Livre, BE e PAN acusaram este domingo (27 de julho) o Governo de crueldade e de atacar as famílias ao propor a revogação do regime de falta por luto gestacional, apelando a um “sobressalto cívico” contra esta medida.Em causa está a revogação, proposta pelo Governo no anteprojeto de reforma laboral anunciado esta quinta-feira, do regime da falta por luto gestacional, atualmente três dias sem perda de direito, acrescentando à licença por interrupção de gravidez o regime de faltas para assistência à família.Em declarações aos jornalistas após ter firmado um acordo pré-eleitoral com BE e PAN para as autárquicas em Loures, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, acusou o Governo de estar a propor uma “reversão” no que foi “um grande avanço” societal.A reversão “exclui gente. [Eram] três dias que tinham uma função importante do ponto de vista do reconhecimento nas políticas públicas da dor de alguém que passa por uma situação de luto gestacional, mãe e pai. Acabar com isto é, em si mesmo, grave”, criticou.O porta-voz do Livre abordou ainda as notas que o Governo tem feito nas redes sociais sobre esta matéria, acusando o executivo de estar a “procurar mentir acerca da sua própria política” e substituir-se ao trabalho dos jornalistas, criando “falsas páginas de verificação de factos”..O que muda, afinal, com o fim do luto gestacional proposto pelo Governo. “Em vez de esclarecerem, de recuarem quando reconhecem que é errado, o que fazem é dobrar a aposta numa política que é errada e ainda tentar confundir o eleitorado dizendo: ‘não, isto não desapareceu, isto continua aqui, só que com outro nome ou de outra maneira”, disse.Por sua vez, a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, frisou que foi o seu partido que, em 2023, propôs a consagração na lei a falta de três dias por luto gestacional, até às 20 semanas de gravidez, e considerou “absurdo e incoerente” que o Governo “confunda, no seu preconceito e cegueira ideológica, o direito das mulheres à interrupção voluntária da gravidez (IVG) com o direito a um pai e uma mãe viverem o luto por terem perdido um filho”.“Aliás, o Governo deveria ter vergonha, não há outra palavra para se utilizar, de ter neste momento mães que perdem os seus filhos a caminho do hospital (…) e não lhes reconhecer o direito ao luto e ao sofrimento”, disse.Para Inês Sousa Real, o que se deveria estar a discutir neste momento era o alargamento do luto gestacional para os 20 dias, equiparando-os à duração do luto parental, porque “a dor da perda de um filho não cabe em três dias, às vezes dura uma vida inteira”.“Isto só vem demonstrar que este Governo está a pôr mais uma vez sob ataque não apenas o direito das mulheres, mas o direito que temos enquanto sociedade a podermos fazer o luto quando temos uma perda desta natureza”, disse, considerando que a proposta é “absolutamente indigna”.A porta-voz do PAN garantiu que, quando a Assembleia da República retomar os trabalhos, em 17 de setembro, o seu partido irá pedir a audição da ministra do Trabalho para “prestar esclarecimentos, porque deve uma explicação a todas as mulheres, a todas as famílias que perderam os seus filhos e que têm o direito a este luto”.Já o dirigente e ex-líder parlamentar do BE Fabian Figueiredo acusou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de estar na “política de forma cruel”.“Isto é uma crueldade e necessita de um sobressalto cívico. Perder um filho é uma dor gigantesca. Que nós, em 2025, discutamos o fim do direito ao luto gestacional é uma crueldade imensa, que tem de ser travada”, disse.Fabian Figueiredo apelou a que “toda a gente nas redes sociais, na conversa com os seus vizinhos” ou através de cartas abertas, “manifeste o seu desagrado” contra esta medida.“Portugal é um país de gente corajosa, trabalhadora e merece políticas à altura. Nós não deixaremos e faremos todas as pontes que sejam necessárias para [impedir] que esta crueldade se inscreva na lei”, garantiu..Mulheres Socialistas acusam Governo de “inequívoco retrocesso” no luto gestacional