Fernando José: “O PS é a única alternativa, pois André Martins e Dores Meira são farinha do mesmo saco”
Neste momento existe um Governo da Aliança Democrática, mas se houver legislativas antecipadas o PS poderá voltar ao poder. Qual seria o impacto para a sua candidatura?
Seria positivo o PS voltar a ser Governo em Portugal e teria um impacto também aqui. Recordo que muitas obras prestes a serem inauguradas em Setúbal, como a ampliação do Hospital de São Bernardo, foram lançadas pelo Governo de António Costa. Se tivermos eleições antecipadas pelo meio, teremos de fazer essa campanha aqui no concelho e em todo o distrito para alavancar a vitória que se espera do PS nas próximas legislativas e que poderá ser também uma rampa de lançamento da mensagem autárquica, levando o partido a uma vitória aqui em Setúbal.
Mais do que o incumbente e presumível recandidato, André Martins, está a enfrentar a antecessora, Dores Meira?
As eleições vão ser disputadas entre o PS, que é a única alternativa credível à gestão da CDU, que é de André Martins e de Dores Meira, pois são farinha do mesmo saco. Ela é responsável por anos em que nada aconteceu, em que nos apresentaram mega-investimentos que não foram concretizados, em que o problema da habitação se agudizou, em que o movimento associativo continuou sem respostas, e em que as escolas necessitaram de equipamentos desportivos e de requalificação. É um problema que se arrasta há 15 anos, pelo menos. Uma cidade como Setúbal não pode continuar a pensar pequeno. Tem de pensar em grande, com ambição e determinação, para concretizar enormes potencialidades que depois não passam do papel.
Põe a hipótese de haver outro candidato da CDU, em vez de André Martins?
É uma questão que tem de ser resolvida pelo PCP. Acreditamos que seja André Martins, pois há bem muito tempo teve um encontro com alguns setubalenses em que quase se apresentou como o candidato da CDU. Não sendo André Martins candidato, será o reconhecimento pelo PCP do fracasso deste mandato. Isso é assumido pelos setubalenses: foi completamente perdido. Mas já vem de trás. O que o último mandato de Dores Meira nos deixou foi um contrato de concessão de estacionamento tarifado por 40 anos, foi estarmos todos a pagar o Imapark e com a praça de touros ao abandono. Com 55 milhões de euros de dívidas, teremos de criar um plano de pagamentos, pois a Câmara tem de ser uma pessoa de bem. Não se pode estar a financiar à custa de pequenos e médios empresários. Todos os dias batem à porta da Câmara, a exigir o que lhes é devido, sem se resolver esta situação que nos envergonha a todos.
Qual é a visão que tem para mudar Setúbal se for eleito presidente?
Temos o rio, a serra, as nossas gentes, uma enorme capacidade, mas não as concretizamos. É chegado o momento de não avançar com aqueles projetos que nos foram apresentados no passado, como o Macau Legend ou a Cidade do Conhecimento, grandes projetos de investimento que não passaram de sonhos vendidos aos setubalenses. Desde logo, devemos aproximar o Instituto Politécnico de Setúbal da cidade. Temos um edifício aqui em Setúbal, que foi adquirido pela Câmara Municipal, e está ao abandono, que teve em tempos um projeto - mais um projeto que foi anunciado e que não foi concretizado, a Fábrica das Artes -, e queremos trazer o Politécnico para esse edifício. Queremos criar uma incubadora de empresas, e criar emprego qualificado. Os nossos jovens têm de ter a possibilidade de se fixarem em Setúbal. Porque o emprego qualificado não é o emprego das superfícies comerciais ou do McDonald's, como foi dito há pouco tempo pelo presidente da Câmara, quando inaugurou o quarto McDonald's da cidade. Consideramos que Setúbal tem de viver do turismo, pois tem todo esse potencial, mas também tem de conviver com a parte industrial. O investimento tem de vir para Setúbal e temos de criar na Câmara Municipal um gabinete que esteja preparado