Oeiras foi o concelho onde a Iniciativa Liberal (IL) obteve o melhor resultado nas legislativas de 18 de maio. Isso é uma oportunidade ou, acima de tudo, uma responsabilidade?É uma oportunidade enorme de mudar um concelho que é um dos que têm melhor qualidade de vida e mais instrução. Isso obriga-nos a uma visão de futuro, que achamos que se perdeu no reinado de Isaltino Morais, que já vai longo. E é uma responsabilidade, porque nos obriga a ter medidas concretas e estruturadas, e que essa visão efetivamente melhore a vida dos oeirenses.Não é um paradoxo que Oeiras seja, nos diversos indicadores, o mais próximo daquilo que, do ponto de vista da IL, deveria ser um concelho português?Não, pois achamos que há muito para melhorar. Não negamos o legado de Isaltino Morais. Há 40 anos, trouxe um novo drive para Oeiras, e isso refletiu-se na dinâmica do concelho, mas as grandes obras pararam há 20 anos. O Taguspark, o Lagoas Park, a visão disruptiva de Isaltino Morais perdeu-se há muito tempo. Se olharmos para os Censos, tirando nascimentos e óbitos, Oeiras perde população. Como é que um concelho com estas condições pode perder população? Nos rankings das escolas, as de Oeiras têm descido. Como é que isso pode acontecer? Não pode, na nossa visão. É necessário voltar a acelerar Oeiras. Queremos trazer um novo ímpeto e uma nova visão. Sinceramente, Isaltino Morais até precisa disso. O PS e o PSD abdicaram de fazer oposição. Nos últimos anos, a que existe vem do radicalismo do Bloco de Esquerda, travestido de movimento independente [Evoluir Oeiras], mas não deixa de ser uma coligação do Bloco de Esquerda e do Livre [e também do Volt Portugal].Antes e depois de sair do PSD, antes e depois de cumprir pena de prisão por branqueamento de capitais e fraude fiscal, Isaltino foi sempre eleito pelos oeirenses. A que é que isso se deve? Se olharmos para o concelho, os passeios estão limpos e os jardins estão arranjados. Essa manutenção existe, e não a negamos. Falta é fazer crescer Oeiras para o total da sua capacidade - nisso, Isaltino tem estado aquém. Trouxe desenvolvimento a Oeiras, Algés e Carnaxide, mas essa construção foi acompanhada de uma falta de visão que hoje transparece. A mobilidade e o estacionamento são problemas graves, que têm de ser resolvidos com medidas concretas, em vez de eternos SATU [ferrovia não tripulada]. Em todas as candidaturas vem uma nova forma de SATU, um novo LIOS [metro ligeiro de superfície], com o impacto ambiental que tem, e sem a avaliação que deve ser realizada e também ajustada à realidade das novas soluções de mobilidade.Um município muito associado a grandes empresas, e à inovação, tem ainda um peso de Estado superior ao que deveria?Tem. Oeiras pode melhorar muito na componente fiscal, não só para as empresas, mas também para as pessoas. Essa foi uma das nossas bandeiras de há quatro anos. A IL pôs o tema na agenda política local, pois poucas pessoas sabiam que há uma componente do IRS que depende da decisão da autarquia, mas para as empresas também existe um conjunto de vantagens e de benefícios que Oeiras pode trazer. Parques empresariais construídos há 20 anos, como o Taguspark e o Lagoas, podem ainda crescer. Há muitas formas de trazer valor. Um exemplo claro daquilo que Isaltino Morais tentou, mas não conseguiu concretizar, é o Oeiras Valley, a imagem supostamente de futuro que poderia haver para o concelho. Supostamente tem uma agência de promoção em que pouco ou nada sabemos do que é feito, se é que faz alguma coisa, e não vemos nenhum resultado concreto da atração de investimento estrangeiro e startups. Tal como no Jamor temos espaço para um cluster de inovação, ligando startups, empresas e a academia. Isaltino Morais perde-se na visão de futuro e foca-se mais no TikTok. Queremos que ele se foque mais no futuro e menos no TikTok.Serão as segundas eleições autárquicas para a IL, que em 2021 não só não venceu nenhuma câmara, como não elegeu nenhum vereador em listas próprias. Isso não torna um pouco quixotesca a ideia de enfrentar alguém que tem vencido eleições tantas vezes quanto Isaltino Morais? Percebo a pergunta, mas não é um problema. A IL tem um caminho definido e traz uma nova forma de estar na política. Pusemos na agenda questões como a saúde, a reforma do Estado e a simplificação do IRS, quando ninguém falava sobre isso. A nível local também temos um conjunto de medidas que queremos trazer para a agenda. O nosso foco é resolver os problemas das pessoas. Sempre que acharmos que existe espaço e oportunidade para trazer melhorias estaremos