José Manuel Silva, médico de profissão, professor universitário e antigo bastonário recandidata-se a um segundo mandato como presidente do concelho de Coimbra, apoiado pelo PSD, Iniciativa Liberal, CDS-PP, Nós, Cidadãos!, PPM, Volt e MPT.O José Manuel Silva descarta a ideia de ser uma coligação de direita por não ter o Chega?Estigmatizamos os rótulos de direita e esquerda, parece que é como Deus e o Diabo. Mas sim, não incluímos o Chega, nem sequer se aplica o epíteto de uma candidatura de direita ou uma coligação de direita porque há um partido mais à direita. A maioria dos partidos já fazia parte da coligação, entrou o MPT porque tinha havido um desentendimento há quatro anos, e a Iniciativa Liberal, porque não discorda do tipo de estratégia e dos resultados que temos. Estavam outros dois pequenos partidos na coligação anterior, o Aliança e o RIR. O Aliança extinguiu-se, o RIR queria um lugar elegível e, obviamente, pela sua expressão não havia essa possibilidade. Entendeu afastar-se.Diz serem necessários oito anos para se verificarem determinadas mudanças estruturais numa cidade. A que se refere?Há quatro anos fui proposto por várias forças políticas, algo inédito em Coimbra. A oposição dizia que era um programa muito ambicioso para quatro anos e concordamos com isso. Para pensar uma cidade a médio e longo prazo não podemos estar preocupados com ciclos eleitorais demasiado curtos. Há alguns aspetos do programa que ainda não cumprimos, embora a esmagadora maioria esteja cumprida. Dou um exemplo, para expandirmos o IParque, o nosso Parque Empresarial e Tecnológico, andamos há dois anos a fazer expropriações amigáveis, candidatámo-nos agora a financiamento para fazer a infraestrutura de mais 20 hectares desse parque, mas também para conseguirmos lançar um concurso para triplicar as câmaras de videovigilância. Apesar de termos há três anos 400 mil euros reservados no orçamento, só agora é que conseguimos lançar o concurso por razões legislativas e burocráticas. As pessoas esquecem-se que herdámos uma câmara que funcionava exclusivamente a papel. ."Sim, acho possível vencer novamente com 12% de diferença, sentimos que as pessoas percebem que mudámos o concelho"José Manuel Silva, presidente e recandidato à CM de Coimbra.O Metrobus é uma das obras mais relevantes para Coimbra?É muito importante por duas razões. É a primeira vez que Coimbra vai dispor de um sistema de mobilidade de primeiro nível. Vai ser um sistema de alta capacidade, com alta frequência, a circular em via dedicada, elétrico, com um sistema centralizado de gestão semafórica para que tenha sempre prioridade nos cruzamentos. Apanhámos este projeto em andamento, em fase de consignação. O nosso grande trabalho foi coordenar as obras, acelerar, quando toda a oposição dizia que era preciso recalendarizar. Precisamos, naturalmente, que a cidade deixe de ter tantas obras em simultâneo, mas são por uma boa causa e, portanto, acelerámos as obras. Houve muitos problemas: a inflação que criou problemas às empresas, a falta de pessoal, a falta de cadastro subterrâneo, os achados arqueológicos que, obviamente, numa cidade como Coimbra, são frequentes. Mas é importante a requalificação da cidade em termos subterrâneos. Tínhamos condutas absolutamente decrépitas, a conjunção de águas pluviais e residuais, o que encarecia o tratamento das águas. Estamos a fazer a maior transformação de Coimbra desde o tempo da construção da Universidade. Não há obras sem causar incómodo e não há progresso sem elas. Fomos nós a fazer a relação funcional e urbanística do trajeto de Metrobus com a cidade. Isso não estava feito nem previsto. Tem prevista a extensão a outros concelhos?Sim, a linha suburbana que liga a Lousã, passando por Miranda do Corvo, é muito importante para esses concelhos que são, de alguma forma, dormitórios de Coimbra. Na primeira década deste milénio foram levantados os carris da linha da Lousã e as pessoas ficaram sem esse transporte. Vão recuperar a rapidez e a comodidade da ligação desses concelhos a Coimbra. Aliás, nessa zona tudo o que havia de habitação para vender está vendido, porque vão ser zonas privilegiadas para residir e, em poucos minutos, estar no centro de Coimbra.O TGV pode ser fulcral para Coimbra?