Fim de semana liberal só tem garantia de Paz e Amizade na localização escolhida

Desta vez só há dois candidatos à liderança da Iniciativa Liberal (IL), mas avolumam-se os indícios de que a Convenção Nacional, marcada para este fim de semana, pode vir a decorrer no mesmo clima de alta tensão que em 2023 marcou a sucessão de João Cotrim de Figueiredo, apoiante do candidato vencedor Rui Rocha, que procura agora assegurar o segundo mandato.Após ter derrotado Carla Castro e José Cardoso em 2023, Rui Rocha encabeça a Lista L à Comissão Executiva, enfrentando Rui Malheiro, à frente da Lista U, alusiva ao Unidos pelo Liberalismo, o movimento que o atual conselheiro nacional passou a liderar após o afastamento de Tiago Mayan Gonçalves, que devia ter sido a escolha da oposição interna para a liderança da IL. Tudo mudou porque o ex-candidato à Presidência da República teve de se demitir da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, da qual era presidente, eleito pelo movimento de Rui Moreira à Câmara do Porto, por falsificar assinaturas em documentos oficiais. Certo é que as dificuldades de entendimento entre Rui Rocha e Rui Malheiro poderão tornar especialmente irónico o nome do local onde a Convenção Nacional da IL se vai realizar, o Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, pois o único debate entre os candidatos à liderança, organizado pela TSF, foi uma sucessão de trocas de acusações. O atual presidente da Comissão Executiva acusou o conselheiro nacional de “tentar enlamear o nome da IL”, bem como de ser cobarde por não identificar os “casos concretos de nepotismo” que diz existirem no partido. “Cobarde é teres tido 5% e não assumires a responsabilidade”, respondeu Malheiro, ouvindo do adversário que “não fazes outra coisa que não seja levar informação para fora”, colando-o às frequentes fugas de informações daquilo que é discutido no Conselho Nacional.Diversos liberais ouvidos pelo DN convergiram na preocupação com o desenrolar dos trabalhos, mas também disseram esperar que haja discussão construtiva sobre a estratégia que a IL deve seguir para reforçar o seu peso eleitoral ao longo de um mandato que tem garantidas as Eleições Regionais na Madeira, já a 23 de março; as Autárquicas, no final de setembro ou início de outubro; e as Presidenciais, em janeiro de 2026. Ainda que nos próximos dois anos também possa voltar a haver Legislativas, tendo em conta a falta de maioria absoluta do Governo de Luís Montenegro.Com as candidaturas Autárquicas da IL a cargo dos núcleos territoriais, e estando a participação em coligações eleitorais na ordem do dia, antecipa-se que se fale muito dessas eleições neste fim de semana. No entanto, a grande novidade estará guardada para domingo, pois Rui Rocha anunciou que, se for reeleito nessa manhã, anunciará o nome de quem pretende que o partido vá apoiar na corrida à Presidência da República. .Renovação das equipas.Mesmo que a Lista L seja a mais votada para a Comissão Executiva, a permanência de Rui Rocha não impedirá que haja renovação entre os dirigentes. A atual líder do grupo parlamentar, Mariana Leitão, é candidata a vice-presidente para a Política Nacional e Formação, enquanto Rui Ribeiro será o vice-presidente para o Conhecimento (liderando o iLab, gabinete de estudos do partido), com o deputado Mário Amorim Lopes a ser o vogal da Descentralização e a sua colega de bancada Joana Cordeiro vogal das Políticas Públicas.Total será a renovação caso a Lista U seja escolhida para a Comissão Executiva. Nesse caso, Rui Malheiro contaria com os vice-presidentes Carlos Martins (Política Local), Cristina Nunes (Formação e Talento), Daniel Moura (Relações Institucionais), Natacha Ariana Ribeiro (Assuntos Parlamentares) e Rui Valdemar Santos (Comunicação). .O que defendem os candidatos.Rui Rocha (Lista L)Autárquicas“Independência por princípio” leva a que a IL avance “onde tiver condições para disputar eleições com o seu programa”. Coligações só serão admitidas “em casos excecionais”.PresidenciaisA IL apoiará um candidato que “represente inequivocamente os valores liberais”, o que passa pela defesa dos direitos e liberdades individuais e por promover reformas estruturais.Legislativas antecipadasA Moção Estratégica Global “Acelerar Portugal” não faz referências diretas a esse cenário no ponto que é dedicado à estratégia eleitoral dos liberais.Estratégia políticaConstam da agenda política “verdadeiramente reformista e liberal” a reforma profunda do Estado, “concentrando-o nas suas funções essenciais e libertando a sociedade civil para que possa prosperar”, bem como a recuperaçãoda confiança dos portugueses e o fim da estagnação económica. ImigraçãoÉ preciso uma política “clara, previsível e justa, que seja capaz de atrair talento e mão de obra, ao mesmo tempo que garante “processos de integração dignos e sustentáveis”. Há que manter a permissão para que sejam emitidos vistos de procura de trabalho, “que dão ampla oportunidade para se encontrar uma solução”. SegurançaPortugal deve romper “como tabu dos dados sobre criminalidade”, pois só assim se poderá não apenas combater