presentes, independentemente de estarmos a falar de um autarca com um protagonismo muito acima da média. Não deixaremos de criticar o que é criticável, e de reconhecer o que é para reconhecer, mas também não deixamos de trabalhar em prol dos portugueses. Não temos problemas nenhum em lutar contra moinhos, e de eventualmente vir a perder o que quer que seja, pois acreditamos que aquilo que estamos a apresentar melhora a vida das pessoas.O caminho para obter votos dos oeirenses passa por aquilo que se lia num cartaz da IL, por sinal retirado pela Câmara horas mais tarde: Isaltino não é inevitável? Em nenhum momento atacámos o homem. Não é a nossa forma de estar na política e não é o que fazemos, mas a todo o momento criticamos o que está errado na política local: o despesismo e a falta de controlo, informação e transparência da Câmara de Oeiras nas contas. Exigir contas certas não é um fanatismo ideológico. É muito simples: se as contas não estão certas, basicamente estamos a deixar dívidas para os nossos filhos e os nossos netos. Queremos garantir que não lhes dizemos: “Vocês ainda não começaram a trabalhar, mas vão ter que pagar o edifício da câmara, que foram não sei quantos milhões.” Isaltino Morais não vê assim e acha que, por ser ele, tudo pode e tudo consegue. Queremos fugir disso e garantir que as contas são apresentadas com transparência, auditadas e que os oeirenses farão a sua análise. Mas em nenhum momento atacamos o homem. Ele gosta de se vitimizar e assim fez com esse cartaz, dizendo que era um ataque pessoal ao seu passado [o cartaz tinha uma foto do autarca, a acender um charuto, com a pergunta “Confiaria as contas da sua casa a este homem?”]. Longe disso: Isaltino Morais foi a votos e foi eleito. Sou um democrata e aceito sempre o que o povo escolheu. Fez a sua decisão, posso criticar mais ou menos, mas aceito sempre a decisão do povo. A vida pessoal de Isaltino Morais não nos diz respeito. Criticamos, sim, a sua atuação na Câmara de Oeiras.Na campanha eleitoral está preparado para criticar também os partidos de oposição que aceitaram pelouros em Oeiras?Não há oposição, o que achamos ser um dos grandes problemas de Oeiras. Queremos ter o papel de uma oposição construtiva. Eventualmente, até Isaltino Morais quer essa oposição, para que possa ter contraditório. Quando Mariana Leitão era a representante da IL na Assembleia Municipal de Oeiras foi notório e mesmo mediático o tom confrontacional com Isaltino Morais. Imagina-se a ter o mesmo tipo de disputas nas reuniões de vereação?O tom da Mariana, e agora o tom da Anabela [Brito], que a substituiu, é sempre confrontacional, mas no sentido de criticar o que está errado e trazer o valor acrescentado da nossa visão do que é correto. Cada um terá a sua forma, a Mariana tem a sua, a Anabela tem a sua, eu tenho a minha, mas iremos sempre apontar o que está errado e o caminho que deve ser o correto, na nossa visão. Seja em coisas tão simples como bilhetes gratuitos, seja em problemas de habitação e mobilidade no concelho, seja em questões fiscais e de investimento, iremos sempre fazer essa crítica.Vai contar com Mariana Leitão para a campanha autárquica em Oeiras? Sim, a Mariana é de Oeiras. Contamos claramente com o seu apoio durante a campanha.Mas não para voltar a ser candidata à assembleia municipal?A Mariana está a fazer outros voos. Está a candidatar-se à presidência do partido, está como deputada na Assembleia da República. Não faria sentido estar envolvida nas listas locais.Oeiras é ou não provavelmente um dos concelhos portugueses em que será mais fácil encontrar eleitores que compreendam os argumentos da IL? É o sítio onde é mais fácil encontrar quem entenda a nossa visão para o futuro, é o concelho que eventualmente terá mais condições para implementar medidas liberais, e é isso que queremos trazer para Oeiras, que tem espaço para libertar muito mais o IRS. Entendemos que o dinheiro tem que estar no bolso das pessoas, são elas que melhor sabem o que fazer com esse dinheiro. Oeiras não deixa de ter problemas graves de transportes, que não estão a ser vistos de forma correta, e também de habitação.Partindo do princípio que é eleito vereador, tem esperança de convencer Isaltino Morais que ele é liberal e não o sabia? Isaltino é liberal em muitas coisas e não quer assumir, diria eu. Vem mais da linha da social-democracia, mas acredito que tem rasgos de liberalismo. Está agarrado à social-democracia, mas se tiver alguém que lhe contraponha as ideias liberais, acredito que estará mais aberto a que sejam implementadas.