É fundamental. E um dos trabalhos que nós fizemos foi trazer o TGV para o centro da cidade, porque o que estava previsto era o TGV passar na periferia de Coimbra. Obrigaria a usar outro transporte. Vamos ter alta velocidade ferroviária em Coimbra B, a 15 minutos a pé do centro da cidade. Vai ser lançado o concurso na segunda fase, de uma grande estação intermodal de qualidade internacional de Coimbra. Ficaremos, se calhar, com a melhor estação da linha do Norte e na linha de alta velocidade. Isso vai colocar Coimbra como a única cidade do país servida por dois aeroportos em tempos internacionais. Podemos aceder a Coimbra por via aérea, através de um aeroporto 30 minutos a norte ou de um aeroporto 50 minutos a sul. São tempos absolutamente normais para as metrópoles europeias, Já não será para os nossos mandatos, mas será para os conimbricenses. E quando lidamos com as empresas, nomeadamente com as empresas internacionais, apresentamo-lo como uma vantagem competitiva .Mencionou ter trazido oito empresas internacionais para o concelho. É a forma de fixar os jovens?Quando entrámos na câmara vendemos todas as áreas empresariais livres. Vendemos tudo. Aliás, basta dizer, por exemplo, no IParque, que vendemos a última parcela, eram 17 ao fim de 13 anos. Estamos a desenvolver uma nova zona industrial de 63 hectares na zona de Souselas. Produzimos 8.500 diplomados por ano nos diferentes graus de ensino, este é o ativo mais importante para as empresas. Tudo o que se instala em Condeixa, Cantanhede, Figueira da Foz, Mealhada, Penacova, para nós pertence à grande Coimbra e é bem-vindo. Estamos a criar as condições para isso, falando com os promotores imobiliários para construir torres de escritórios. ."Vamos trazer o TGV para o centro da cidade, vamos ter alta velocidade a 15 a pé do centro. Coimbra será única cidade servida por dois aeroportos em tempos internacionais"José Manuel Silva, presidente e recandidato à CM de Coimbra.Em relação à habitação, quais são os planos para a Baixa?Acelerámos o licenciamento de 500 habitações, 200 camarárias. Estamos a reabilitar 300, com construção modular na Quinta das Bicas. Na Baixa, falta apenas retirar um comerciante, um taberneiro na Rua Direita, para reabilitar toda aquela zona. Já chegámos a acordo com os donos para adquirir as únicas duas habitações medievais para as reabilitar. Alguns dos proprietários da Baixa não são fáceis, não se importam de ter os seus edifícios fechados. Também estamos a criar mecanismos que estão previstos na lei. A ideia é a câmara ficar com esses edifícios, vender aos privados ou estabelecer alguns para habitação social. Vamos ter espaço para uma centena de estudantes também e isso ajudará a dinamizar a Baixa.Falta investir em segurança?O investimento na PSP e GNR é competência do Estado. Faltam agentes, mas as câmaras de videovigilância vão cumprir esse papel. Já deviam estar instaladas há dois anos, mas só agora está a finalizar o concurso. Trabalhei nas viaturas médicas de reanimação e tomei decisões rápidas, não consigo tomar as decisões tão rápidas como costumava tomar porque na administração pública tudo é complexo. Hoje, qualquer concurso é impugnado. Não podemos andar meses à espera de uma decisão do tribunal.É da burocracia que mais se queixa a Luís Montenegro?Trabalho com os diferentes ministérios, enfim, reivindicando o apoio do Governo Central, até porque, por exemplo, precisamos de uma revisão da lei das finanças locais para que as autarquias tenham financiamento adequado à sua capacidade de desenvolvimento das comunidades. Precisámos de dois milhões de euros para recuperar todo o sistema de ar condicionado dos centros de saúde que herdámos e não recebemos esse financiamento. A sobrecarga de contratação pública que passou da Administração Central para a Administração Local obriga-nos a contratar mais pessoas e esses custos indiretos da descentralização não foram calculados. Até a legislação eleitoral autárquica deve ser revista, tem 50 anos praticamente. Deviam ser de cinco anos os mandatos e, se calhar, com limite de dois mandatos. Teve quase 12% de vantagem na última eleição. Acha que é possível repetir tamanho conforto?Sim, acho possível. Aliás, estou convicto que assim irá acontecer. Sentimos que as pessoas percebem que mudámos o concelho, que fizemos um trabalho difícil e com êxito. Nos oito anos que nos precederam não houve uma única marca empresarial nova. Nesses oito anos, Coimbra perdeu 2.500 jovens entre os 25 e os 34 anos, nos nossos três primeiros anos já recuperámos 1.616. Perdemos 6.400 residentes entre 2001 e 2021 e nos nossos três primeiros anos já ganhámos 5.010.O facto de o PS escolher uma ex-deputada, ministra, que esteve na Europa, dá-lhe satisfação? Não só essa questão, mas também pela primeira vez o PS fez uma coligação e faz uma coligação que o arrasta para a extrema esquerda, que até acho que nem é benéfica para o PS. Portanto, não só foi buscar uma figura mediática, embora isso eu considere que não é uma vantagem em termos de candidatura autárquica, como leva pessoas que são daquelas que estavam sempre contra tudo..Autárquicas. Coimbra, do levantar ao ganhar vai uma enorme montanha para os socialistas.Ana Abrunhosa: "Cidades não são mercearias, comigo Coimbra pode negociar no Terreiro do Paço"