CDU-Chega. Pedro Nuno Santos une Paulo Raimundo e André Ventura, que têm "um mundo de diferença" entre si
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CDU-Chega. Pedro Nuno Santos une Paulo Raimundo e André Ventura, que têm "um mundo de diferença" entre si

PCP e Chega deixaram claro tudo o que os separam e trocaram acusações entre si: Raimundo disse que Ventura "está sempre na nheca nheca", e presidente do Chega colou os comunistas ao lado de Putin.
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Começou com atualidade e com a averiguação preventiva a Pedro Nuno Santos, líder do PS. E foi um dos poucos pontos em que Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, e André Ventura, líder do Chega, acabaram por convergir ao longo do debate.

Defendendo que a justiça não deve ser parcial, "fora da política" e "capaz de investigar doa a quem doer", André Ventura argumentou que, agora, Pedro Nuno Santos "não pode dar menos explicações do que exigiu a Luís Montenegro". A atitude deve, por isso, ser "a de dar esclarecimentos sérios" e não fazer como o primeiro-ministro no caso Spinumviva.

Paulo Raimundo foi na mesma direção, mas Ventura acusou-o de ser mais "brando" com Pedro Nuno Santos do que com Luís Montenegro. Na sua primeira intervenção no debate, o líder comunista não negou "a importância" deste novo caso e desejou que "o debate político não se centre nestas questões", por haver "muitos problemas das pessoas" para resolver.

Mas a convergência entre PCP e Chega ficou por aí.

Passando depois à questão económica e às tarifas de Donald Trump, presidente norte-americano, André Ventura voltou a dizer (como já fizera noutros debates) que os Estados Unidos "estão a defender o seu mercado e produtos" e frisou que a Europa devia ter uma postura igual. Até para não se estar "sujeito" à China, "um regime amigo de Paulo Raimundo" e que invade a União Europeia "com vestuário, têxteis, calçado e mão de obra escrava".

Na resposta, Paulo Raimundo acusou Ventura de "andar às voltas" sobre este tema, para disfarçar que não "está de acordo com Trump". Pegando depois nas palavras do presidente do Chega, que falou da Europa como um todo, o secretário-geral comunista acusou o seu adversário de se ter esquecido de que Portugal não é uma província, sendo um Estado soberano, sem as "exigências" económicas de França ou Alemanha, e que o país deve por isso produzir "mais alimentos ou medicamentos". À acusação de que o PCP quer sair do euro, Paulo Raimundo referiu que a questão não "estava colocada" e queixou-se que Ventura disse o mesmo que há um ano, aquando das eleições legislativas de 2024.

Ainda sem ser conhecido o seu programa eleitoral (algo que deverá acontecer esta quinta-feira), o líder do Chega garantiu que vai "responder aos problemas da economia", que acusou de estar como está porque "os amigos de Paulo Raimundo", invadiram a Ucrânia. A colagem do PCP à Rússia de Vladimir Putin levou o secretário-geral comunista a questionar: "Tem coragem de dizer uma coisa dessas?"

Outro tópico que uniu - ainda que tenha gerado discussão - tanto Paulo Raimundo como André Ventura foram os "bairros" periféricos onde moram e cresceram, respetivamente. Com a discussão a ser sobre as condições de vida e as dificuldades do povo, Raimundo pegou numa expressão tradicionalmente associada ao líder do Chega e disse que no seu bairro há "muita bandidagem", tal como no de Ventura, onde "talvez o delito seja diferente". No seu caso, as pessoas vivem com "muitas dificuldades" e não se pode pensar que "o povo aguenta" em vez de se tomarem medidas.

Depois de várias interrupções por parte de Ventura, Paulo Raimundo afirmou que o líder do Chega "está sempre na nheca nheca". E "isso não serve para nada".

A 'farpa' não ficou sem resposta e, na intervenção seguinte, Ventura disse pensar que estava "num debate do início o século XX". "O Chega ainda não governou, nem esteve em nenhuma solução governativa", disse, e lembrou que "cada um" dos partidos "tem o seu legado". Ou seja: "Quando, em 2021, o PCP deixou de apoiar o Governo, 1,1 milhões de pessoas estavam sem médico de família. A carga fiscal era um recorde, de 35,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Pagámos 70 mil milhões em impostos por causa das vossas brincadeiras da geringonça." Isto levou Raimundo a concluir que "2015 [ano em que PS, PCP e BE fizeram um acordo de governação à esquerda] está mesmo atravessado" para o líder do Chega.

Voltando aos bairros, Ventura lembra que também veio "de um", onde "pequenos empresários" precisam de ajudas como a descida do IRC. Raimundo não tem, por isso, "autoridade moral". E aqui voltaram a concordar em discordar: "Há um mundo de diferença entre nós."

Depois de debater as pensões e de marcar essa "diferença" em relação ao Chega, Paulo Raimundo voltou a criticar André Ventura, acusando-o de não ouvir e querer simplesmente "descarregar a cartilha", antes de terminar a insistir na necessidade de melhorar condições de vida da população para pôr o país a funcionar. Caso contrário, ficar-se-á à mercê de partidos que "querem corresponder aos interesse de uma pequena minoria" que acusou Ventura de defender. Que "minoria" é essa? "Os 0,3% das empresas que concentram 40% de todos os lucros."

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