Fernando Negrão alerta para consequências de apoio do PSD a Dores Meira
A intenção de apoiar o movimento independente de Maria das Dores Meira, que quer voltar a ser presidente da Câmara de Setúbal nas próximas eleições autárquicas, está a dividir o PSD, cuja concelhia já comunicou publicamente ter esperança num “retrocesso deste processo”, permitindo que haja uma candidatura autónoma. Apesar de a direção nacional considerar que só a ex-comunista pode evitar que o PS reconquiste a autarquia, depois de seis vitórias consecutivas da CDU, entre os sociais-democratas locais existe a certeza de que uma “desistência” terá consequências eleitorais de longo prazo para o partido.
“Não se desiste de um concelho como Setúbal, que para mais é a capital de distrito”, diz ao DN Fernando Negrão, atual vereador social-democrata e duas vezes candidato à presidência da Câmara. Para o também ex-ministro e deputado, que garante não perceber a “estratégia muito errada” da direção de Luís Montenegro, a inexistência de uma candidatura do PSD nas próximas autárquicas, que se realizam entre o final de setembro e o início de outubro, pode ter um efeito muito adverso. “Acredito que desmobilize o PSD também nas legislativas”, diz, admitindo que o apoio a Dores Meira possa vir a contribuir para o avanço do Chega, que em 2024 ficou à frente da Aliança Democrática no concelho e teve mais 15 mil votos que a coligação no distrito, elegendo ambos quatro deputados.
Assumindo que “não percebe” o motivo de não ter sido consultado pelos órgãos nacionais do seu partido, Fernando Negrão, que participou nesta quarta-feira na reunião do executivo camarário, liderado por André Martins, cabeça de lista da CDU em 2021 - após a saída de Dores Meira, por limitação de mandatos -, pensa que uma saída de cena dos sociais-democratas levará a que as autárquicas sejam discutidas entre o PS e o movimento da ex-presidente, que “tem eleitores que lhe são muito afeiçoados”. Enquanto eleitor, admite ter dúvidas quanto ao seu voto caso se confirme esse cenário: “Ainda não pensei nisso, e nem quero pensar.”
Também vereador, o líder da concelhia de Setúbal do PSD, Paulo Calado, prefere manter-se em silêncio, mas não esconde o profundo desacordo com um processo que também divide a distrital social-democrata. Nas redes sociais da estrutura setubalense social-democrata pode ler-se um texto, assinado por Paulo Calado, que descreve a decisão “por unanimidade” de apresentar uma candidatura própria, “não apoiando nem integrando qualquer lista independente”. Na mesma reunião, que decorreu a 11 de março, foi deliberado que o PSD de Setúbal não apoia nem integra a candidatura de Dores Meira, “uma vez que não nos revemos no seu projeto autárquico e, para além disso, há questões de idoneidade que não podem ser ignoradas”, numa referência a investigações judiciais em curso, que estão relacionadas com os seus mandatos à frente da Câmara de Setúbal.
Pelo lado de Dores Meira não há comentários às divergências entre os sociais-democratas, mas fonte oficial do movimento garantiu nesta quarta-feira ao DN que “estamos sempre abertos a receber o apoio de todas as forças políticas, desde que sejam do espaço democrático”, até porque entre os apoiantes da candidatura há “pessoas provenientes de vários campos políticos”.
Também é dito pelo movimento que tenta levar Maria das Dores Meira de volta ao cargo que exerceu entre 15 anos - além dos três mandatos consecutivos para os quais foi eleita, encabeçando listas da CDU, substituiu na presidência Carlos Sousa, que é agora mandatário do candidato socialista Fernando José, em 2006 - que a candidatura “vai manter o seu carácter independente” e que “só admite pessoas individualmente consideradas”.
Nesse sentido, fontes ligadas ao movimento dizem que, apesar das reservas que agora coloca à estratégia seguida pela direção nacional, o líder concelhio setubalense do PSD terá chegado a propor um entendimento com Dores Meira, que alegadamente teria como pressuposto a sua inclusão como número 2 da lista. Contactado pelo DN, Paulo Calado desvalorizou essas palavras e recusou comentá-las.
Também ainda sem comentários quanto à possibilidade de um entendimento do PSD com Dores Meira está Fernando José, que volta a liderar o PS, depois de nas autárquicas de 2021ter ficado a precisamente três mil votos da CDU. Que, por seu lado, ainda não confirmou oficialmente a recandidatura de André Martins.