eficazmente o crime, como também “as narrativas demagógicas que o instrumentalizam”.Rui Malheiro (Lista U)AutárquicasNas eleições “tradicionalmente mais difíceis” para o partido, pretende-se candidaturasem nome próprio. E existe o objetivo de eleger, “pelo menos, 200 autarcas liberais”PresidenciaisA oportunidade de “difundiras ideias liberais” durantea campanha não pode ser desperdiçada, seja apoiando um membro do partidoou um independente.Legislativas antecipadasAtual quadro parlamentar e “incapacidade governativa” da AD levam a que possa haver novas eleições em 2026. Será preparado um programa eleitoral após as Autárquicas, com ambição de chegar aos 10%. Além de eleger em Leiria, Faro, Coimbra e Santarém,defende-se que só com, pelo menos, 20 deputados a IL“será capaz de influenciar definitivamente a governação”, através de uma coligação ou de um acordo parlamentar.Estratégia políticaAbraçar o desígnio de colocar Portugal no grupo das dez economias mais desenvolvidas da Europa, implicará medidas como “uma verdadeira regionalização”, a aposta no Interior, uma reforma profunda do sistema de Segurança Social ou uma “fiscalidade amiga do investimento”. EducaçãoO Sistema Educativo precisará de valorizar mérito e esforço, e ser “equitativo e inteligente”, para a Educação ser “motor de progresso e igualdade”.SaúdeServiço Nacional de Saúde deve ser reformulado, tornando-o “competitivo, atualizado e capaz de responder às solicitações e expectativas”, sem prejuízo de um “Sistema de Saúde integrado”, público, privado e social, que garanta elevados padrões de qualidade na prestação dos serviços de saúde..Dois anos atribulados depois da sucessão do líder que levou os liberais para o Parlamento.No fim da tarde de 22 de janeiro de 2023, bem para lá do horário que constava no programa da Convenção Nacional, Rui Rocha subiu ao palanque do Centro de Congressos de Lisboa como o quarto presidente da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal (IL). Apoiado pelo seu antecessor, João Cotrim de Figueiredo, que em 2019 fora o primeiro liberal eleito para a Assembleia da República, o deputado obteve 51,7% dos votos, derrotando a colega de bancada Carla Castro, que ficou pelos 44%, e o conselheiro nacional José Cardoso, com 4,3%. No discurso de vitória, Rocha garantiu que o partido estava unido, ultrapassada a troca de acusações na campanha interna, e previu que teria 15% nas Legislativas seguintes, acabando com o bipartidarismo “nocivo para o país”.Dois anos depois, a realidade que os membros da IL vão encontrar neste fim de semana, na Convenção Nacional realizada no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, é muito diferente. Além de Carla Castro e José Cardoso se terem desfiliado, tal como outros protagonistas da reunião de há dois anos, incluindo Paulo Carmona, Catarina Maia, Rafael Corte Real ou Nuno Simões de Melo, atual deputado do Chega, o resultado eleitoral nas Legislativas - que acabaram por ter lugar pouco mais de um ano depois, devido a Operação Influencer levar à demissão do António Costa - não atingiu sequer um terço da fasquia colocada pelo novo presidente, cifrando-se em 4,94%. Novamente quarta força partidária nacional na presente legislatura, a IL manteve o número de deputados, com apenas oito, enquanto o Chega continuou a terceira, mas multiplicou o grupo parlamentar de 12 para 50.Também não houve alteração na representação da IL na Assembleia Regional dos Açores e na Assembleia Regional da Madeira, embora no último caso tenha sido com a Comissão Executiva de Rui Rocha que o partido elegeu pela primeira vez um deputado, a 24 de setembro de 2023, reelegendo-o nas seguintes, a 26 de maio de 2024. Nos Açores, voltou a eleger um deputado pelo círculo de compensação no ano passado, tal como em 2020.O maior triunfo eleitoral da IL neste mandato ocorreu nas Eleições Europeias. Recém-criado, o partido não conseguira eleger em 2019, mas aproximou-se dos dez por cento em 2024, com a bem-sucedida candidatura do anterior presidente da Comissão Executiva, João Cotrim de Figueiredo. Com 9,07% dos votos, não só se elegeu como também levou para Estrasburgo a segunda da lista: Ana Vasconcelos..Seis listas disputam Conselho Nacional.Além da Comissão Executiva, a Convenção Nacional terá como um dos seus pontos de interesse a eleição do Conselho Nacional, à qual se apresentam seis listas, com a particularidade de uma ser encabeçada pelo até agora vice-presidente do partido, Bernardo Blanco, que admite “um dia” candidatar-se a líder da Comissão Executiva.Embora Rui Rocha e Rui Malheiro não tenham apresentado listas ao Conselho Nacional, tendo-se abstido de apoiar qualquer das existentes, a Lista F (de Bernardo Blanco) e a Lista X (do atual vice-presidente do órgão, Pedro Ferreira) são conotadas com a atual liderança, mas também vão a votos a Lista A (de Francisco Cudell), a Lista D (de Paulo Ricardo Lopes), a Lista M (de Jorge Pires, inspirada em Javier Milei, presidente da Argentina) e a Lista T (de André Serpa Soares, que há dois anos foi a segunda mais votada).

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