Gouveia e Melo. Anunciar candidatura a Belém a dias das eleições? “Não se percebe”

Passaram 40 dias. A 4 de abril, numa entrevista ao DN, Henrique Gouveia e Melo dizia “já” ter tomado uma decisão quanto a uma candidatura a Belém. Mas, acrescentava, não queria “interferir” nas eleições legislativas e, por isso, só depois de 18 de maio a anunciaria publicamente. Aconteceu esta quarta-feira em declarações à Renascença: “A minha decisão é avançar com a candidatura à Presidência da República. Será anunciada formalmente no dia 29 de maio.”O que terá motivado esta antecipação? “Não se percebe, não se vê nada de óbvio na escolha deste timing”, diz ao DN Edson Athayde, diretor criativo da FCB Lisboa. Fazer este anúncio a quatro dias das eleições “é um pouco fora de regra, fora do normal”. “Não se encontra uma lógica nesta decisão. Podia ter esperado mais uns dias para anunciar a sua candidatura”, refere o também professor universitário..Gouveia e Melo no podcast Soberania: "não me sinto obrigado a ficar calado".Manuel Falcão, consultor de media, tem outra perspetiva: “Tendo em conta aquilo que o almirante já disse no passado, acho que este anúncio se coloca dentro da lógica de querer reforçar independência”. “Independência” em relação a quem? “Ao vencedor, seja ele qual for, das eleições do próximo domingo” e pode servir para “se demarcar do resultado” de 18 de maio.Este anúncio, entende Edson Athayde, não deverá prejudicar “ninguém ou nenhum partido”. “Não creio mesmo que saia alguém prejudicado”. Porquê? “Se quer maioria, tem de apelar ao centro e a todos os partidos, portanto, não acho que haja alguém beneficiado ou prejudicado com esta decisão em particular.” Como se justifica, então, a decisão “curiosa” de anunciar já a candidatura a Belém? “Era preciso ter uma bola de cristal”, complementa Manuel Falcão.Decisão contra Gouveia e Melo “não deve afetar”Há pouco mais de uma semana, o Supremo Tribunal Administrativo (STA) declarou a ilicitude das sanções que Gouveia e Melo, enquanto chefe do Estado-Maior da Armada, aplicou aos militares do NRP Mondego que, em 2023, se recusaram a embarcar o navio por alegados problemas de segurança. Datado de 30 de abril, o acórdão do STA confirmou uma decisão do Tribunal Central Administrativo que declarou nulas as sanções aplicadas a 11 dos 13 militares acusados de insubordinação. Ainda assim, este caso, argumenta Manuel Falcão, “não deve influenciar ou afetar” quer a imagem, quer o “sentido de voto” dos eleitores. Afinal, o STA “só confirmou a decisão que já tinha sido tomada”, analisa o consultor.Partidos criticam e há até quem fale em “não notícia”Em plena campanha eleitoral, o tema da candidatura de Gouveia e Melo acabou por agitar as águas no final do dia de ontem. Nas hostes do PS, a escolha de Pedro Nuno Santos, secretário-geral, foi a de não comentar o avanço de Gouveia e Melo, quem o fez foi Augusto Santos Silva, ex-presidente da Assembleia da República, que esteve numa ação de campanha em Setúbal. Para Santos Silva, Gouveia e Melo é alguém que “muda de opinião muito facilmente” e “trata-se de uma pessoa que parece não perceber a diferença entre legislativas e presidenciais”.Com André Ventura ausente da campanha, o Chega reagiu pela voz de Pedro Pinto, líder parlamentar, que acusou o almirante de querer “desviar as atenções” da campanha eleitoral.Já Rui Rocha, líder da IL, referiu que é “um mau princípio que alguém que se candidata a uma outra eleição espere por quatro dias antes das eleições legislativas para se apresentar”. Do lado do PCP, o anúncio foi recebida sem espanto. Segundo o secretário-geral comunista, a confirmação da candidatura de Gouveia e Melo é “uma não-notícia”. “A notícia seria que Gouveia e Melo não é candidato”, disse Paulo Raimundo.Mesmo sem comentar a escolha do “concidadão” Gouveia e Melo, Rui Tavares, porta-voz do Livre, disse que o almirante tem “todo o direito de se candidatar e anunciar a sua candidatura”. Ainda assim, atirou: “Quem quer ser Presidente da República tem de se habituar a respeitar os tempos dos órgãos de soberania.”.Gouveia e Melo ao DN sobre anúncio da candidatura: "Só intervirei no espaço político após o ciclo eleitoral".Gouveia e Melo remete posição clara sobre candidatura à Presidência para depois das legislativas

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