José Luís Carneiro e Luís Montenegro estiveram reunidos mais de duas horas em São Bento. A reunião, solicitada há várias semanas pelo secretário-geral do Partido Socialista teve, como o DN adiantara, várias matérias centrais: Imigração, Habitação, Defesa e Legislação Laboral. A Palestina entrou na agenda após a porta aberta deixada por Paulo Ranger, ministro do Executivo, de poder reconhecer a independência do Estado. .Palestina entrou na conversa de Carneiro com Montenegro.No fim do encontro, em conferência de imprensa à porta do palacete de São Bento, Carneiro não esclareceu se há algum tipo de acordo com Montenegro. Mas deixou garantias e ficou claro que não aceita que o chefe de Governo procure aproximações ao PS se continuar a negociar com o Chega. "Foi transmitido ao sr. primeiro-ministro que se quer o diálogo com o PS, é com o PS que deve dialogar. Repito: se quer diálogo com o PS, é com o PS que deve dialogar. Por outro lado, o PS não é um partido qualquer. É um partido que desde a clandestinidade lutou pelas liberdades, pelos direitos e pelas garantias fundamentais e é esse respeito institucional por aqueles que são os valores fundadores deste país que exigem que o diálogo deva ser construtivo e deva ser um diálogo que coloca as coisas no seu devido lugar. Se o diálogo é com o PS, o diálogo deve ser estabelecido com o PS em tudo quanto tem a ver com as matérias daquilo que eu chamei em tempos do consenso democrático. Da Política Externa, da Defesa, da Segurança Interna, da Justiça, da reforma do Estado são matérias, naturalmente, para a construção de consensos nacionais", considerou. Ainda assim, Carneiro estabelece diferenças para o governo. "Existem matérias de divergência e de oposição firme. Matérias que têm a ver com a forma como se abordam as questões da saúde, as questões da habitação, as questões da legislação laboral, como se responde às preocupações que dizem respeito à vida das pessoas. A forma, por exemplo, como se responde aos custos de vida e às dificuldades porque as pessoas estão a viver hoje com o aumento dos custos de vida. E, portanto, há matérias para o consenso e há matérias para o dissenso [desacordo]. Portanto, o princípio é que este diálogo se manterá no futuro", afirmou aos jornalistas.A imigração é espinha encravada para o PS, que não aceita a linha seguida pelo Governo, em resposta aos projetos do Chega: "A Lei da Nacionalidade foi adiada para setembro. Esta é uma matéria de primeira importância para a forma como Portugal concebe a sua própria Política Externa, a sua relação com o mundo, como se conserva enquanto um país aberto, tolerante, compreensivo e integrador. Naturalmente que é necessário aperfeiçoar a legislação. Estamos de acordo com essa possibilidade de aperfeiçoamento, mas temos também de ter consciência de que temos relações privilegiadas com os países africanos de língua oficial portuguesa, com os países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e é muito importante que as alterações que venham a ser realizadas respeitem esta forma como Portugal está na sua política externa."Carneiro abordou ainda as "tarifas adotadas por parte dos Estados Unidos da América", que "vão ter implicações na economia, particularmente em setores como o têxtil, o vestuário, o calçado, a saúde, os vinhos", pedindo a Montenegro "apoios para a internacionalização e diversificação de mercados dessas mesmas empresas". E criticou também a proposta de legislação laboral. "Agora, naturalmente, a legislação laboral seguirá para a concertação social. Temos de aguardar por aquilo que vai acontecer em sede de concertação social, mas pudemos dar conta da nossa preocupação, nomeadamente com a precariedade e, particularmente, a precariedade nos mais jovens e no prolongamento dos contratos de seis meses para um ano e dois para três anos no que respeita aos contratos com os mais jovens." Terminou a intervenção a falar da Palestina: "Reiterei a nossa posição em relação à Palestina. Não pode este assunto ser tratado com insensibilidade e é muito importante que Portugal acompanhe os esforços que estão a ser feitos por outros países no sentido de podermos reconhecer a Palestina e, ao mesmo tempo, garantir no quadro multilateral o apoio às populações que têm vindo a viver momentos dramaticamente difíceis."Em jeito de síntese da reunião, o secretário-geral socialista elogiou a conversa "construtiva": "Foi, portanto, uma conversa muito construtiva e voltámos a reiterar a vontade de manter este diálogo, muito particularmente para setembro em que teremos que abordar também algumas destas matérias e outras matérias que, entretanto, virão a estar no centro das nossas preocupações políticas."Sabe o DN que o Orçamento de Estado para 2026 ainda não foi tema dominante, apesar de se terem aflorado alguns investimentos nas várias áreas..Tarifas. Montenegro diz que acordo UE-EUA permite previsibilidade e "evita a escalada".Saúde e Defesa marcam reunião entre José Luís Carneiro e Montenegro