Rui Rocha concentrou-se nas críticas à governação da Aliança Democrática.
Rui Rocha concentrou-se nas críticas à governação da Aliança Democrática.Foto: Leonardo Negrão

Iniciativa Liberal: Rui Rocha escolhe Luís Montenegro como rival em vez de Rui Malheiro

Primeiro dia da Convenção Nacional foi mais tranquilo do que a campanha interna fazia prever. Maioria dos liberais no Pavilhão Paz e Amizade estão com o candidato à reeleição, que fez mais críticas ao PSD do que ao opositor. Maiores dúvidas há quanto à vitória de Bernardo Blanco no Conselho Nacional e à confirmação de Mariana Leitão na corrida a Belém.
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Quem tivesse aparecido no Pavilhão Paz e Amizade neste sábado, sem conhecimento prévio do que estava em causa na Convenção Nacional da Iniciativa Liberal (IL), poderia desconfiar que Rui Rocha enfrentava Luís Montenegro neste fim-de-semana, tão constantes foram os ataques ao PSD e ao Governo da Aliança Democrática.

“A diferença entre o socialismo e a social-democracia é a velocidade com que empobrecemos”, disse Rui Rocha, na apresentação da moção de estratégia global da Lista L, à frente da qual se recandidata ao segundo mandato na presidência da Comissão Executiva da IL.

Na mesma intervenção, dedicado ao tema da aceleração, que considerou ser a chave para resolver os problemas de Portugal, o candidato à reeleição assumiu o seu partido como única alternativa a uma “enorme coligação partidária”, à qual chamou Partido do Estado. E, num dos “provérbios liberais” que incluiu no discurso, reiterou que “mais vale acelerar só do que mal acompanhado”.

O tom foi mantido, horas mais tarde, pelo antecessor de Rocha, João Cotrim de Figueiredo, que elogiou todos os candidatos aos órgãos do partido, realçando a importância de a IL sair de Loures “forte e preparada para desafios grandes e difíceis”.

Rui Rocha com João Cotrim Figueiredo
Rui Rocha com João Cotrim FigueiredoLeonardo Negrão

Para o eurodeputado, “o PSD não é melhor do que o PS” nas mais diversas áreas de governação, desde a Saúde “à beira do colapso” até à Educação, Habitação, Justiça e Segurança. E, perante o que disse ser “apatia total” do PSD, elogiou o partido por votar contra um Orçamento do Estado “igual aos do PS”.

Ao contrário do que sucedeu na Convenção de 2023, em que as acusações cruzadas entre membros das candidaturas de Rui Rocha e Carla Castro foram constantes, pouco mais sucedeu nas principais intervenções deste sábado, para lá de reparos de Rui Rocha, na sua primeira intervenção, na qual fez o balanço do mandato, como “precisamos de combater o populismo cá dentro”, reagindo às acusações de nepotismo feitas por Rui Malheiro durante a campanha.

Rui Rocha concentrou-se nas críticas à governação da Aliança Democrática.
Rui Rocha é reeleito presidente da IL e anuncia Mariana Leitão como candidata presidencial

Quanto ao facto de o melhor resultado da IL durante o seu mandato, nas eleições para o Parlamento Europeu, ter sido atribuído ao cabeça de lista, João Cotrim de Figueiredo, respondeu que esse resultado “não é dos que não acreditaram e dos que não estiveram presentes”.

Também Rui Malheiro fez jus ao nome do local onde decorre a Convenção Nacional, optando por um tom conciliatório e reconhecendo que “há espaço para melhorar”. Mesmo a questão do que disse, na campanha interna, ser o acantonamento da IL entre a Assembleia da República e a sede nacional, traduziu-se na necessidade de “atrair mais pessoas e fazer pontes”.

“Para sermos mais fortes temos de ser um partido de todos e para todos”, defendeu o candidato da oposição, presidente do movimento Unidos pelo Liberalismo, assumindo um compromisso com a “proximidade, ação e escuta ativa”, durante a apresentação da moção de estratégia global com que se candidata à liderança. 