para atrair esse investimento para o concelho. E devemos criar infraestruturas que a cidade não tem. Desde logo, um pavilhão multiusos. A capital de distrito não pode continuar sem ter um grande equipamento que nos permita trazer grandes eventos, mas dê possibilidade ao movimento associativo, seja desportivo, seja cultural, para utilizar essa infraestrutura. Temos duas escolas em Setúbal, a Básica 2-3 de Azeitão e a Secundária D. Manuel Martins, que não têm pavilhões polidesportivos. Não podemos continuar eternamente naquele queixume do protesto pelo protesto, dizendo que a responsabilidade por fazer os pavilhões não é da Câmara, mas sim da Administração Central. Outra questão também importante, que afeta muito os setubalenses, é a habitação. A última habitação pública construída em Setúbal data do tempo do Partido Socialista. Estamos a falar de há mais de 25 anos. Outro problema tem a ver com a falta de limpeza no espaço público. Propusemos há dois anos a criação de uma app, que já existe em muitos outros concelhos, para os munícipes se aproximarem da Câmara Municipal. Ao fim de dois anos, a Câmara Municipal lá lançou essa app. Outro problema para que temos de encontrar solução tem a ver com o contrato de concessão do estacionamento tarifado. Aquilo que não aceitamos é que em final de mandato o anterior presidente tenha assinado um contrato por 40 anos, e com um aumento de 500% do estacionamento tarifado. Temos de criar um entendimento com a empresa concessionária, que não tem de ser uma adversária da Câmara. A empresa entregou à Câmara de Setúbal, em maio de 2021, quatro milhões de euros pelo contrato de concessão. Não conseguimos identificar na cidade nenhum investimento que tenha sido feito com esses quatro milhões de euros. Sabemos que foi uma receita extraordinária utilizada para pagar vencimentos e para pagar o subsídio de férias aos trabalhadores da Câmara, em junho de 2021. Ou seja, foi uma receita extraordinária para combater a gestão corrente da Câmara Municipal. Uma Câmara que está endividada em cerca de 55 milhões de euros.O problema também resolve-se. Relativamente ao estacionamento tarifado, há que renegociar este contrato, reduzindo o número de lugares. Basta fazer aquilo que outros concelhos têm feito bem. Será uma prioridade para o PS e, vencendo as eleições, como acreditamos, será uma situação para ser resolvida ainda em 2025.
Se for eleito presidente da Câmara de Setúbal, sem maioria no executivo e na Assembleia Municipal, quem serão os potenciais aliados do PS?
Teremos de ver o cenário que resultar das eleições, não só na Câmara como na Assembleia Municipal e em todas as freguesias. E encontrar os necessários consensos para, em coligação pós-eleitoral ou entendimentos pontuais, ter todas as condições para gerir uma Câmara que está atrasada na concretização das suas potencialidades. Até porque muito em breve vamos ter a passagem da Península de Setúbal a NUTS II, algo por que o PS se bateu muito para que fosse possível, e não podemos desperdiçar a oportunidade de ter fundos comunitários à disposição para muitos dos projetos que em breve iremos anunciar aos setubalenses. Depois de conhecermos o número de mandatos que resultar destas eleições autárquicas é que poderemos fazer esse entendimento.
Terá linhas vermelhas só ao Chega ou a mais alguma força?
Não temos a certeza de que o Chega vá eleger um vereador. Já tem eleitos na Assembleia Municipal, e em algumas juntas de freguesia, e não há qualquer entendimento possível com o PS. Relativamente ao movimento independente, ficando em segundo ou terceiro, não acreditamos que a candidata se mantenha até ao fim, pois abandonou a Câmara de Almada após ser eleita vereadora. Tem um histórico. Mas mesmo com o PCP não colocamos linhas vermelhas. Temos é de ter uma visão completamente diferente. Setúbal é uma grande cidade, e uma grande cidade não pode continuar a pensar pequeno.