O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, ainda não é o candidato oficial da CDU às próximas eleições autárquicas, mas já enfrenta oposição de dois antecessores, ambos eleitos pela coligação que governa a capital de distrito há 24 anos. Dores Meira criou um movimento independente, à frente do qual pretende voltar a liderar o concelho, como fez entre 2006 e 2021, e nas ruas da cidade há cartazes em que Carlos Sousa, antecessor da antecessora do incumbente, surge ao lado do candidato do PS, Fernando José, de quem é mandatário.Após ter ficado a três mil votos da vitória há quatro anos, na sua primeira candidatura à Câmara de Setúbal, o deputado socialista explica a escolha do atual vereador independente na Câmara de Palmela - da qual foi presidente, pela CDU, antes de transitar para a capital de distrito -, com quem tem “relação próxima há muitos e muitos anos”. “Só alargando a candidatura ao maior número de independentes, e tornando-a uma candidatura que vai muito além do PS, é possível vencer as eleições, como acreditamos que irá acontecer, no final de setembro ou em outubro”, diz Fernando José ao DN..Fernando José: “O PS é a única alternativa, pois André Martins e Dores Meira são farinha do mesmo saco”.Mais do que “uma pessoa muito conhecida na cidade”, Fernando José vê o antigo presidente da Câmara de Setúbal - foi eleito em 2001, e foi reeleito em 2005, mas renunciou no ano seguinte, acatando as indicações do PCP, do qual se veio a desfiliar, cedendo o lugar a Dores Meira, então vice-presidente -, como alguém que “não é um mandatário jarra”. Até por estar presente em todas as reuniões, nomeadamente com as associações do concelho.Ao aceitar o convite para ser mandatário do candidato do PS, desde há muito o partido mais votado pelos setubalenses nas eleições de âmbito nacional, Carlos Sousa justificou essa decisão com a crença de que Fernando José “será um excelente presidente, que terá sempre a preocupação de escutar os seus munícipes e irá trabalhar numa verdadeira parceria com todos os agentes económicos, sociais, culturais e desportivos”. E por sentir-se em dívida com os cidadãos do concelho, pois o trabalho que tinha planeado fazer enquanto autarca “foi repentinamente cortado” a meio do segundo mandato, naquilo que já disse ter sido “um golpe traiçoeiro” do PCP. Ter o incumbente, a sua antecessora e o antecessor dela envolvidos na corrida autárquica é algo que o candidato socialista admite ir marcar a campanha. “Tenho a certeza de que ninguém estava à espera. Mesmo dentro do PS foi uma surpresa quando anunciei que o Carlos Sousa iria ser o meu mandatário, e posso dizer que foi bem aceite”, garante Fernando José, sem esquecer outros independentes integrados na candidatura, como o vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, Paulo Santos, que foi líder concelhio do CDS, o ex-candidato centrista à Câmara de Setúbal, Pedro Conceição, e o ex-bloquista Carlos Branco, entre “uma série de pessoas da cidade que estiveram ligadas a outros partidos ou nunca se ligaram à política”.Para Dores Meira, no entanto, tudo não passa de uma “cortina de fumo”, pois não basta ter um mandatário “que se diz independente”. “A nossa candidatura é a única independente e que agrega toda a sociedade em Setúbal”, defende a ex-comunista, três vezes eleita presidente da Câmara após terminar o mandato de Carlos Sousa, reivindicando “candidatos e apoiantes de todo o espetro político e com a única ideia de trazer Setúbal de volta”. Nomeadamente o “histórico militante socialista” David Martins, cabeça de lista do seu movimento à Assembleia Municipal, no que diz ser uma “prova de abrangência, até porque ele é efetivamente candidato”.Sobre Carlos Sousa, Dores Meira diz que não lhe “parece relevante comentar a escolha de alguém que não irá a votos e que estava totalmente afastado de Setúbal”. E defende que os eleitores terão de fazer uma escolha “entre a estagnação, a inexperiência de governar, ou trazer de volta a dinâmica do progresso que fez a cidade andar para a frente”, referindo-se ao seu movimento como o único projeto político “livre e independente” para o concelho.Por seu lado, André Martins não se pronuncia sobre o envolvimento na corrida autárquica do homem de quem foi vereador. “O nosso foco é fazer tudo ao nosso alcance para a vançar com os projetos e as obras que têm financiamento garantido. É a maior tarefa que as populações nos exigem e que nós queremos cumprir, como sempre temos feito. Quando, e se, for candidato, terei tempo e oportunidade de me pronunciar sobre outras questões”, disse o presidente da Câmara de Setúbal, em resposta às perguntas do DN.Para a ex-deputada social-democrata Lina Lopes, candidata independente pelo Chega, é “difícil de perceber” que o PS tenha como mandatário alguém que, enquanto presidente, foi o responsável por retirar a Feira de Setúbal do centro da cidade. Mas a sua prioridade passa por vencer as eleições, tirando partido do que diz ser o facto de “as pessoas estarem sedentas de mudança” numa cidade “que tem mais potencial do que Cascais e Oeiras”.Ainda sem candidato definido, o que deverá acontecer até ao início de abril, o líder da concelhia do PSD, Paulo Calado descreve a CDU, o PS e o movimento da Dores Meira como “três candidaturas ligadas ao passado”, defendendo ao mesmo tempo que, “estando a esquerda dividida, isso dá também uma vantagem ao centro-direita”. Que até hoje nunca liderou a Câmara de Setúbal, ou qualquer outra autarquia no distrito.