Rui Malheiro, candidado à liderança da IL.
Rui Malheiro, candidado à liderança da IL.Leonardo Negrão

No recinto, onde se encontram cerca de 500 membros da IL, estando duas vezes mais a participar à distância, podendo intervir e votar através da App da Convenção, o “aplaudómetro” revelou grande vantagem de Rui Rocha sobre Rui Malheiro. Mas esse indicador, reconhecido por membros de diversas candidaturas, também demonstrou a grande popularidade de Mariana Leitão. A atual líder do grupo parlamentar, candidata a vice-presidente da Comissão Executiva na lista de Rui Rocha, entusiasmou a plateia ao apresentar parte da moção de estratégia global da Lista L.

Também se falou das próximas eleições autárquicas, para as quais Malheiro estabeleceu metas que Rocha tem evitado e uma recusa de acordos com outros partidos. Já o líder em busca de reeleição reafirmou que terá “confiança total” nos núcleos locais e que as coligações deverão ser exceções, pois “não trocamos as nossas ideias por mais ou menos cargos”.

Rui Rocha concentrou-se nas críticas à governação da Aliança Democrática.
DN Debate | Cabeças de lista ao Conselho Nacional da Iniciativa Liberal (Parte 1)

Mariana Leitão na corrida a Belém?

Para o segundo dia da Convenção Nacional, que arranca com a votação para os órgãos dirigentes do partido nos próximos dois anos, ficará a revelação do nome do candidato presidencial que a IL apoiará, caso se confirme a vitória de Rui Rocha, pois Rui Malheiro não considera essa escolha prioritária.

Com a certeza de que não será Rodrigo Saraiva, tendo o vice-presidente da Assembleia da República dito, numa intervenção ao início da noite, que “gosta muito de Belém”, sendo um conhecido adepto do Belenenses, mas prefere o Estádio ao Palácio.

Ainda assim, acrescentou ser tempo de estar na Presidência da República “quem já nasceu em democracia”. Como Mariana Leitão, nascida em 1982, e que terá 43 anos quando os portugueses forem chamados a eleger quem sucederá a Marcelo Rebelo de Sousa.

Motosserra de cartão e incerteza no Conselho Nacional

Jorge Pires sobe ao palco da Convenção Nacional da IL com motossera, inspirado por Javier Milei, presidente argentina.
Jorge Pires sobe ao palco da Convenção Nacional da IL com motossera, inspirado por Javier Milei, presidente argentina.Leonardo Negrão

Maior é a incerteza entre os liberais quanto ao desfecho da concorrida eleição para o Conselho Nacional. Apesar do até agora vice-presidente da IL Bernardo Blanco ter muitos apoiantes, particularmente entre os mais jovens, e apresentar o valioso trunfo do antigo colega de bancada parlamentar João Cotrim de Figueiredo, a reação dos membros presentes ao discurso do candidato da Lista F foi equivalente à recebida por Pedro Ferreira, atual vice-presidente do Conselho Nacional e primeiro candidato da Lista X.

Além das duas listas mais conotadas com a liderança de Rui Rocha, embora Pedro Ferreira tenha optado por um tom mais conciliatório para com a oposição interna, enquanto Bernardo Blanco disse que “houve quem se candidatasse para aparecer nas notícias”, André Serpa Soares defendeu que “quando agora todos dizem que são independentes em relação à Comissão Executiva”, os eleitos pela sua Lista T (segunda mais votada em 2023) “foram sempre verdadeiramente independentes”, e Paulo Ricardo Lopes, que encabeça a Lista D olhou para as eleições autárquicas, comprometendo-se a “garantir que não existe uma Via Verde para coligações”.

Mais crítico do mandato de Rui Rocha, Francisco Cudell, que encabeça a Lista A, alertou os participantes para que “não esperem resultados diferentes mantendo a mesma estratégia”. E deixou um dos raros reparos ao desempenho eleitoral do partido ouvidos neste sábado: “Não, não estamos a crescer.”

Como se esperava, um dos momentos marcantes do primeiro dia de trabalhos coube aos representantes da Lista M, formada por admiradores do Presidente da Argentina, Javier Milei. O cabeça de lista Jorge Pires subiu ao palanque empunhando uma motosserra de cartão, para defender que a IL deve ser “a casa das ideias de Milei” em Portugal. E deu exemplos dos cortes que o partido deverá promover, recorrendo à expressão popularizada pelo argentino: “O que devemos fazer com a TAP? Afuera! O que devemos fazer com a CP? Afuera! O que devemos fazer com as rendas congeladas. Afuera! O que devemos fazer com as subvenções vitalícias? Afuera!”

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