Dez anos de 'geringonça'. Pedro Nuno Santos enaltece "inédita solução" mas admite "erros" e "insuficiências"
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Dez anos de 'geringonça'. Pedro Nuno Santos enaltece "inédita solução" mas admite "erros" e "insuficiências"

Elogia os "avanços sociais" implementados durante a 'geringonça', constituída em 2015, mas admite que "não correu tudo bem". Refere, por exemplo, erros nas políticas migratórias e de habitação.
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O antigo secretário-geral do PS. Pedro Nuno Santos, assinalou esta quarta-feira, 26 de novembro, os dez anos da solução governativa que reuniu os partidos de esquerda com representação parlamentar e que ficou conhecida como 'geringonça'. Teceu vários elogios, mas também admitiu "erros" e "insuficiências", nomeadamente nas políticas migratórias e de habitação.

Para Pedro Nuno Santos, esta "inédita solução governativa", constituída em 2015, "foi de uma riqueza imensa e merece ser celebrada". "Mas tão ou mais importante é sermos capazes de retirar desse período e dessa experiência governativa os ensinamentos que nos permitirão recuperar a confiança dos portugueses", escreveu o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação num artigo de opinião publicado no jornal Público.

"Eram muito poucos os que acreditavam na sua viabilidade, mesmo dentro do PS", lembrou Pedro Nuno Santos, recordando "que não só foi possível" chegar a acordo, como também foi possível garantir que "a legislatura chegasse ao fim, com estabilidade e com grande apoio popular".

No artigo de opinião elogia o "grande contributo" do então Presidente da República, Cavaco Silva, por exigir, na altura, um acordo escrito, que "comprometeu todos os partidos" nesta solução governativa. Já referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa, a opinião é contrária. "O atual Presidente da República, pelo contrário, ao não fazer a mesma exigência depois das eleições de 2019, acabou por contribuir para a instabilidade política", considerou.

De um Governo que teve o apoio parlamentar do PS, PCP, BE e PEV, Pedro Nuno Santos destacou as políticas e os seus resultados. "A maior e a mais importante", disse, foi a prova de que "o equilíbrio nas contas públicas não se atinge com austeridade".

Enalteceu os "avanços sociais" implementados pela 'geringonça, como a "decisão de acelerar a reposição dos cortes nos rendimentos e de vários direitos que tinham sido suspensos durante a troika", mas também o aumento do salário mínimo nacional. "O salário mínimo bateu recordes de crescimento, mas o nível de emprego também", destacou.

"Para além de termos descongelado o mecanismo legal de atualização anual das pensões, fizemos sucessivos aumentos extraordinários. Congelámos e reduzimos as propinas; acabámos com a maioria das taxas moderadoras no SNS e garantimos a gratuitidade das creches e dos manuais escolares", enumerou.

Mas "não correu tudo bem", segundo Pedro Nuno Santos, que falou em "erros" e "várias insuficiências" que deviam "servir de reflexão para toda a esquerda". "Podíamos e devíamos ter feito mais no que ao investimento público diz respeito", reconheceu, falando nas consequências para os serviços públicos e nos salários da administração pública. "Na habitação, devíamos ter começado a construir mais cedo e muito mais casas, mas, mesmo assim, nunca teria sido suficiente", defendeu.

"Nas políticas migratórias também não estivemos bem", escreveu para reconhecer que "a economia precisava e conseguiu integrar no mercado de trabalho a esmagadora maioria dos estrangeiros que entraram em Portugal". Ainda assim, considerou, "o país não estava preparado, nem se preparou, para receber mais de um milhão de pessoas em cerca de meia dúzia de anos".

Pedro Nuno Santos termina o artigo de opinião referindo que, embora os "avanços sociais e económicos extraordinários", ao fim de 50 anos de democracia, "a maioria da população" "luta diariamente para que o seu salário chegue ao fim do mês, enquanto apenas uma minoria consegue acumular e viver de forma desafogada.

Nesse sentido, escreve: "É preciso recuperar a confiança para vencermos eleições, mas vencermos eleições para transformarmos estruturalmente a forma como a maioria dos portugueses vive e como se distribui o fruto do seu trabalho".

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