na forma como geriu as várias situações que teve em mãos”..Ascensão acelerada de quem garante não ter vontade de suceder a Rocha .O que pensa Mariana Leitão.Líder parlamentar da Iniciativa Liberal tem redução do peso do Estado e aumento da escolha entre as suas prioridades.EconomiaA necessidade de o país acelerar a economia, após “décadas de estagnação”, está na base do pensamento político da candidata, para quem a prosperidade implica “receitas diferentes” do que têm sido seguidas.EstadoPara a líder parlamentar da Iniciativa Liberal, o Estado “é em grande medida castrador dos sonhos e das ambições” dos portugueses. Até por estar “disperso por todo o lado”, em vez de se focar nas áreas essenciais.DemocraciaRecuperar a confiança nas instituições, depois de esta se ter degradado nos últimos tempos, está entre as prioridadesde quem defende queos portugueses devem sentir a urgência de se envolver na política.SaúdeLiberdade de escolha, concorrência e utilização de toda a capacidade instalada contrapõem-seao “enviesamento ideológico” de queos serviços de saúdesó devem ser prestados pelo setor público.InovaçãoMais do que apenas o desenvolvimento tecnológico, pretende-se defender a inovação em todas as dimensões da vida dos portugueses, nomeadamente na sua relação com os serviços do Estado.JustiçaCrítica dos sucessivos adiamentos na reforma da Justiça, defende a implementação de medidas para evitar, entre outros problemas, que continue a verificar-sea constante prescrição dos megaprocessos.EuropaCrê que “não está a ser dada a devida atenção” ao facto de Portugal “estar a muito poucos anos” de deixar de receber fundos da União Europeia, sendo fulcral encontrar outras formas de desenvolver o país.DefesaEm simultâneo, questiona a dependência militar da Europa em relação aos Estados Unidos. E diz ser “urgente tomar passos” no sentido de Portugale os restantes países atingirem 2% do PIB em investimento na Defesa.

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