José Luís Carneiro foi nomeado secretário-geral do PS há seis meses e encontra um momento de pacificação dentro do partido. No dia 28 de junho saiu com 95% dos 18 .263 votos, apesar de, como candidato único, ter visto uma elevada taxa de abstenção, acima dos 51%, e mais de 800 votos nulos ou brancos. Unanimidade em partidos políticos é garantia improvável, até pela quantidade de decisões que são tomadas semanalmente na política nacional, ainda assim, ao que o DN pôde apurar, não existem movimentos críticos internos e o ex-ministro da Administração Interna - que perdeu as suas primeiras eleições internas para Pedro Nuno Santos - tem a confiança para continuar. Como tal, ao que o nosso jornal pôde saber junto de várias fontes socialistas, não são esperadas candidaturas de renome ao próximo Congresso. Esse está dependente ainda das Presidenciais e a provável existência de uma segunda volta deve empurrar a reunião magna para o final de março, início de abril. A data deverá ser anunciada pouco após a primeira volta. Para já, sem sombras à liderança de Carneiro, calculando-se que no Congresso Nacional se apreciem e definam as linhas gerais para 2026 e adiante. O caminho começou com urgência. José Luís Carneiro, experiente na Administração Interna, criticou a falta de reação de Luís Montenegro no verão, aquando dos graves incêndios que assolaram Portugal, e queixou-se, repetidamente, de não serem implementadas as propostas de coordenação regional do PS. O mesmo depois para a Saúde, com um ataque acérrimo a Ana Paula Martins, ministra da tutela, não só pelo desinvestimento, mas pela falta de operacionalização de um programa de emergência que os socialistas também reivindicam. Desde julho, Carneiro vincou oposição a Luís Montenegro e pediu reuniões para discutir Saúde, Justiça e Habitação. Desses mesmos encontros disse sair sem garantias. A exceção aconteceu no reconhecimento da Palestina como Estado e nas Leis de Bases da Saúde e Laboral. Foram, aliás, estas duas promessas que fizeram Carneiro discutir com a restante bancada parlamentar que uma abstenção no Orçamento do Estado mostraria ao país e ao primeiro-ministro que o PS optaria pela responsabilidade. Mesmo estando contra as mexidas no código do trabalho.A abstenção na generalidade e na especialidade não foi unânime, mas altamente maioritária na bancada parlamentar, que entendeu a importância de não arriscar novo cenário de eleições posterior às Presidenciais e que era importante não condicionar o uso dos fundos do PRR que ainda descendem de obras programadas pelos socialistas. Para isso, o PS viu cerca de 30 propostas aprovadas, mas em nenhuma feriu o que disse ser um orçamento que prevê receita que pode não chegar. Não avançou nem aprovou subidas maiores ao salário mínimo, não aceitou as propostas do Chega nas pensões e no IVA alimentar e apresentou sempre sugestões mais conservadoras, que ainda assim também foram reprovadas pelo partido de extrema-direita, nestas mesmas alíneas. Arremessou ao Chega a ideia da irresponsabilidade política e financeira. Em 2026, o cenário pode ser diferente, há uma promessa de maior fiscalização às receitas do PRR e, fundamentalmente, o desacordo com o que entende ser a radicalização do governo, visível na Lei dos Estrangeiros. Enquanto votava contra o Orçamento, o Chega foi o parceiro nesta e na Lei da Nacionalidade, o que levou o PS a sustentar a inconstitucionalidade de normas, travando, para já, o segundo documento. Segue-se a oposição à lei laboral em perspetiva. Até porque, sabe o DN, os socialistas, mesmo tendo viabilizado o Orçamento do Estado, continuam a ver-se marginalizados das conversas para um possível acordo mais ao centro com o governo de Luís Montenegro.A nível autárquico, a larga maioria das federações preza a atitude de Carneiro se deslocar, e levar com ele os deputados, a conhecer as regiões do país. O tema da coesão territorial é uma grande bandeira. Mas também o respeito pelos candidatos escolhidos anteriormente e, já depois de 12 de outubro, das decisões das concelhias locais e vereadores quanto ao boicote ou não a orçamentos do PSD. A democratização é, para os filiados, aspecto a assinalar desta nova liderança. Perdendo a liderança da Associação Nacional de Municípios e as Autárquicas, o PS contrariou o pior resultado em legislativas com 126 câmaras, das 128, conquistadas a solo, e com vitórias em Faro, Coimbra e as históricas em Évora, Viseu e Bragança. O centro, a estabilidade do discurso pesou, certamente, dizem ao DN as federações. E encaminhou uma nomeação de António José Seguro para candidato presidencial que foi levada a discussão e que ganhou força após o resultado autárquico. Até aqui, contrariando antecessores, o secretário-geral tem-se mantido à margem, lidou com tranquilidade quando outros militantes anunciaram apoios a outros candidatos. Só a 10 de dezembro criticou Gouveia e Melo por se “arvorar candidato do PS” e, como se pode ler na entrevista ao lado, agora, sim, pede o voto da esquerda democrática, mas também do centro-direita. Um discurso carregado de significado do novo líder do PS, que, cordialmente, reconheceu que Pedro Nuno Santos lhe comunicara a saída por seis meses do Parlamento, também para não ir contra a indicação do PS no OE. Até aí, Carneiro, como diz ao DN, terá de ter recorrido aos “nervos de aço.” .Presidenciais. José Luís Carneiro e António José Seguro afinam ideias em reunião esta segunda-feira .José Luís Carneiro dá liberdade de decisão às concelhias nos orçamentos municipais